Inspecções laboratoriais estão a travar bens alimentares no porto de Luanda e a situação começa a ser caótica.

As exportações portuguesas de bens alimentares para Angola estão a ficar retidas no porto de Luanda, devido às inspecções laboratoriais que passaram a ser exigidas pelas autoridades daquele país para que os produtos possam entrar no circuito de comercialização. “A situação começa a ser caótica” e os preços praticados por este serviço “são exorbitantes”, afirmou ao Negócios uma fonte do sector portuário.

 
Angola pronta a receber empresas insolventes

O governo angolano “tem em operacionalização um programa de deslocalização das empresas da Europa para Angola”, abrangendo países como Portugal, Espanha e Itália, afirmou na segunda-feira a ministra da Indústria de Angola, Bernarda da Silva, citada pela agência Lusa. A governante fez esta declaração no encerramento da conferência “Oportunidades de Negócio e Parcerias Luso-Espanholas com Angola”, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. “Nestes países existem unidades industriais tecnologicamente actualizadas, mas infelizmente, no contexto económico actual, sem mercado para os seus produtos”. Face a um cenário de insolvência, a deslocalização para Angola “pode ser uma boa solução”, defendeu a ministra.
Em 2012, as exportações portugueses para Angola cresceram 28,6%, situando-se nos 2,9 mil milhões de euros, com os produtos alimentares a situarem-se em segundo lugar entre os produtos mais vendidos, totalizando os 675 milhões de euros.Os problemas com as exportações portuguesas, e que será também extensiva a empresas de outras nacionalidades, começaram a tornar-se flagrantes há cerca de mês e meio, a partir do momento em que o Serviço Nacional de Alfândegas (SNA) entregou à empresa angolana Bromangol a responsabilidade da fazer análises a todas as mercadorias destinadas a consumo humano.

Além da pouca eficácia da Bromangol, os exportadores queixam-se dos preços praticados por esta empresa para fazer as suas análises. Assim, a inspecção de contentor de bens alimentares custa 1.500 dólares (1.154 euros), enquanto a de um contentor frigorífico sobe para os 7.400 dólares (5.696 euros, ao câmbio de segunda-feira).

Em Portugal, a análise e certificação de um contentor frigorífico fica por pouco mais de 200 euros. Sílvio Burity, director-geral do SNA, citado na edição do “Jornal de Angola” de 19 de Março, admitiu que estão a existir dificuldades para aplicar os novos métodos de inspecção e que os importadores se mostram críticos em relação a este processo, precisamente por causa dos encargos que resultam das análises laboratoriais.

Produtos começam a escassear

Carlos Bayan Ferreira, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, contactado pelo Negócios, diz ter conhecimento “de alguma perturbação”, mas acredita que esta situação é transitória. O assunto “está a ser resolvido e não acho que seja nada de grave”, disse Carlos Bayan Ferreira. A actual situação, segundo relatou outra fonte ao Negócios, começa inclusive a fazer com que haja escassez de determinados bens à venda no comércio angolano. Além disso, como os produtos estão a ficar retidos por um período longo no porto de Luanda, acabam por chegar ao consumidor com um prazo de validade mais reduzido, acrescenta o mesmo interlocutor. Acresce um outro problema. Os importadores dos bens alimentares nacionais acabam por pagar duas vezes o mesmo serviço, dado que são realizadas inspecções sanitárias tanto em Portugal como agora em Angola.

Fonte: Negócios

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