As grandes empresas nacionais recuperaram, no último ano, uma forma de financiamento popular. Vedado o acesso aos mercados e à banca, apostaram na obtenção de crédito junto dos pequenos investidores, com emissões no retalho. 

As operações foram um sucesso, mas tiveram encargos elevados. Uma emissão com um juro de 6,85% pode custar à empresa uma taxa anual próxima dos 8%. A factura total supera os 500 milhões de euros. A Mota-Engil foi a última a recorrer ao retalho para obter crédito. Tal como nas outras nove operações realizadas desde o final de 2011, a procura pelos títulos superou largamente a oferta. Um reflexo do elevado juro oferecido aos investidores (6,85%) numa altura em que os depósitos começaram a pagar taxas reduzidas. A solução permitiu o acesso ao financiamento, mas a preços elevados. As 10 empresas vão gastar 527 milhões com estas operações. Só em juros, ao longo dos próximos anos, serão pagos 476 milhões. A estes custos, inerentes a qualquer crédito, há que somar outras despesas suportadas pelas empresas por se terem apoiado na rede da banca para venderem os títulos. As instituições ficam com uma percentagem do montante a colocar, que varia entre os 1,4% do valor da emissão da PT e 4,1% do Porto. Esta comissão é dividida pelos bancos que recebem em função do montante colocado junto dos seus clientes. Nestas emissões encaixaram 50 milhões, com o BPI à cabeça. E somam-se, depois, as comissões cobradas aos investidores. Há ainda que juntar os custos das empresas com consultores e com as campanhas de divulgação das operações, no valor de 1,2 milhões. A factura com a admissão à negociação destes títulos ao mercado são mais 30 mil euros.

Custos puxam pelas taxas

Tudo somado, os encargos das cotadas somam quase um quinto do montante total de 2,28 mil milhões angariado no retalho. E fazem aumentar o custo real do financiamento para as empresas, ainda que as taxas oferecidas representem grande parte deste “bolo”. As empresas ofereceram taxas de juro de 6% a 7%, chegando aos 8,25% no caso da SAD do Porto. No caso deste último, incluindo as comissões pagas à banca, o custo anual chega aos 10%. Logo atrás, surge a Semapa que, dos 6,85% com os juros, apresenta um encargo anual de 8%, com toda a operação. Já na PT a diferença é curta: de 6,25% passa para 6,61%. No total, as empresas ofereceram juros médios ponderados de 6,47%. Juntando os restantes encargos associados, a taxa sobe para 7,19%.

Juros começam a baixar na banca

As emissões de dívida no retalho estiveram em grande destaque nos primeiros três trimestres do ano passado. Contudo, com a queda acentuada do risco da dívida de Portugal, o prémio exigido às empresas baixou, levando algumas a arriscar emissões no mercado. A “onda” começou ainda no final do ano passado com a EDP. Numa segunda fase avançaram os bancos: BES e CGD.A obtenção de financiamento a custos mais baixos no mercado, mas também o acesso a liquidez barata junto do BCE, levou, ao mesmo tempo, os bancos a baixarem os juros às empresas. Os dados mostram que a taxa cobrada nos empréstimos com prazos entre um e cinco anos caiu de 5,28% em Março de 2012 para os actuais 5%. Um valor, ainda assim, acima da média da Zona Euro, que está nos 3,29%.

Fonte: Negócios

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