As exportações portuguesas de vinho ultrapassaram no ano passado, pela primeira vez, os 700 milhões de euros. É já o resultado da estratégia dos grandes produtores para fugir à crise do mercado interno – aposta forte em mercados fora da Europa, como Canadá, EUA, Brasil, Angola, China e Rússia.
De acordo com dados do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), as vendas de vinho (incluindo os licorosos) para fora de Portugal somaram 704,8 milhões euros em 2012, mais 7,1% do que no ano anterior. Em volume, as exportações aumentaram 8,8%, totalizando 3,35 milhões de hectolitros.

As exportações estão a crescer há três anos consecutivos em todas as categorias, quer em volume, quer em valor, apesar da quebra dos preços (-1,5%). Isso acontece “muito graças ao investimento feito na promoção nos mercados fora da Europa, onde as exportações estão bastante fortes e a crescer”, confirma ao DN/Dinheiro Vivo Frederico Falcão, presidente do IVV. Canadá, EUA, Brasil, Angola, China, Rússia, Suíça e ainda numa série de países como México, Moçambique ou Japão são muitos exemplos do sucesso dos vinhos portugueses.

E são também os três clusters prioritários de exportação da Adega de Borba. “O primeiro é o Brasil e Angola, onde Portugal tem maior quota de mercado de vinhos e onde existe uma maior oportunidade”, explica Manuel Rocha, CEO da adega, que produz o vinho Montes Claros. No cluster do Reino Unido, Alemanha e EUA, as dificuldades estão no mercado inglês e alemão. “As cadeias de supermercados fazem muita pressão para obter preços baixos”, ao passo que “os EUA, com um consumo per capita a crescer, é mais ‘simpático’, também por causa das comunidades portuguesas de imigrantes”, destaca .

No terceiro cluster estão a China e a Rússia, ambos mercados “com maior potencial e futuro, onde apostamos todos os recursos”, frisa o CEO da Adega de Borba. Os produtores nacionais “estão muito concentrados em Xangai e Pequim e se aí tiverem sucesso são muitos milhões de consumidores. Mas há outras cidades mais pequenas também importantes”, frisa. Por isso, “mais do que defrontar os maiores produtores do mundo, que têm milhões para investir nesses mercados, é ir apostar com imaginação em regiões de nicho.”

Apesar de as vendas na China terem ainda pouca expressão quando comparadas com outros mercados, os prémios aí conquistados por produtores nacionais são sinal de grande aceitação do vinho nacional, defende Kelly England, presidente dos China Wine & Spirits Awards (ver entrevista aqui). Embora o mercado europeu continue a ser o principal destino do vinho português em volume (55% do total), os chamados países terceiros (fora da Europa) estão a crescer, já representando 42% em valor do vinho exportado, contra 37% em 2010.

Levar este trabalho de exportação por diante “não é fácil”, diz Manuel Rocha. E quais são as principais dificuldades? Desconhecimento de Portugal como país produtor de vinho – “o vinho do Porto é o mais conhecido e apenas por um consumidor envelhecido” – e enfrentar concorrentes de peso, como Espanha, Itália e França, a quem se juntam a Califórnia, Chile, Argentina, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália.

No entanto, “porque mais de uma centena de produtores estão comprometidos em aproveitar todas as oportunidades com propostas de alto valor na relação preço-qualidade e vinhos diferentes, não tenho dúvida de que a quota de vinho português vai crescer”, diz Manuel Rocha. O mesmo otimismo tem Frederico Falcão, que acredita num crescimento das exportações de 10% ao ano.

Fonte: Dinheiro Vivo

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