Malparado atinge novo máximo no crédito a particulares. Em Janeiro, 90% dos novos financiamentos foram concedidos às empresas. Famílias absorvem menos que o Estado

Taxa de desemprego em máximo histórico, enorme aumento de impostos e redução do rendimento disponível retratam o cenário que impede as famílias de cumprirem o pagamento dos créditos à banca.

No final de Janeiro, os empréstimos dos particulares em cobrança duvidosa atingiram 5138 milhões de euros, o equivalente a 3,85% do total de financiamento concedido. Este é, de longe, o montante mais elevado de sempre.

Entre as empresas, o incumprimento voltou a aumentar para 10 291 milhões de euros, ainda assim abaixo do pico histórico registado em Novembro do ano passado.

No total, entre famílias e empresas, os bancos já contam com quase 15,5 mil milhões de euros em crédito incobrável, o correspondente a 6,46% do total de empréstimos concedidos.

O aumento do crédito malparado entre as famílias e as empresas não é uma tendência nova, mas cresce de dimensão mensalmente. As estatísticas divulgadas ontem pelo Banco de Portugal mostram que as famílias portuguesas entraram no período mais negro desta crise. Os incobráveis estão, em todos os segmentos de crédito, no nível mais elevado desde que há dados, Dezembro de 1997.

A habitação é, regra geral, o último crédito que as famílias deixam de pagar, quando confrontadas com dificuldades financeiras. Depois de dois meses estável, o incumprimento acelerou para 2,07%, uma taxa nunca antes vista. No consumo, a cobrança duvidosa ultrapassou os 12% pela primeira vez, enquanto o financiamento para outros fins – como educação – está apenas a um ponto base dos 12%.

Nas empresas, a situação mais dramática registou-se em Novembro, quando tocou nos 10,16%. Em Dezembro, o malparado recuou para 9,43%, com muitas empresas a beneficiar do ligeiro aumento do consumo privado, reflexo do ímpeto consumistas dos portugueses no Natal. Em Janeiro, o malparado voltou a crescer ao fixar-se nos 9,74%, ou 10,29 mil milhões. A recessão económica agrava a saúde financeira das empresas, o que culmina em recorde de falências e insolvências.

O aumento do incumprimento pressiona os resultados do sector bancário, dada a necessidade de constituir provisões para absorver potenciais perdas. Uma pressão que tem reflexos na economia real, com as instituições a restringirem os novos empréstimos, dado o maior risco que representam para a sua actividade.

O financiamento concedido à economia real subiu em Janeiro para 5,2 mil milhões de euros, o montante mais elevado desde Julho de 2012 e um acréscimo de 495 milhões face a Dezembro. No entanto, esta evolução deve-se apenas às grandes empresas, que apresentam um aumento mensal de mais 845 milhões de euros. As pequenas e médias empresas sofreram uma redução de 22 milhões nos novos financiamentos. No total, o segmento empresarial absorve 90,2% do crédito dado pela banca. Para as famílias a banca destinou apenas 512 milhões, menos do que o valor investido em títulos do Tesouro (614 milhões).

Fonte: Jornal i

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