Douglas Renwick diz que o cumprimento do programa de ajustamento e a assistência dos parceiros europeus é mais relevante para o “rating” de Portugal do que o regresso do País aos mercados.

“Não é uma preocupação primordial da Fitch, de um ponto de vista do “rating”, que Portugal e Irlanda regressem ao mercado plenamente, mas sim o cumprimento do programa de ajustamento e a assistência dos parceiros europeus”, diz Douglas Renwick, director sénior da Fitch Ratings. Ainda assim, é “positiva” a descida das taxas de juro e as iniciativas de emissão de dívida no mercado.

Durante uma conferência organizada pela Fitch Ratings, em Lisboa, o responsável afirmou que Portugal tem “rating” especulativo, que Espanha não tem, em grande parte pelo nível elevado de dívida pública.

“Positivo para o ‘rating’ de Portugal é o apoio europeu, o consenso em torno do cumprimento do programa, mas o nível elevado de dívida pública é o factor determinante” para justificar a notação financeira em grau especulativo.

A Fitch foi a segunda entre as três principais agências a cortar o “rating” de Portugal para território “especulativo” (“lixo”), no Verão de 2011.

Renwick acredita também que “passámos o pior em Portugal, no que diz respeito ao cenário-base da Fitch”. “Há razões para acreditar que os riscos estão mais equilibrados, sobretudo depois do OMT”, o programa definido pelo BCE para comprar dívida pública dos países do euro.

“A redução da despesa tem sido em linha com o esperado, os riscos continuam no entanto a pender para o lado negativo, pelo lado do crescimento”, acrescentou. Entre os pontos mais negativos sobre Portugal, o responsável da Fitch cita o crescimento da economia, mas até considera que Portugal pode surpreender pela positiva.

“Seria insensato subestimar o compromisso político dos líderes europeus” na resolução da crise

Portugal fez no mês passado a primeira emissão de dívida de longo prazo desde que solicitou ajuda externa, o primeiro passo para deixar de depender do financiamento da troika.

“O rating não depende de Portugal recuperar o acesso ao mercado este ano. Se as coisas piorarem na Zona Euro, esperamos uma continuação do apoio, sem reestruturação da dívida”, afirmou Renwick, acrescentando que poderá ser um risco “positivo” que exista mais alívio do fardo da dívida, nomeadamente através do aumento das maturidades dos empréstimos concedidos pelas autoridades europeias.

“Não é o nosso cenário-base que a Zona Euro se desmembre, nem mesmo que algum país abandone a união monetária. O OMT ajudou a que os investidores tenham menos receio de redenominação dos seus activos, o risco financeiro diminuiu”, reforçou, na conferência que decorre esta manhã em Lisboa.

“Seria insensato subestimar o compromisso político dos líderes europeus” na resolução da crise, “mas não diria que esse compromisso é ilimitado” e “quanto mais a recessão se agrava, maior é o risco de que os responsáveis políticos se sintam tentados a mudar o rumo”, reconhece.

Os pontos que a agência vai acompanhar de perto são “acima de tudo, o crescimento”, que a Fitch espera que recupere um pouco na segunda metade do ano; o “financiamento do mercado, sendo que o OMT retirou muita da tensão no mercado, ainda que existam ainda questões acerca desse programa”; e, finalmente, a “política europeia”, sublinhando a importância da União Bancária.

As eleições na Alemanha, em Setembro, são um dos momentos-chave para a Fitch em 2013, bem como a situação no Chipre, que deverá ser “resgatado até Junho, nos mesmos moldes que outros países”. A Fitch diz que, apesar da pequena dimensão do Chipre, os líderes evitarão novas reestruturações de dívida.

Fonte: Negócios

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