No mundo das poupanças, o conceito de segurança já não é o que era! Mas se for prudente e estiver bem informado, o seu dinheiro estará certamente mais protegido.

A segurança é um aspeto muito importante e constitui, com justiça, uma das preocupações centrais dos investidores. Mas em que consiste? Muito certamente não terá o mesmo significado para todos, mas pode dizer-se que a segurança se traduz na garantia de o investidor recuperar a totalidade do dinheiro aplicado. Um “investimento seguro” será aquele em que pode não haver grandes ganhos mas, pelo menos, também não há perdas.

É o que acontece, por exemplo, quando se deposita o dinheiro num banco. Ao fazê-lo, estabelece-se um contrato entre o investidor e a entidade bancária, que assume o compromisso de proceder ao reembolso de todo o dinheiro depositado. Ao invés, quem investe em ações sabe que não existe certeza sobre a evolução futura das cotações. Tudo o que pode fazer é uma análise das perspetivas da empresa. O investidor não sabe quanto vai ganhar (risco de rendimento) e se as cotações caírem, terá de assumir as perdas (risco de capital). Por isso, também se diz que um investimento é arriscado quando, de um momento para outro, o seu valor pode sofrer grandes alterações.

Também é importante não esquecer que a segurança da aplicação pode ser afetada mesmo quando o valor do reembolso final está garantido. Por exemplo, se precisar do dinheiro antes do prazo definido pelo produto financeiro, pode ter a desagradável surpresa de não poder mexer no capital, suportar custos ou ser forçado a resgatar ou vender por um valor mais baixo do que o investido. Estas limitações denominam-se risco de liquidez.

Da teoria à prática

O facto é que a realidade é mais complexa e os níveis de segurança/risco dos produtos financeiros nem sempre são claros. Além disso, mesmo assumindo uma definição de segurança mais consensual, há produtos que resultam da combinação de características de outros criando áreas cinzentas e uma crescente complexidade nas decisões de poupança e investimento. Mas a resposta a estes obstáculos não passa pelo conformismo. Pelo contrário, deve optar por uma posição de maior prudência e munir-se de mais informação. Para ajudá-lo a ficar mais bem preparado ordenámos e descrevemos os principais tipos de produtos financeiros do ponto de vista do risco. No entanto, tenha em atenção que, pelos motivos que referimos, trata-se de uma simplificação. É impossível abordar integralmente nestas páginas todas as nuances e particularidades. Sempre que tiver dúvidas contacte-nos telefonicamente (808 200 147) ou via eletrónica através dos formulários disponíveis no portal financeiro. (deco.proteste.pt/investe)

Certificado pelo Estado

Entre os produtos financeiros mais seguros encontramos dois instrumentos da dívida pública, os Certificados de Aforro (CA) e os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM). O pagamento dos juros e o reembolso do capital estão garantidos pela República Portuguesa. Apesar da desconfiança de alguns portugueses, o Estado é a instituição nacional financeiramente mais sólida pois possui como ativo, pelo menos, o valor de todos os impostos futuros.

No entanto, CA e CTPM falhariam parcialmente se fossem observados sob o prisma do risco de liquidez. Em nenhuma circunstância pode resgatar os CA durante os primeiros três meses e os CTPM durante o primeiro ano após a subscrição. De que lhe servirá a segurança se precisar do dinheiro com urgência? E nos CA, após os primeiros três meses, também se desconhece os juros que irão proporcionar, logo estão sujeitos ao risco de rendimento. Na prática, acaba por ser pouco relevante porque os aforradores sabem que vão ganhar alguma coisa e até têm uma ideia aproximada de quanto será, embora não tenham a certeza do valor. Nesta perspetiva até os CA e os CTPM possuem pequenas “falhas” de segurança.

Depósitos a “sério”

Não muito distantes dos certificados, encontramos os depósitos a prazo. Ao constituir um depósito estabelece um contrato entre si e a entidade bancária, que lhe garante o reembolso de todo o dinheiro investido acrescido de um juro que, por norma, é fixado à partida. Muitos depósitos também podem ser mobilizados a qualquer momento, não existindo risco de liquidez. Não obstante, as exceções à regra multiplicam-se. Os bancos já oferecem muitos depósitos, cujo capital apenas pode ser reembolsado no final do prazo e cujo rendimento depende de complexas fórmulas de cálculo. Todos os depósitos têm a garantia contratual de reembolso do capital, mas dependerá sempre da capacidade financeira do banco. Em caso de incumprimento entra em ação o Fundo de Garantia de Depósitos (FGD), que protege até ao máximo de 100 mil euros por depositante e por banco. O aforrador deve estar muito atento, pois a prática mostra que outros produtos financeiros são propostos como alternativas aos depósitos quando estão longe de oferecer garantias minimamente idênticas. Exija a documentação do produto e confirme se existe uma referência à cobertura do FGD, a qual é exclusiva dos depósitos.

Seguros? Mais ou menos

Em seguida, na escala de risco, podemos referir os seguros de capitalização. Trata-se de produtos financeiros geridos por seguradoras, mas vendidos também pelos bancos. Tradicionalmente, estes seguros têm o prazo de oito anos, garantem o capital aplicado e definem um nível de remuneração. Trata-se de uma garantia contratual, mas depende sempre da capacidade financeira da seguradora para assumir esse compromisso. Neste aspeto, é idêntico a um depósito no banco, mas com uma colossal diferença: não existe um mecanismo legal de salvaguarda como FGD! Além dessa desvantagem, muitos dos seguros trazem cláusulas que penalizam bastante os regastes antecipados, ou seja, antes de decorridos os oito anos. Na eventualidade de precisar do dinheiro antes do vencimento, e existirem comissões muito elevadas, pode acabar mesmo por receber menos do que investiu.

A dívida dos outros

As obrigações são produtos cujo emitente se compromete a pagar juros periodicamente e a reembolsar o capital ao investidor na data de vencimento. A segurança depende, por isso, da capacidade financeira da entidade que lança as obrigações. Em Portugal este mercado está pouco desenvolvido e, além das Obrigações do Tesouro do Estado, há poucas emissões de entidades privadas disponíveis para os pequenos investidores. Os exemplos mais recentes foram as obrigações emitidas pelas SAD do Benfica, Porto e Sporting (saiba mais sobre as obrigações nas páginas 16 e 17). Aplicar num único emitente privado pode ser tão, ou mais, arriscado como investir em ações. Mas, mesmo que a entidade seja sólida e cumpridora, há o risco de liquidez. Por exemplo, se levantar um depósito antes do final do prazo sabe que irá reaver o capital, mesmo que perca os juros. Nas obrigações, se o investidor precisar do dinheiro antes do vencimento terá de vender os seus títulos em bolsa. Ora, o preço a que será efetuada essa transação depende das condições do mercado, não havendo garantias que seja feita por um valor que compense o capital inicialmente investido.

Fundos, um risco conhecido

Os fundos de investimento são tipicamente mais arriscados se considerarmos a definição tradicional de segurança. Os fundos são gigantescas carteiras de investimento constituídas por ações, obrigações, outros fundos, depósitos, produtos derivados, entre outros. Quem subscreve o fundo, torna-se participante e passa a deter uma pequena parcela dessa carteira, cujo valor oscila ao sabor das bolsas. Logo, o rendimento é bastante incerto e não há garantias de que possa reaver o capital aplicado no momento que decide resgatar. O nível de oscilação (risco) é essencialmente determinado por aquilo que o fundo detém em carteira. Assim, um fundo que tenha uma carteira composta por ações de empresas cotadas em bolsas emergentes apresenta maior risco do que outro de obrigações que se dedique a investir na dívida pública das mais sólidas economias mundiais. Mas sob outro prisma, os fundos de investimento oferecem uma segurança acrescida.

A carteira do fundo é um património autónomo. Não é propriedade da entidade gestora nem do banco depositário, pelo que os ativos do fundo não são afetados mesmo que a gestora ou banco comercializador enfrentem dificuldades. É claro que em caso de fraude grave por parte dessas entidades, essa separação patrimonial também pode ser abalada. Nessa eventualidade, o Sistema de Indemnização ao Investidor pode cobrir prejuízos até 25 mil euros.

Ações: o valor das empresas

O investimento direto em bolsa pode ser muito rentável, mas mesmo as melhores estratégias têm resultados incertos. Na maioria dos casos, pode reaver o dinheiro a qualquer momento, bastando para tal vender as ações, mas nunca há garantia do valor realizado ser superior ao montante aplicado na compra. Cada ação tem o seu próprio nível de risco associado à atividade da empresa, mas um conjunto diversificado de ações (uma carteira) propicia um risco menor. Ou seja, as perdas de uns títulos tenderão a ser compensados com os ganhos de outros.

Quanto à separação patrimonial, tal como as unidades de participação dos fundos, as ações pertencem ao investidor embora estejam à guarda de uma entidade financeira.

É derivado? Fique afastado!

No campo dos investimentos, os ganhos mais elevados tendem a ser possibilitados pelos derivados warrants futuros, opções, CFD, Forex, entre outros.). Embora com complexidade variável, a negociação destes produtos pode gerar ganhos consideráveis em pouco tempo correndo naturalmente o risco de perder todo o dinheiro, por vezes, em alguns minutos. Há mesmo produtos em que pode ter prejuízos superiores ao montante investido! Se transacionados em períodos muito curtos, os produtos derivados não se afastam muito de um simples jogo de sorte/azar. Embora os derivados possam ser úteis no âmbito de estratégias mais sofisticadas, a esmagadora maioria dos investidores deve permanecer afastado deste tipo de produtos.

Garantia para os seguros

Há muito que a PROTESTE INVESTE exige a criação de um verdadeiro mecanismo de proteção para quem coloca as suas poupanças em seguros financeiros. Atualmente, não existe uma rede de segurança que seja externa às próprias seguradoras. É essencial que o Governo crie um Fundo de Garantia para os seguros semelhante ao que existe para as contas de depósito junto dos bancos. É essencial prevenir antes que venham a surgir problemas.

“Será que o meu banco é seguro?”

Esta começa a ser uma dúvida frequente dos portugueses, mas enquanto investidor não deve constituir a sua principal preocupação. Hoje em dia, é a escolha do tipo de produto financeiro que assume maior importância quando se trata da segurança das suas poupanças. A solidez do seu banco é importante, mas tem uma influência relativa no que pode acontecer ao seu dinheiro. Os últimos anos mostraram vários exemplos: o BPP faliu, o BPN foi nacionalizado e o BES alvo de uma resolução, mas o património dos depositantes foi sempre salvaguardado.

Naturalmente, muitos clientes que tinham investido através destas instituições não eram somente depositantes. Mas o facto grave é que, entre eles, um número considerável desconhecia o tipo de produto que detinha e, por consequência, qual o risco a que estava exposto na realidade. Os bancos vendem diversos tipos de produtos e serviços, atuando, por vezes, apenas como intermediários. E como os interesses comerciais tendem a falar mais alto, os clientes têm de estar atentos à pertinência das “propostas”. Veja-se o caso do BES e a venda de dívida do grupo Espírito Santo. Já existe legislação que pode proteger mais os investidores, mas sem uma supervisão eficaz das entidades competentes como o Banco de Portugal, os bancos não têm muitos incentivos para ser rigorosos na sua aplicação.

Fonte: Negócios

Comentários

comentários