E agora? Os deputados cipriotas rejeitaram a proposta de taxação dos depositantes. Uma intervenção russa pode ser a solução. Até lá, os bancos vão continuar encerrados.

Desta vez, os europeus disseram “não”. Pela primeira vez, um parlamento chumbou um programa de resgate europeu desenhado por Bruxelas. Ontem, os deputados cipriotas votaram massivamente contra a proposta de taxar os depositantes da ilha, criando um gigantesco ponto de interrogação em torno do futuro do Chipre e da Zona Euro. O desfecho começou a tornar-se claro à medida que o dia avançava, com o recém-eleito presidente Nicos Anastasiades a dizer que não tinha os votos suficientes para aprovar a medida, que taxaria todos os depósitos acima de 20 mil euros. O resultado foi esmagador: às 18h20, dos 56 deputados cipriotas, 36 votaram contra e 19 (do partido do governo) abstiveram-se. Fora do Parlamento, centenas de manifestantes aplaudiram uma resolução apoiada por 70% do país. E agora? Essa é a pergunta que está na boca de todos os analistas e responsáveis europeus. Na prática, e muito no curto prazo, significa que os bancos cipriotas vão continuar encerrados até á próxima terça-feira– com um impacto difícil de quantificar na economia – e que o país e o seus sistema financeiro continuarão sem o financiamento de que precisam. Mais: governo, Comissão Europeia e Banco Central Europeu regressam à estaca zero e à mesa de negociações.Nas próximas semanas existem quatro caminhos possíveis. Num primeiro, a rebeldia cipriota dura pouco tempo e, confrontados com a insolvência ou mesmo a saída do euro, os deputados aprovam o programa de resgate. Outra hipótese é Bruxelas e Berlim recuarem, propondo um novo pacote menos duro, que seja mais fácil o governo vender ao parlamento.

Segundo o “think tank” Open Europe, entre a confusão de cenários, um vai emergindo com mais força: Moscovo avançar com um novo empréstimo bilateral ou a celebração de um acordo com a Gazprom, que reestruturaria os bancos cipriotas em troca dos direitos de exploração do gás natural (o ministro das Finanças do Chipre reúne-se amanhã com o governo russo). Por último, a hipótese de fim da linha: a Europa e o BCE retiram os apoios ao Chipre e o país entra em insolvência e possivelmente acaba por abandonar a zona euro.Para já, o BCE tentou acalmar esses receios, reafirmando “o seu comprometimento em providenciar a liquidez necessária dentro das regras existentes.” O papel do BCE será decisivo nos próximos dias. O banco central terá sido decisivo no último Eurogrupo, ameaçando o presidente cipriota com a retirada do apoio aos bancos do país, caso este não aceitasse o imposto sobre os depósitos.Minutos depois, o ministro das Finanças austríaco avisava que uma falência é pior do que um impostos sobre as poupanças, enquanto o seu homólogo luxemburguês pediu a convocação de uma reunião de emergência do Eurogrupo. Por outro lado, o governo grego, frisou que está ao lado do Chipre. O porta-voz do governo disse que “apoiava e apoia as escolhas do Chipre”. De Berlim, a mensagem é clara: sem imposto, não há resgate. O vice-líder de banca do partido de Angela Merkel reagiu ontem, dizendo à Bloomberg que esta rejeição do programa por parte do Chipre é “a sua decisão” e que, sem as condições estarem cumpridas, a Alemanha não apoiaria do resgate.A situação é inédita, numa crise em que, diversas vezes, democracia e austeridade chocaram de frente. Os desenvolvimentos de ontem parecem reunir os ingredientes para uma batalha em torno de quem pisca primeiro os olhos.
Quatro cenários para o futuro do Chipre O ‘think tank’ Open Europe aponta quatro caminhos para o Chipre.

Nova votação
Bruxelas e Berlim aceitam fazer pequenas alterações à proposta de imposto e pressionam o parlamento cipriota a votar outra vez. A possibilidade de saída do euro, leva os deputados a aprovarem a medida.

Europa pisca os olhos
O medo funciona para os dois lados e Berlim e Bruxelas podem temer que uma saída do Chipre da Zona Euro provoque um efeito de contágio difícil de controlar. Pode surgir uma nova proposta mais favorável aos cipriotas.

“Outros planos”
O presidente do Chipre disse ter “outros planos” na mangam referindo-se provavelmente ao papel da Rússia, com um novo empréstimo de Moscovo ou um acordo com a Gazprom.

Chipre entra em insolvência e sai do euro
Nenhum dos lados cede. A Europa recusa um resgate sem estarem cumpridas as condições iniciais e o BCE interrompe o apoio aos bancos do Chipre. O sistema financeiro colapsa e o país entra em insolvência. Neste cenário, a saída do euro pode ser inevitável.

Fonte: Negócios

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