As empresas que fazem negócios além-fronteiras fora da Zona Euro estão expostas a efeitos cambiais. Trata-se de um “efeito oculto” que, muitas vezes, não é levado em conta pelas empresas, mas cujo impacto pode ser determinante nos resultados, podendo de igual forma potenciar as receitas ou os custos, gerando perdas significativas.

As grandes empresas, tradicionalmente, protegem-se desse risco recorrendo a serviços bancários. No entanto as pequenas e médias empresas, devido à sua dimensão, nunca receberam tanta atenção por parte estas instituições, neste âmbito.
A influência que os efeitos das taxas de câmbio podem ter numa pequena ou média empresa depende do preço da moeda nos mercados relevantes, e terá um impacto maior ou menor nos seus resultados, consoante a sua dimensão, a exposição aos mercados externos e a maior ou menor presença de unidades de produção no exterior.

Se olharmos para as contas de 2015 de algumas das maiores empresas do mundo, verificamos que nenhuma delas foi imune a esse “efeito oculto” que pode multiplicar ou subtrair lucros. A Apple, que no ano passado registou receitas de quase 76 mil milhões de dólares, viu o seu volume de vendas reduzido como resultado da desvalorização do real e do rublo russo. O mesmo aconteceu com a Alphabet (uma holding da Google). O seu volume de negócios foi de 74,5 mil milhões de dólares, mas deixou escapar quase mil milhões de dólares, quase o equivalente a 1% do total das vendas, para o efeito cambial.

Todos os setores são afetados por efeitos cambiais. As empresas maiores estão numa posição mais favorável para compensar este impacto através de uma cobertura natural ou efeito compensatório que o facto de estar presente em vários mercados e fornecedores em todo o mundo lhes proporciona. No entanto, para pequenas e médias empresas, que representam a maioria do tecido empresarial de um país como Portugal, o risco que se acumula é notável até porque, na esmagadora maioria dos casos, o salto para o exterior ocorre inicialmente para um país ou para um conjunto reduzido, impossibilitando estas empresas de usufruir deste efeito compensatório.

Além destes constrangimentos próprios de um negócio da dimensão de uma pequena ou média empresa, fatores externos como a decisão da Reserva Federal de começar um ciclo de ajuste monetário subindo as suas taxas de juro de referência pela primeira vez em mais de nove anos, a queda acentuada dos preços das commodities ou as preocupações sobre uma desaceleração económica na China, vão pesar sobre o preço das moedas nos mercados mundiais. A isto há que somar as possíveis intervenções dos bancos centrais para tentar introduzir algum dinamismo às suas próprias economias.

Infelizmente, não há fórmulas mágicas para evitar que as empresas enfrentem estes riscos, mas o que é indesmentível é que a aplicação de uma boa metodologia é seguramente melhor do que ser guiado pelos instintos e reagir de forma exagerada a conjunturas complicadas dos mercados. Uma metodologia que obedeça a um planeamento estratégico das operações com previsibilidade financeira. Essa previsibilidade pode ser alcançada com ferramentas transparentes, simples e acessíveis que garantam um preço certo de conversão da moeda durante um determinado período e cubram a margem esperada.

No final, o segredo do sucesso de uma empresa no exterior não está em aproveitar-se dos mercados financeiros, mas antes em defender-se deles tanto quanto possível, colocando toda a energia no negócio.

Duarte Líbano Monteiro
Diretor Geral da Ebury para a Península Ibérica

Fonte: Económico

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