O presidente da líder mundial do setor corticeiro fala ao Dinheiro Vivo do momento histórico da empresa, ao ultrapassar a fasquia dos 500 milhões de euros de vendas. “A cortiça usufrui hoje de uma notoriedade internacional até aqui nunca vista”, afirma António Rios de Amorim.

A Corticeira Amorim ultrapassou uma fasquia histórica de vendas, os 500 milhões. Isso significa que o momento difícil que o setor corticeiro passou, não há muito, está completamente ultrapassado?

Significa que o setor da cortiça, e em particular a Corticeira Amorim, tem respondido assertivamente aos desafios dos mercados e às contingências macroeconómicas vigentes. A indústria da cortiça – que tem como principal produto a rolha – foi ameaçada ainda no final dos anos 90, com a entrada dos vedantes artificiais. Durante mais de uma década foram feitos grandes investimentos em investigação e desenvolvimento e Inovação com o objetivo de assegurar uma qualidade consistente das rolhas de cortiça e esses investimentos estão agora a dar os seus frutos.

A evolução positiva das exportações de cortiça dos últimos três anos – superior à taxa de crescimento do mercado de vinho – e o reconhecimento dos principais críticos mundiais da performance da rolha de cortiça são fatores que validam a estratégia da Corticeira Amorim, que apresentou pela primeira vez na sua história vendas superiores a 500 milhões de euros.

De referir ainda que a cortiça usufrui atualmente de uma notoriedade internacional até aqui nunca vista. Além da indústria vinícola que identifica a rolha de cortiça como o ‘benchmark’ dos vedantes, este é um reconhecimento que se estende à arquitectura – no último ano a cortiça foi seleccionada como material estruturante do Serpentine Gallery Pavilion, uma obra icónica dos consagrados Herzog & de Meuron e Ai Weiwei -, ao design, aos transportes – em que a cortiça é cada vez mais uma solução de tecnologia de ponta -, entre tantas outras indústrias.

Para o futuro, a Corticeira Amorim continuará empenhada em garantir a qualidade consistente dos seus produtos e a comunicar as robustas credenciais técnicas e de sustentabilidade da cortiça, as principais vias para se assegurar crescimentos em linha com os dos últimos anos.

A guerra aos vedantes alternativos está, então, a ser ganha?
Os sinais do mercado – seja em termos de exportações de cortiça, seja no valor premium reconhecido à rolha de cortiça ou no reconhecimento dos críticos – são muito benéficos para o vedante natural, em detrimento dos artificiais. No entanto, quando falamos em vedantes alternativos, é necessário distinguir os vedantes de plástico – com falhas técnicas evidentes, associados a baixa qualidade e com perdas de quota de mercado contínuas nos últimos anos – dos vedantes de alumínio. Estes usufruem actualmente em alguns países muito específicos, como a Austrália, de uma posição consistente, essencialmente no segmento de vinhos de baixo valor. Mas, mesmo nestes casos, há já sinais concretos de uma inversão de tendência, com algumas caves localizadas no novo mundo vinícola a iniciar movimentos de regresso às rolhas de cortiça natural.

A cortiça tem crescentes utilizações, até ao nível da saúde. Como se potencia esse uso?
Quanto mais I&D fazemos mais surpreendidos somos com as capacidades da cortiça e da sua estrutura celular absolutamente única. No caso das questões relacionadas com a saúde os processos de validação são extraordinariamente longos e complexos. Um orçamento de investigação robusto, uma rede de parcerias com instituições científicas alargada, tendo sempre presente que a I&D tem de estar associada a uma perspectiva de negócio concreto, que preside este esforço de inovação, são os fatores que sustentam a aplicação da cortiça em áreas como a da saúde.

O abastecimento, em termos de matéria-prima, é uma preocupação para Portugal, enquanto líder mundial do setor?
A posição de liderança de Portugal é transversal a toda a fileira da cortiça, sendo que os montados nacionais representam mais de 50% da produção mundial. E o último inventário florestal, recentemente divulgado, demonstra que Portugal tem a mesma área de sobreiros do que tinha em meados da década passada. Esta realidade, conjugada com grandes esforços da Corticeira Amorim e de toda indústria – a que se juntam organizações governamentais e não governamentais -, permitirá reunir condições para manter Portugal na liderança da área de montado de sobro mundial, com uma quantidade muito significativa de cortiça a ser proveniente das florestas nacionais. No que à actuação da Corticeira Amorim diz respeito, a empresa continuará a apoiar activamente iniciativas para avaliação e implementação de melhores práticas relacionadas com o montado de sobro.

A Corticeira Amorim foi obrigada a despedir efetivos quando as vendas caíram. Admite voltar a contratar?
Actualmente, a Corticeira Amorim tem uma estrutura de recursos humanos adaptada às necessidades do mercado. Mas, como qualquer empresa que busca as melhores práticas de gestão, as nossas estruturas de RH são sempre objeto da mais cuidada e rigorosa atenção, com vista à sua permanente optimização aos mais diversos níveis.

As previsões macro económicas foram revistas na última semana pelo Governo e espera-se agora uma recessão de quase 2% este ano. Como é que isto irá condicionar a estratégia da Corticeira? E quando é que acredita que se poderão notar os primeiros indícios da retoma?
A Corticeira Amorim é uma empresa de cariz internacional, que exporta 95% da sua produção para um universo de mais de 100 países. Esta diversificação tem sido fundamental para ultrapassar as diversas contingências macroeconómicas nacionais e internacionais. Em 2013, a empresa estará concentrada nos factores intrínsecos do negócio e nas variáveis que pode controlar, como os esforços contínuos de eficiência operacional, a optimização de rubricas com grande impacto como são as de energia e dos transportes. Este enfoque é válido para todos os mercados incluindo Portugal.

Estamos convictos que Portugal como um todo será capaz de ultrapassar as actuais dificuldades, num processo difícil, que sabemos quando teve início mas será difícil prever quando terminará. O que acreditamos é que no final do processo o país deverá sair mais forte e capaz de alavancar as vantagens competitivas que Portugal e os portugueses constituem.

No seu entender, o que poderia ser feito para melhorar o ambiente de investimento em Portugal?
Sendo indiscutível que, no actual contexto, as exportações são vitais para a saída da crise, será importante disponibilizar às empresas exportadoras o maior sistema de incentivos possível que maximize a sua competitividade face aos players internacionais. Dar continuidade à promoção externa através de campanhas específicas de setores de bens transacionáveis, como a que foi feita recentemente com o setor da cortiça – cujos resultados são amplamente conhecidos e que já se refletem nas exportações – é algo que pode ter uma relação custo/ benefício bastante interessante para o país.

Outro ponto incontornável é a capacidade de Portugal atrair investimento externo. Definir e implementar condições mais atrativas é urgente e necessário. Clima, segurança, dimensão e qualidade da zona económica exclusiva, posição geoestratégica e língua são ativos e fatores críticos de sucesso que importa capitalizar. Para o futuro, é sobretudo necessário encontrar mecanismos que evitem os mesmos erros do passado.

Fonte: Dinheiro Vivo

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