Processo dos Estados Unidos contra a Standard & Poor’s contém mensagens e vídeos de trabalhadores da agência de notação financeira que comprometem a companhia.

Uma investigação iniciada em 2008, sobre a conduta das agências de notação financeira, descobriu que estas eram geridas inapropriadamente e atribuíam notações de “rating” tendo em mente a forma de ganhar mais quota de mercado, segundo noticia a Bloomberg.

Às mãos do governo chegaram vídeos em que dois analistas da Standard & Poor’s dançavam e cantavam canções aludindo a “casas incendiadas”, fruto das avaliações que faziam constantemente. A justiça americana teve também acesso a trocas de emails, de 2007, em que um dos analistas considerava “rídiculo” o modelo utilizado pela S&P para avaliar as CDO (“collateralized debt obligations”), um dos produtos financeiros mais complexos que existiam na altura. Recebeu como resposta que “aqui classificamos todos os produtos financeiros. Poderiam estar estruturados por vacas e nós iríamos” atribuir um “rating”.

As mensagens dos analistas estão entre as comunicações internas da empresa à qual o departamento da justiça americana teve acesso e que estão incluídas no processo que foi interposto esta semana contra a agência de rating. O governo americano reclama que a Standard & Poor’s, levada pelo desejo de aumentar as suas receitas e a sua participação no mercado, defraudou os investidores emitindo classificações e notações financeiras em que ignorava os riscos do mercado. Calcula as perdas geradas em mais de 5 mil milhões de dólares.

A empresa classificou mais de 2,8 biliões de dólares, cerca de 2,07 biliões de euros, em empréstimos imobiliários, segurados apenas por 1,2 biliões de colaterais, entre Setembro de 2004 e Outubro de 2007, segundo o governo americano.

Esta prática era recorrente nas empresas de “rating”, que tinham como principal preocupação ter o maior número de negócios possíveis, para que estes não fossem parar às mãos dos seus concorrentes.

A investigação cita também mensagens dos analistas que diziam “vamos esperar estar ricos e reformados quando esta casa de crédito colapsar”. Para além disso, os analistas compuseram e gravaram vídeos em que cantavam músicas que aludiam para um mercado imobiliário a incendiar-se. Uma delas inspirava-se na canção “Burning Down the House”, dos Talking Heads.

O colapso do mercado imobiliário originou a crise do “subprime” nos Estados Unidos, que originou depois uma recessão na maior economia do mundo e nas principais economias desenvolvidas.

Catherine Mathis, porta-voz da Standard & Poor’s, considerou os vídeos de mau gosto, que reflectem “um terrível sentido de humor, mas que não reflectem o trabalho árduo dos analistas”. Acrescentou também “que os emails foram retirados do contexto, e que contradizem outras evidências, e que não reflectem a cultura e integridade” da actividade da S&P.

“Infelizmente, tal como todas as outras empresas, a Standard & Poor’s não foi capaz de prever a crise, e como o crédito seria afectado com ela”.

Fonte: Negócios

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