Manuel Fernandez de Sousa, presidente da Pescanova, quebrou o silêncio e explicou à imprensa espanhola o que se passou na empresa. O líder de há 35 anos da empresa galega garante que vendeu tudo o que tinha a vender para injetar a liquidez necessária e assumiu o erro de não ter previsto a crise financeira.

“Se tivessemos sabido estimar a crise financeira – passamos de ver crédito em abundância a não ter financiamento – evidentemente que a situação teria sido diferente e a empresa não teria investido tanto”, revelou. O CEO explicou que “o plano de investimentos na aquicultura, com o maior projeto do mundo” foi o responsável pelo “problema de tesouraria” da Pescanova e que, na tentativa de corrigir parte do erro, “estava previsto [no Plano Estratégico] o desinvestimento das quintas de salmão no Chile”.

Foi por isso, explicou Fernandez de Sousa, que decidiu, a 27 de fevereiro, atrasar a apresentação de contas da Pescanova: ou se vendia o investimento no Chile ou “as contas teriam de ser apresentadas de forma diferente para renegociar as dívidas com credores”. De qualquer forma, o CEO afastado da gestão, pelo tribunal, desde que a empresa pediu negociação das dívidas e a Deloitte foi nomeada administradora, duvida da existência do “buraco” de três milhões de euros em dívidas.

“Nem pouco mais ou menos”, assegura. “Pelo contrário, criámos valor para a empresa”, refere Fernandez de Sousa, estimando que os ativos da Pescanova valem “muito mais” do que a dívida apontada e que “com os investimentos realizados a Pescanova pode, nos próximos dez anos, triplicar a faturação”.

Após ter sido acusado de abuso de informação privilegiada (“Se tinha alguma informação era a de que a empresa estava a ir bem”, diz) quando vendeu quase metade da sua participação na Pescanova (“Se assim fosse teria vendido todas as ações”) e de o sindicato Manos Limpias ter pedido que lhe fosse retirado o passaporte por considerar haver risco de fuga (“Todos os dias venho trabalhar e estou ao dispor dos administradores da Deloitte”, garante), Fernandez de Sousa diz que continua a acreditar na empresa.

“Estou moralmente tranquilo e não temo a justiça porque fiz o que fiz o melhor que soube, sacrifiquei a minha vida, a minha família e o meu património pela Pescanova”, rematou.

Manuel Fernandez de Sousa e dois accionistas da Pescanova, José Alberto Barreiras e José Antonio Pérez-Nievas, foram hoje constituídos por delito de uso de informação relevante. Vão ser ouvidos no início de junho num tribunal madrileno, conforme decisão do juiz da Audiência Nacional, Pablo Ruz. A decisão abrange também a Pescanova, como pessoa jurídica, por falsificação de informação económica e financeira.

Fonte: Dinheiro Vivo

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