Descida de salários e aumento da produtividade são as razões que levaram à melhoria do índice de competitividade, indica o Banco de Portugal

O principal indicador de competitividade do país já está em melhor nível que antes do euro. As contas são do Banco de Portugal (BdP) e da Comissão Europeia (CE) que já publicaram dados para o terceiro trimestre de 2012.

Desde o final de 2010, as taxas de câmbio nacional contra os principais parceiros e concorrentes comerciais, ajustada à evolução dos custos salariais e a produtividade, baixou 9% e 7% nas respetivas contas. Estes resultados são apontados como recordes, como avança o Jornal de Negócios.

A taxa de câmbio efetiva (TCE) deflacionada dos custos unitários do trabalho atingiu valores melhores que os registados em 2000, ano em que a moeda única entrou em Portugal.

O choque salarial e de emprego do último ano são as razões apontadas para a explicação desta evolução: salários mais baixos, tanto no público como no privado, e um aumento da produtividade provocada pelo forte aumento do desemprego (menos pessoas para o mesmo trabalho). Os custos unitários do trabalho (CUT) baixaram, assim, cerca de 4% em 2012, colocando o país em posição mais favorável face aos seus concorrentes.

Mas quando são descontadas as diferenças de inflação entre Portugal e os seus principais parceiros comerciais à taxa de câmbio efectiva, os resultados já não são tão positivos. Como Portugal ajustou mais os preços que os CUT, os impatos na capacidade exportadora do País poderão ser mais limitados que os antevistos nos custos do trabalho.

Esta diferença pode não ser anormal, ou seja, se por um lado os preços poderão ajustar com atraso face aos custos das empresas, por outro os aumentos dos impostos indiretos camufla descidas nos preços, como explica o Jornal de Negócios.

Benoît Coeuré, membro da Comissão Executiva do Banco Central Europeu (BCE) destacou na semana passada, em Lisboa, a “desconexão entre o ajustamento dos custos unitários do trabalho e o ajustamento” da inflação em Portugal, considerando que tal “impõe-se que exista uma grande determinação para reduzir as margens de lucro excessivas resultantes de uma concorrência monopolista, em particular em setores protegidos da concorrência internacional”.

Mas este valor ainda não é propriamente positivo. Segundo a análise economista Goldman Sachs, publicada no ano passado, Portugal precisa, para estabilizar a dívida pública que já ultrapassa os 100% do PIB, de ajustar a TCE entre 25% e 35% em relação ao pico atingido em 2005. Segundo as contas do BdP, a evolução da TCE, quando deflacionada pelos CUT, chegou a um recuou de 13%. Por outro lado, a Alemanha deveria contribuir para o reequilíbrio da Zona Euro com uma valorização da mesma ordem, tendo em conta que desde o final de 2010, a TCE alemã, ajustada aos CUT, valorizou 2,5%.

A ideia de um equilíbrio entre o norte e o sul da Europa tem gerado um debate aceso. Se por um lado a CE e o BCE valorizam tanto os ajustamentos significativos entre os países deficitários como os mais ligeiros entre as economias com excedentes na balança externa, seguindo a teoria de Buti e Alessandro Turrini (dois dos economistas mais influentes da CE), por outro Paulo DeGrauwe acredita que “os fardos do ajustamento dos desequilíbrios da Zona Euro entre os países excedentários e os deficitários recai quase exclusivamente nos deficitários da periferia”, como escreveu num artigo recente.

O economista acrescenta ainda que este ajustamento é injusto para os cidadão do sul e contribui para o abrandamento económico da região que recentemente se tem sentido. No fundo, Paulo DeGeuwe afirma que quando os países do norte adoptam políticas expansionistas geram austeridade excessiva na Zona Euro, como explica o Jornal de Negócios.

Fonte: Dinheiro Vivo

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