Líder da multinacional emprestou 9,3 milhões de euros à Pescanova, onde reduziu a sua participação a metade.

Os bancos credores da Pescanova mostram-se disponíveis para discutir a reestruturação da dívida da empresa espanhola mas estão a pressionar a actual equipa de gestão a sair de cena, depois de se saber que o presidente do grupo pesqueiro vendeu metade da sua posição accionista, avançou o jornalExpansión com base no site Europa Press.

Manuel Fernández de Sousa ocultou até segunda-feira ao regulador do mercado de capitais ter reduzido a sua participação para 7,45% entre Dezembro e Fevereiro – antes de serem conhecidos os problemas financeiros da Pescanova, que entretanto se viu obrigada a pedir a protecção de credores para evitar a insolvência.

A venda, equivalente a 31,5 milhões de euros, foi justificada na segunda-feira por Manuel Fernández de Sousa com a necessidade de a empresa receber liquidez. Menos de 24 horas depois, a empresa vem esclarecer que o presidente emprestou, em Fevereiro, 9,3 milhões de euros à Pescanova a uma taxa de juro de 5%.

Num comunicado à Comissão Nacional de Mercado de Valores, a Pescanova esclarece que o contrato de empréstimo – a três meses – data de 7 de Fevereiro, informação que a empresa diz ter dado conhecimento a esta entidade supervisora ainda na segunda-feira.

Fernández de Sousa detinha 14,4% do capital do grupo e baixou a posição para 7,5% antes de a administração reconhecer irregularidades nas contas de 2012 relacionadas com a dívida da empresa (divergência entre o que contabilizou e o montante reclamado pelos credores).

A pressão feita pelos credores para a equipa de Fernández de Sousa se demitir acontece depois de o El País avançar que a empresa terá ocultado prejuízos de 70 milhões de euros nos últimos dois anos na sua filial portuguesa de Praia de Mira, a Acuinova. Em causa estão problemas no sistema hidráulico de captação de água do mar que causaram a morte de pregado ali cultivado em viveiro e que levaram a empresa a colocar em regime de lay-off 84 dos 174 trabalhadores, que serão reintegrados este ano.

Segundo o relatório de prestação de contas consultado pelo PÚBLICO, relativo a 2011, a Acuinova teve um lucro de 378.158 euros nesse ano. Quando o projecto foi inaugurado, em 2009, num investimento de 140 milhões de euros, o grupo previa ali produzir anualmente 7000 toneladas de peixe, mas, nos dois anos seguintes, o objectivo não foi cumprido.

O PÚBLICO questionou o Ministério da Economia e Emprego se a tutela tomou ou vai tomar alguma medida, tendo em conta o facto de o investimento ter ganho o estatuto de projecto de potencial interesse nacional (PIN), mas não obteve resposta do ministério liderado por Álvaro Santos Pereira até ao momento de publicação da notícia.

Por causa da falha no sistema de abastecimento de captação de água na unidade de Praia de Mira, a produção está agora a funcionar com 90 dos 174 trabalhadores efectivos, mas a empresa garante que os quadros serão reintegrados por fases ao longo deste ano.

A Câmara Municipal de Mira já veio pronunciar-se sobre o caso, garantindo que a empresa tem actuado com transparência para com o município e que, no caso da reintegração dos trabalhadores em lay-off, está a “chamar as pessoas antes do prazo previsto”, comentou à Lusa o vereador socialista Miguel Grego.

Fonte:Público

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