Vale a pena ter seguro de crédito? Mesmo que as transações comerciais sejam realizadas em mercados em franco potencial de crescimento? Provavelmente mais do que nunca. Incumpridores há-os em todos os mercados e estar desprotegido num mercado desconhecido pode ser a aventura que nenhum empresário vai querer viver. A possibilidade de ver um parceiro de negócio não cumprir os prazos de pagamentos estabelecidos num contrato comercial há muito que se tornou elevada no mercado português e foi intensificada ainda mais com a agudização da crise económica nos últimos anos. O número de insolvências disparou, o acesso ao crédito passou a estar sujeito a rigorosos critérios de seleção, a liquidez escasseia nas tesourarias de muitas empresas e as dificuldades de pagamento tornaram-se habituais no dia a dia do tecido empresarial português.
Decididas a apostar em mercados externos como alternativa ao recessivo mercado doméstico, muitas empresas procuraram intensificar contactos comerciais com mercados lusófonos em África e na América Latina e com os chamados emergentes, além daquelas que já habitualmente se estabeleciam no seio do velho continente. Mas vender para mercados externos obriga empresas e empresários a proteção redobrada. Porque não conhecem o parceiro de negócios ou dele poucas referências são conhecidas, porque não estão familiarizados com a realidade jurídica do país destino das exportações contratualizadas, porque desconhecem especificidades sociais, culturas de litigância, mentalidades…

O seguro de créditos assume-se cada vez mais como um instrumento imprescindível de proteção ao negócio. É ele que assegura a cobertura do risco comercial, o que permite ao segurado acautelar eventuais atrasos de pagamentos dos seus devedores, eventuais insuficiências de meios ou até mesmo insolvências. Uma realidade que, de resto, tem vindo a tornar-se cada vez mais consistente. Mas o seguro de créditos vai mais além e assegura também a cobertura de risco político, consumado, por exemplo, no confisco de bens, nas nacionalizações ou ainda em situações de guerra.

Segurança na prospeção de clientes

Em caso de incumprimento por parte de um devedor, as empresas dão início a um provavelmente desgastante processo de recuperação de créditos. É também nessa missão que o mercado de seguro de créditos se torna útil, já que a seguradora assume essa função à escala internacional. E mais. É tarefa quotidiana das companhias de seguro de créditos monitorizar o risco de todas as empresas com que os seus clientes se possam relacionar, tornando-as consultores de excelência na hora de celebrar novos contratos e assumir novos riscos. E muitos empresários portugueses já perceberam o que têm a ganhar com isso.

“Alertados pela atual conjuntura económica, os nossos empresários começam a desenhar uma mudança de mentalidades que vai no sentido de valorizar este produto”, constata João Gama, diretor do Serviço de Estudos de Mercado e Comunicação da MAPFRE. “O seguro garante não só uma maior segurança na venda, como também oferece maior segurança na fase de prospeção de clientes, passando depois pela venda e, finalmente, pelo respetivo acompanhamento das alterações do comportamento de pagamento dos seus clientes”, explicita.

“E os nossos segurados reconhecem também os benefícios que poderão obter em termos de garantias/financiamentos junto das instituições financeiras”, aponta ainda João Gama. Efetivamente, em tempos de acesso restrito a finaciamento bancário, a subscrição de uma apólice de seguro de crédito pode fazer toda a diferença na avaliação de um processo, já que constitui uma garantia de proteção em caso de insucesso.

“Com as exportações na ordem dia e o atual clima de instabilidade económica existente a nível mundial, podemos dizer que esta área de negócio ganhou um impulso importante que potencia e proporciona novos contactos e um aumento das vendas deste tipo de seguros”, confirma ao OJE o responsável da MAPFRE, lamentando, ainda assim, que exista ainda “um vasto mercado de clientes potenciais que não reconhecem o seguro de créditos como uma mais-valia da gestão e estratégia de uma empresa”.

No caso da MAPFRE, o principal mercado de destino das transações comerciais abrangidas por apólices de seguro de créditos é Espanha, seguindo-se França, Alemanha e Suécia, a que se juntou mais recentemente o Brasil. Este último integra a lista de mercados lusófonos que têm sido privilegiados nesta onda de transações comerciais. Já o mercado de seguro de créditos continua a ser disputado em Portugal por cinco operadores – Cosec, Crédito y Caución, Cesce, MAPFRE e Coface – tendo a Cosec conseguido, em 2012, reforças a sua liderança deste mercado, com uma quota de mercado de 48%.

Sinistralidade controlada

Espelho do que tem sido protagonizado por cada um destes operadores, a Cosec centrou a sua atividade nos ajustamentos adequados ao acompanhamento da crise económica e financeira que o país atravessa. “Estes ajustamentos passam não só pela área de subscrição de riscos, acompanhando a evolução do risco de crédito dos mercados, mas também nas condições de oferta do produto face aos níveis de sinistralidade dos anos mais recentes”, revela Berta Dias da Cunha, administradora da Cosec.

Na memória dos operadores está ainda bem fresco um índice de sinistralidade superior a 100% registado em 2009 e que obrigou os operadores a reduzir a sua exposição e a subir preços, apertando também os critérios de aceitação de novos riscos. Hoje, o mercado parece ter aprendido com os erros do passado. “A evolução do rácio entre custos com sinistros e prémios tem evoluído de forma controlada, uma vez que, apesar da degradação de risco das empresas e da situação económica do país, a subscrição adequada dos riscos tem permitido a contenção deste indicador”, confirma ao OJE Berta Dias da Cunha.

Manter o apoio às exportações lusas é, para já, um desafio assumido pelas seguradoras de crédito para o ano em curso. Berta Dias da Cunha antevê que “a política comercial e de subscrição de riscos deverá evoluir de acordo com o enquadramento económico que se perspetiva, continuando a forte aposta no apoio às exportações, sobretudo para os países cujas perspetivas económicas se afiguram mais positivas e privilegiando os sectores de atividade mais dinâmicos”.

Fonte: Oje

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