“Estamos preparados para agir”, disse o presidente do Banco Central Europeu

Num cenário de “fraqueza” da economia da zona euro e com as expectativas de inflação “muito abaixo” do limite de 2%, Mario Draghi disse esta quinta-feira que irá durante as próximas semanas monitorizar atentamente os dados que forem conhecidos, garantindo que o BCE está “preparado para agir”, um sinal de que uma descida das taxas de juro na zona euro pode estar para breve.

Na conferência de imprensa que se seguiu à decisão do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu de manter a sua principal taxa de juro de refinanciamento em 0,75%, o presidente da instituição reconheceu, esta quinta-feira, que o fraco desempenho da economia registado no final do ano passado “se estendeu pelos primeiros meses de 2013” e afirmou que, apesar de estar à espera de uma recuperação no final deste ano, mesmo esse cenário está sujeito a riscos.

Juntando a isso uma descida da taxa de inflação para valores abaixo de 2%, Mario Draghi disse que o BCE “irá, nas próximas semanas, monitorizar muito atentamente toda a informação que virá a ser divulgada relativamente aos desenvolvimentos económicos e financeiros”. A expressão “monitorizar muito atentamente” era usada pelo antecessor de Draghi à frente do BCE, Jean-Claude Trichet, como um sinal de que uma mexida nas taxas de juro deveria acontecer durante os próximos dois meses. Vários analistas de bancos internacionais estão já, em declarações a agências noticiosas internacionais, a apostar nesse cenário. “Estamos preparados para agir”, disse ainda Mario Draghi.

Para além de uma eventual descida de taxas de juro, o presidente da autoridade monetária europeia não pôs de parte a hipótese de implementar novas medidas não-convencionais (aquelas que o BCE adopta para além da simples mexida nas taxas de juro). “Vamos estudar vários instrumentos que possam ser eficazes e que estejam dentro daquilo que é o mandato do banco”, afirmou. Neste caso, a preocupação de Draghi tem a ver com o facto de, apesar de as taxas de juro do BCE já estarem a um nível muito baixo, os empréstimos às empresas em vários países da zona euro estarem a ser feitos a taxas muito elevadas.

A promessa de acção do BCE surge poucas horas depois de o Banco do Japão ter anunciado a adopção de medidas de estímulo à economia de uma dimensão nunca vista. O banco central liderado por Haruhiko Kuroda vai injectar cerca de um bilião de euros na economia até ao final de 2014, quase duplicando o seu balanço.

Solução em Chipre “não é modelo”

Questionado por diversas vezes sobre a crise cipriota durante a conferência de imprensa, o presidente do BCE fez questão de frisar que a solução encontrada – e que passou pelo desaparecimento de um dos principais bancos do país e a imputação de custos aos accionistas, credores e depositantes acima de 100 mil euros da instituição – não servirá como “modelo” de acção na zona euro quando estiver em causa a resolução de um problema numa entidade bancária.

Ainda assim, Draghi disse que “temos de ser capazes conseguir realizar a resolução dos bancos sem recorrer ao dinheiro dos contribuintes” e afirmou que, entre as lições retiradas da crise cipriota, está a necessidade de muito rapidamente avançar para um sistema de supervisão única, estabelecer regras que definam por que ordem devem credores, accionistas e depositantes assumir os custos de uma resolução bancária e criar um mecanismo comum de resolução e recapitalização de bancos a nível europeu.

Em relação à solução inicial de aplicação de uma taxa aos depósitos, incluindo os abaixo de 100 mil euros, Draghi disse não ter sido uma opção “inteligente”. Explicou que a proposta inicial do BCE apontava para a protecção dos depósitos abaixo de 100 mil euros e que, só depois de negociações, se chegou a essa solução. Não ficou claro se o BCE deu o apoio ao Governo cipriota no momento em que este apresentou essa proposta, que acabou por ser chumbada, ao parlamento.

Fonte: Público

 

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