Exportadoras conseguiram autofinanciar-se e contribuir assim para o crescimento do PIB.

Entre 2010 e 2014, os graves problemas de necessidades de financiamento da economia portuguesa foram suavizados pelo aumento das exportações. Com o aumento do seu volume de negócios em mercados externos, as sociedades não financeiras melhoraram as suas capacidades de financiamento. Por sua vez, face ao seu menor risco, no final de 2009, as exportadoras passaram de 14,5% dos financiamentos concedidos para 19,4% no final de 2014.

De acordo com o Estudo sobre a Economia Portuguesa da IGNIOS, o contributo das exportações teve impactos que ultrapassaram a evolução positiva do PIB. As sociedades não financeiras que incrementaram as suas transações além-fronteiras deram um suporte determinante para o financiamento da economia portuguesa resistir à profunda desvalorização do seu mercado interno, num período em que as sociedades financeiras registaram cada vez mais créditos vencidos e cada vez menos créditos concedidos.

No primeiro trimestre de 2015, as necessidades de financiamento – induzidas pelo défice orçamental – do Estado quase estagnaram (2.444 milhões de euros, +17 milhões de euros, +0,7%), depois de descerem ligeiramente em 2014, de 8.181 milhões de euros em 2013 para 7.717 milhões de euros(-464 milhões de euros (-5,6%). Nesse trimestre, a forte melhoria das capacidades de financiamento – ou de autofinanciamento, mais concretamente – das sociedades não financeiras (1.857 milhões de euros, +594 milhões de euros) compensou o aumento das necessidades das famílias (452 milhões de euros, +231 milhões de euros), geradas pela pressão sobre os seus rendimentos. Nesse mesmo período foram as exportações a estar na origem do financiamento líquido para o resto do mundo de 63 milhões de euros, ao invés de necessidades de 82 milhões no 1º trimestre de 2014. Neste sentido, as respostas estratégicas, económicas e financeiras realizadas pelas sociedades não financeiras foram decisivas para a diminuição do risco financeiro da economia portuguesa, através da geração de fluxos de valor e de caixa, que geraram capacidades de financiamento da mesma, que deixou de ser financiada pelo “resto do mundo”, em termos líquidos. Saliente-se contudo, que além da dependência da procura interna ser em média de 76,5% nas sociedades não financeiras em 2013 (Base de dados IGNIOS), nas empresas que exportaram nesse período a sua dependência também era elevada (65,2% em 2013, 67,6% em 2012), tornando-as também expostas às condicionantes do mercado interno, além dos riscos inerentes à concorrência nos mercados internacionais. Nesse sentido, apesar do muito menor risco, do muito menor peso de créditos vencidos no total de crédito concedido às empresas exportadoras (3,3% em 2014 contra 15% no total das empresas), esses créditos vencidos estão a aumentar (4,6% em 30-6-2015).

Face aos riscos existentes na carteira de créditos bancários, os créditos vencidos elevaram-se de 5.129 milhões de euros no final de 2010 (4,6% do total dos créditos registados no Banco de Portugal, 111.497 milhões de euros), para 13.587 milhões no final do 1º trimestre de 2015 (15,6% de rácio de crédito vencido, num total de crédito de 87.096 milhões de euros, -21,8%, face a 2010).

As insolvências, depois de um forte crescimento entre 2008 e 2013, estabilizaram entre 2013 e o 1º semestre de 2015. Foram os sectores mais expostos à procura interna que mais insolvências registaram nesse período: construção, comércio e outros serviços.

As sociedades não financeiras, com o contributo determinante das empresas exportadoras, diminuíram a sua dependência da procura interna e criaram mais valor e dinheiro, melhoraram a sua produtividade e rendibilidade económica e financeira – mas, mais importante, melhoraram a sua relação rendibilidade versus risco. É este o tema que vamos abordar na próxima semana.

Fonte: Económico

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