Energia, justiça, relações laborais ou o crédito. Em resumo, é este o contexto que os empresários querem mudar. Pelo menos, os que ainda acreditam 

Os empresários querem que o texto que o ministro, Álvaro Santos Pereira, apresente para revitalizar a economia mude o contexto português ou os custos que ele tem para as empresas. Quase nenhum dos nove agentes económicos ouvidos pelo Negócios deixa o preço da energia fora do discurso sobre as alterações prementes que é necessário introduzir para reanimar o tecido empresarial. A justiça, a manutenção de um quadro legal estável ou o financiamento também polvilham as queixas, que se transformam em pedidos para adicionar ao “plano Álvaro”.

Mas há também quem se coloque à margem desta discussão e não acredite nela. Denotam fadiga de planos, qualquer que ele seja, nos quais as palavras não dão corpo a acções concretas.

“Isto é uma salsada. Não dou mais sugestões!”

No lote dos descrentes daquilo que irá resultar do plano para o relançamento da economia nacional, inclui-se o investidor e empresário, Joe Berardo. Começou por dizer ao Negócios que como as coisas estão é “difícil que os empresários tenham confiança”. “As leis mudam todos os dias. Quem é que investe assim?”, questiona.

Depois, desanimado com o contexto político, exclamou: “Isto é uma salsada. Não dou mais sugestões”. Por fim, remata, “as pessoas que governam podem ter muita teoria e doutoramentos, mas não têm experiência nos negócios”.

Já João Pereira Coutinho, presidente do colosso do ramo automóvel SAG, diz que medidas avulsas nada alteram e que não quer contribuir para essa discussão. Para o empresário, o debate é mais profundo: “A grande discussão é se as pessoas querem que seja o Estado a mandar nelas, ou elas a comandarem as suas vidas”, defende. Pereira Coutinho deseja uma reestruturação total da situação em que vivemos.

“O Estado não funcionou”, sublinha, para depois questionar: “Você quer que o Estado mande na sua vida e que trate de tudo inclusive da sua reforma? Quer?” E responde, rápido: ” Eu não quero. Enquanto as pessoas não responderem a esta questão em 10 segundos, nada feito”, frisa.

Carlos Monjardino, agora com alguns negócios na área do turismo, está céptico quanto ao resultado do programa que for apresentado. “Nem costumo ser pessimista, mas com o estado actual das coisas…”, reflecte.

Posteriormente, ainda assim, propõe a descida do IVA na restauração e na hotelaria, “que é onde se ganham alguns cêntimos no Verão”, a desburocratizarão ou o desbloqueio das verbas do QREN.

“Quem é que investe num país com contratos para a vida?”

Na indústria, e apesar das recentes mudanças na legislação laboral, há quem ache que ainda não é suficiente. É preciso mais. No calçado, o presidente da líder de exportação do sector (Fly London), Fortunato Frederico, pensa que era preciso sindicatos menos radicais e que aceitassem “mais meia hora por dia de trabalho em troca de uma subida do salário mínimo”.

Já no sector das bebidas espirituosas, o presidente da Licor Beirão, José Redondo, coloca as leis do trabalho como algo a ser limado, com a questão: “Quem é que investe dinheiro num país com contratos para a vida?”, questiona.

A este coro junta-se em Mangualde, o líder da fábrica da Peugeot/Citröen, Elísio Oliveira, que além de maior flexibilidade nos contratos de trabalho, que proporcione maior mobilidade interna nas empresas, quer que haja um olhar para o sector exportador de transaccionáveis no Interior. Nomeadamente, ao nível do pagamento das portagens, que tanto penaliza as empresas da região.

Mais crédito, energia barata, e justiça rápida

No sector metalomecânico, o vice-presidente executivo da entidade que reúne as empresas desta área, Rafael Campos Pereira, põe a tónica na recapitalização das empresas, com a extensão de linhas como a PME Capital, para que estas não se limitem a empresas “com balanços superiores a seis milhões”. Nesta área, quer ainda que “a CGD esteja mais virada para as empresas”.

Na agricultura, o líder da CAP, João Machado, olha para este momento como uma oportunidade para voltar a olhar para o mercado interno. “Era desejável que se baixasse o IVA e o IRS ou se terminasse com a sobretaxa de solidariedade”, enuncia. “É a única forma de combater a retracção do consumo”, conclui.

Fonte: Negócios

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