Estudo mostra “posição frágil” de Portugal face aos concorrentes directos na Europa.

Portugal está numa posição intermédia no ranking sumário da competitividade, que foi ontem apresentado em Lisboa e que aponta para “a posição frágil” do país em termos de investimento e de endividamento, face aos seus concorrentes directos na cena global.

Intitulado O Campeonato da Competitividade: O caso de Portugal, o estudo foi desenvolvido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) em colaboração com a Augusto Mateus & Associados. Entre as oito economias analisadas (quatro do Leste, e quatro do Sul), que têm um nível de vida inferior à média europeia, Portugal surge a par da Espanha e da Itália, mas afastado da Polónia, da República Checa e da Eslováquia, as mais atractivas, e longe da Grécia, com a pior classificação.

“A relevância do crescimento económico em relação à competitividade da economia e das empresas portuguesas é um tema central que deve polarizar toda a discussão pública. Não há competitividade sem investimento, não há emprego sem investimento. O cerne dos problemas está precisamente na falta de investimento.” Esta foi uma das mensagens deixadas aos decisores e à banca

[que deve envolver-se “no financiamento das PME”], pelo economista Rui Moreira de Carvalho, responsável pelo gabinete de estudos económicos da CGD, e por Gonçalo Caetano, parceiro da Augusto Mateus & Associados, que tem colaborado com o banco público no desenvolvimento de vários projectos sobre a economia portuguesa.

Classificado como uma “nota temática”, o trabalho revela que os quatro países da Europa do Sul perdem em relação aos do Leste, com Portugal a registar a penúltima posição (só acima da Grécia) em termos de investimento. A análise, que envolve o período entre 2008 e o início de 2013, abrangeu oito países: quatro “economias do alargamento de 2004”, do Leste europeu, a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e a Hungria, e quatro do Sul, a Espanha, a Grécia, a Itália e Portugal.

Os dados (suportados em 48 indicadores) estão agrupados em seis parâmetros: evolução do PIB, emprego, investimento, globalização, endividamento, estratégia para 2020.

Segundo José de Matos, presidente da CGD, o estudo não só “dá pistas aos decisores para tomarem medidas para ultrapassarem as debilidades da economia portuguesa, como expõe as oportunidades de melhoria da competitividade nos vários domínios analisados”.

O economista e professor do ISEG Gonçalo Caetano frisou que, nesta análise comparativa, a produtividade do trabalho tem vindo a crescer, mais porque o emprego tem baixado e não tanto porque o valor acrescentado bruto tenha aumentado.” E salientou: “Estamos a ganhar o campeonato da competitividade ao nível do custo.”

O indicador mais favorável a Portugal é o do crescimento económico, ainda que os responsáveis pelo relatório tenham alertado para o fraco potencial de crescimento do PIB, nomeadamente, pela falta de competitividade. A evolução em termos reais do PIB mostra que Portugal ocupa a quarta posição entre as oito economias analisadas, à frente da Hungria, da Itália, da República Checa e da Grécia, ficando a par da Espanha. A Polónia e a Eslováquia revelam os crescimentos mais elevados.

Pela positiva, Portugal destaca-se, ao lado da Eslováquia, no “contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB” e, pela negativa, “apresenta, depois da Grécia, o segundo pior desempenho” em termos de procura interna.

“Portugal ajustou-se muito bem em termos de comércio externo”, observou Rui Moreira de Carvalho, notando que “estamos a criar valor nas exportações com uma nova tipologia do produto exportado”. E Gonçalo Caetano relevou que “os preços de exportação sobem mais rapidamente do que os da importação, o que não é suficiente para que os transaccionáveis ganhem rendibilidade.”

No que respeita ao emprego, Portugal colocou-se de novo a meio do ranking, atrás dos checos, dos polacos e italianos, e mostrando o melhor desempenho em termos de trabalho feminino. Já a taxa de desemprego dos portugueses é a terceira pior, só ultrapassada pela da Espanha e da Grécia.

“A evolução desde 2008 das remunerações por trabalhador em termos reais acompanha o dinamismo do mercado de trabalho.” Assim, da análise comparativa sobressai que a República Checa foi o terceiro país da UE onde os salários mais cresceram, e “inversamente a maior queda da UE a 27 foi na Grécia (onde o salário mínimo é cerca do dobro do praticado na República Checa, Hungria Eslováquia e Polónia), surgindo a Hungria com a terceira maior queda e Portugal com a sétima.”

Em termos de investimento, a variável mais importante para promover a competitividade e “que deveria preocupar os decisores”, Portugal aparece no ranking dos oito países na penúltima posição, acima da Grécia. E assinala o melhor desempenho na evolução do índice de preços residencial o que prova, diz Gonçalo Caetano, “que não existe uma bolha imobiliária em Portugal”. O estudo associa a Portugal “o pior” sentimento económico, “o pior contributo do investimento para a variação do PIB e da pior evolução da intensidade de capital, a par da Itália, bem como da segunda pior evolução da formação bruta de capital fixo, seja total, seja em equipamento, depois da Grécia.”

No parâmetro “globalização”, o país “ocupa a quinta posição, melhor que a Grécia, a Itália e a Espanha”. Já pela positiva, evidencia “o melhor desempenho quanto aos termos de troca e ao investimento directo no estrangeiro” e pela negativa destaca-se com a terceira pior rendibilidade dos transaccionáveis (acima da Hungria e da Itália), e com a terceira pior variação da quota de mercado nas exportações mundiais (acima da Grécia e Itália) e a terceira pior balança, a par da República Checa.

Na evolução da taxa de rendibilidade das Obrigações do Tesouro, só a Grécia é pior que Portugal. Na comparação dos indicadores que medem os progressos na realização das metas inscritas na Estratégia Europa 20120, os dados (de 2010 e de 2011) dão a seguinte indicação: no ranking dos oito países, Portugal aparece na terceira melhor posição, só ultrapassado pela República Checa e pela Eslováquia, e com “o melhor desempenho em termos de energias renováveis e o segundo melhor desempenho no emprego e no investimento em I&D, depois da República Checa”. Pela negativa, tem, depois de Espanha, “o segundo pior desempenho na emissão de gases com efeito de estufa e na taxa de abandono escolar.”

Fonte: Público

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