O presidente do BCE assume que o programa de compra de dívida privada poderá passar a abranger também a compra de títulos da dívida soberana dos membros da Zona Euro.

O italiano que preside ao Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, tem referido em diversas ocasiões que a autoridade monetária europeia tudo fará, no âmbito do seu mandato, para assegurar a recuperação das economias do bloco do euro. Nesse sentido, o BCE já empreendeu o que chamou de “medidas não convencionais” de compra de dívida.

Esta segunda-feira, Draghi reconheceu que “dentro do mandato” do BCE, entre as medidas não convencionais está também a possibilidade de compra de títulos de dívida soberana.

“Outras medidas não convencionais poderão incluir a compra de um conjunto de activos, um dos quais

[a compra] de títulos de dívida soberana”, adiantou esta segunda-feira Mario Draghi no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

O BCE já tinha iniciado, a 20 de Outubro, a compra de obrigações privadas, constituídas por activos como hipotecas e empréstimos ao sector público – as chamadas “covered bonds” – com o objectivo de combater o ambiente de baixa inflação que se faz sentir na Zona Euro.

Ao cabo da primeira semana deste programa, a instituição sediada em Frankfurt tinha comprado 1,7 mil milhões de euros. Já anunciado, mas ainda a aguardar pelo tiro de partida anunciado para o final desta semana, está o programa de compra de dívida titularizada de empresas, conhecido por “Asset Backed Securities”.

Esta tarde, em resposta a questões colocadas pelos eurodeputados, o italiano Draghi admitia que a “recuperação [europeia] está em risco”, facto que terá levado todos os membros do comissão executiva do BCE a admitirem “unanimemente adoptar outras medidas adicionais”.

É nestas medidas adicionais que se insere a possibilidade de recurso à compra de títulos de dívida soberanos, o que poderá acontecer “se nós verificarmos que essas medidas [“covered bonds” e os “ABS”] não são suficientes”, adiantou Draghi.

A reforçar esta possibilidade, também esta segunda-feira, citado pelo Expansión, o membro do BCE, Yves Mersch, garantia que “em teoria [as medidas não convencionais] incluem também a compra de títulos de dívida soberanos, ou a compra de activos como o ouro, acções ou fundos de investimento”.

Draghi sublinha importância de Estados concluírem reformas estruturais

A conclusão, ou simplesmente a adopção, de reformas estruturais apresenta-se como essencial para Mario Draghi, porque isso permitiria “relançar a economia, a produtividade e criar novos postos de trabalho”, sustentou o presidente da autoridade monetária europeia citado pelo Corriere della Sera.

Draghi deixou ainda um recado aos países que optaram pela não conclusão dos programas de reformas estruturais, sublinhando ainda não ser da competência do BCE garantir a concretização dos referidos programas reformistas. “O BCE não foi criado para assegurar que os governos fazem aquilo que deveriam”, notou. Elogios foram dirigidos aos “países que procederam a reformas estruturais e que agora estão em melhor situação face à recuperação” económica.

Nesse sentido, o líder do banco central assegura ser “urgente” que os Estados-membros do euro acordem a breve trecho sobre “as reformas estruturais, a aplicação do Pacto de Estabilidade, o perfil das políticas orçamentais em termos agregados e sobre uma estratégia de investimento”.

Na perspectiva de Mario Draghi, permanecem elevados os riscos de baixa inflação, riscos que também se apresentam defronte à recuperação económica. A situação actual é tanto mais complexa, que Draghi lembra “que estamos numa situação em que a nossa política monetária acomodatícia já não é suficiente”.

Fonte: Negócios

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