Nicos Anastasiades viajou para Bruxelas três dias depois de ter sido eleito presidente do Chipre. A reunião, que decidiu o resgate ao país foi a sua primeira reunião de líderes e o primeiro contacto com os restantes chefes de Estado. Em Bruxelas, Anastasiades lembrou que o resgate deveria ser justo para todos. Mas 48 horas depois, as recomendações que saiam da reunião pareciam tudo menos isso. Foi a sua primeira reunião e provavelmente a mais difícil que terá. 
Apesar de todos os líderes do euro estarem presentes em Bruxelas naquela sexta-feira, as decisões mais importantes foram deixadas para quando já só estivessem os ministros das Finanças. É, de resto, deles a responsabilidade de taxar os depósitos cipriotas, mas até à resolução final, a discussão foi intensa. 

Não por falta de determinação, lembra a Reuters, já que do lado alemão sempre foi dada como certa a necessidade de um imposto sobre os depósitos ou a Alemanha não daria o sim para a ajuda financeira.

Os ministros do euro decidiram assim que o Chipre deveria arrecadar 5,8 mil milhões de euros através de uma taxa sobre o dinheiro depositado, e recusaram-se a alterar este valor. O que não ficou logo fechado foi a forma como o dinheiro deveria chegar: pelos depósitos garantidos ou pelos não garantidos acima dos 100 mil euros. E isto porque o Chipre tem cerca de 30 mil milhões de euros em depósitos garantidos para cerca de 1 milhão de pessoas.

De acordo com a agência Reuters, Joerg Asmussen (membro alemão do BCE) e Thomas Wieser (representante dos ministros das Finanças do euro) sugeriram criar uma taxa aplicada apenas aos depósitos não garantidos. Mas quando os planos foram apresentados, vários líderes rejeitaram todas as taxas acima de 10% – Isto significava que os depósitos não garantidos teriam de pagar 3,8 mil milhões de euros e que as pequenas poupanças teriam de compensar com os restantes 2 mil milhões de euros que dão forma ao bolo dos 5,8 mil milhões.

A partir daqui a reunião tornou-se polémica e confusa. Os membros do BCE, FMI e Comissão Europeia interromperam a reunião por diversas vezes para falar separadamente com os representantes do Chipre. Os outros ministros ficavam nos corredores e entretinham-se com os telemóveis.

Às primeiras horas da madrugada de sábado, o presidente do Eurogrupo Dijsselbloem propôs que os depósitos sem garantia pagassem 12,5%, um nível que iria permitir que os restantes pagassem 3,5%. A raiva Cipriota começou logo aqui e, Anastasiades saiu da sala perante a proposta, que considerou inaceitável para o seu país. Mais tarde, e de ânimos menos exaltados ficou fechada uma taxa de 9,9%. E a reunião foi dada por encerrada. Para arrecadar os restantes 2 mil milhões, os depositantes com pequenas contas poderiam pagar 6,75% sobre as suas poupanças. O acordo ficou fechado e os líderes saíram da sala.

Ninguém falou no imposto


O resgate foi anunciado às 4 horas de sábado. Embaraçados com a taxa acordada, os líderes não falaram imediatamente nela. Christine Lagarde desejou um “Feliz dia de St Patrick” e falou num ‘acordo partilhado’. Nunca mencionou o novo imposto extraordinário.

Dijsselbloem, líder do Eurogrupo, mencionou a necessidade de se encontrarem umas quantas “medidas específicas” para o país. “Achámos justificado”, disse, sem especificar aos jornalistas que medidas eram estas.

Um representante da UE disse apenas que quando se apercebeu do resultado lhe apeteceu vomitar. Vários líderes acusaram Anastasiades por insistir em baixas contribuições sobre os depósitos sem garantia, fragilizando os pequenos depositantes do seu país e beneficiando os depositantes não residentes – na sua maioria Russos.

A notícia chegou no sábado quando os cipriotas acordaram e, em alvoroço acorreram aos bancos para levantar o seu dinheiro. A ideia era só uma: sem dinheiro no banco não há taxa a pagar.

Ontem, o Governo do Chipre encontrou uma proposta mais simpática para os pequenos depositantes. O imposto deverá ser votado hoje às 16h00 de Lisboa e representa uma isenção para depósitos até 20 mil euros, uma taxa de 3% para depósitos entre 20 mil e 100 mil euros, de 9,9% de 100 mil e 500 mil e de 15% para depósitos acima de 500 mil euros.

Fonte: Dinheiro Vivo

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