Posição geoestratégica favorável com África e América Latina, a par da excelência das infra-estruturas e recursos humanos, são os ‘trunfos’ de Portugal na atracção do investimento externo, diz o vencedor na categoria Gestão de Empresa Pública dos Best Leader Awards 2013, atribuídos pela Leadership Business Consulting e pelo SOL.

Que características promove de Portugal quando tenta atrair investidores estrangeiros a apostar no país?

Portugal, felizmente, possui um conjunto de características que são atractivas para os investidores estrangeiros e que fazem parte da narrativa de captação de investimento que damos a conhecer por esse mundo fora. Desde logo, a nossa posição geoestratégica e a capacidade que temos de estabelecer pontes com outros países ou comunidades de países, como é o caso da lusofonia. O acesso que proporcionamos aos mercados europeus, a alguns mercados africanos e da América Latina e também ao mundo que fala português, nos respectivos países que a têm como língua oficial, e à diáspora, é um dos nossos maiores activos como país. Adicionalmente, possuímos excelentes infra-estruturas de transportes, de comunicações e logísticas, que posicionam o nosso país como uma plataforma exportadora altamente competente e competitiva. Temos excelentes recursos humanos e uma ligação crescente das universidades às empresas, liderando avanços importantes em termos de investigação científica e tecnológica conseguindo aproveitá-los em termos de inovação empresarial. Possuímos redes de fornecedores altamente qualificados, capazes de servir um conjunto alargado de indústrias e de sectores de actividade económica. Em cima destes factores intrínsecos de competitividade, acrescem as reformas estruturais, já realizadas e em curso, que estão a criar as bases para um novo modelo económico, sustentável e mais amigo do investimento, bem como os incentivos financeiros e os benefícios fiscais que atribuímos aos investimentos.

Como faz a gestão da liderança quando tem de negociar com investidores e governos de origens tão diversas como África, Ásia ou Europa?

Todas as negociações têm as suas especificidades e no “mercado” internacional de captação de investimento, que é muito competitivo, há que conhecer tanto quanto possível quem temos à nossa frente e exactamente aquilo que pretende, adaptando a nossa proposta de valor às suas expectativas. Perceber que capacidade de decisão ou de influência efectiva tem o nosso interlocutor é também uma regra de ouro. A chave está na consistência da mensagem, na clareza da narrativa, e na adaptação dos assuntos à agenda dos interlocutores.

Existe um tipo de liderança português?

Começa a afirmar-se um novo tipo de liderança em Portugal em termos de processos de internacionalização, sobretudo nas empresas privadas e, dentro destas, incluo em particular muitas PME’s que têm sabido sair da sua zona de conforto e conseguido conquistar posições relevantes na economia global. Sinto que estamos perante uma mudança de paradigma ao apostar forte e crescentemente no domínio de projectos integrados baseados na motivação, na comunicação e na partilha de objectivos, ao mais alto nível de exigência internacional.

Portugal tem falta de líderes?

Há excelentes líderes portugueses, quer cá, quer no estrangeiro. Estou absolutamente convencido que a liderança e o mérito andam de mãos dadas. Temos que saber, como país, promover mais a meritocracia e o empreendedorismo e dar mais margem para a afirmação do talento nacional, sendo a capacidade de liderança uma das suas facetas visíveis.

Que marca quer deixar na AICEP?

Gostava de deixar a marca de uma liderança próxima das empresas, ao serviço das empresas, focada totalmente nas suas prioridades.

Depois de uma missão à Colômbia e ao Peru, quais são os próximos mercados de aposta para a AICEP?

A diversificação de mercados é uma aposta desde a primeira hora em que assumi o mandato à frente da AICEP. Assim, para além da presença e acompanhamento das nossas empresas nos mercados tradicionais, procuramos desbravar novas geografias e detectar oportunidades de negócios para as nossas empresas. Estamos a monitorizar mercados ainda pouco visíveis como o Azerbaijão, o Botswana e a Namíbia ou o Panamá, a partir de postos já existentes (respectivamente a partir da Turquia, da África do Sul e da Venezuela, já por si países extracomunitários com interesse para as nossas empresas), estamos também a reforçar a atenção dada aos países do Golfo (Arábia Saudita, Omã, Qatar, Emiratos Árabes Unidos, Dubai e Kuweit) e em termos de missões empresariais associadas a visitas oficiais, iremos nos próximos meses levar empresas ao México, aos Estados Unidos da América e a um conjunto de países da costa ocidental de África.

A atracção de investimento estrangeiro foi um dos objectivos principais do programa da troika e do Governo há dois anos. Mas tirando as privatizações, Portugal tem tido dificuldade em atrair grandes investimentos. Porquê?

Os investimentos estrangeiros negociados ou encerrados directamente pela AICEP durante 2012 totalizaram 1,3 mil milhões de euros e temos em acompanhamento um pipeline de intenções de investimento de montante equivalente para este ano. Estes números confirmam a atractividade do nosso país. Temos bastantes projectos em perspectiva, de média dimensão. Será desejável conseguirmos mais investimentos, e de maior vulto, mas esta diversificação de investimentos, que vão dos serviços ao agro-alimentar, passando pelo turismo, pelo automóvel ou pela aeronáutica, demonstram que Portugal possui condições competitivas para o investimento que melhorarão à medida que forem sendo produzidos resultados decorrentes das reformas estruturais, por um lado, e da estabilidade e competitividade fiscal que consigamos vir a imprimir no nosso país.

A crise e austeridade tornam o país pouco atractivo?

Os números relativos ao investimento e os resultados das privatizações até agora não confirmam essa tese. O caminho de austeridade, até certo ponto, é compreendido pelos investidores como prova de sustentabilidade futura. O que procuram em Portugal, na grande maioria das situações, é o acesso que Portugal pode proporcionar a outros mercados, e não tanto o nosso mercado doméstico. No entanto, será um sinal importante conseguirmos passar de uma fase mais financeira para um maior enfoque na agenda económica e do crescimento. Os grandes investimentos estrangeiros não recorrem, na sua maioria, a capitais nacionais, pelo que a questão da crise, neste particular, também não tem grande influência nas suas decisões de investimento.

Fonte: Sol

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