Ex-relator do Parlamento Europeu para a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento diz que o acordo só deverá estar concluído em 2017 e ainda de forma provisória.

O acordo de parceria transatlântica de comércio e investimento (TTIP) entre a União Europeia e os Estados Unidos é benéfico para Portugal e sobretudo para as pequenas e médias empresas. A afirmação é consensual entre Vital Moreira, ex-relator do acordo no Parlamento Europeu e o embaixador dos EUA em Portugal, Robert Sherman, e ficou bem expressa durante a conferência que teve lugar na sexta-feira, em Guimarães. Intitulada “Acordo de Comércio e Investimento União Europeia-EUA. Impacto nos sectores têxtil, vestuário e calçado”, foi organizada pelas autarquias de Guimarães, Famalicão e a consultora GTI.

Mais cauteloso que o embaixador, Vital Moreira diz que “os benefícios são evidentes mas não me parece viável que haja acordo no próximo ano. Eventualmente em 2017 ainda que de forma provisória”. Vital Moreira alerta, no entanto, para as várias dificuldades que surgirão pelo caminho, como sejam: “as divergências de interesse de um lado e do outro e as objecções políticas de anticomércio, com destaque para o crescente radicalismo, quer na Grécia, quer em França, com a Frente Nacional”.

Entre as “coutadas proteccionistas” dos dois lados, o ex-relator do acordo destaca a questão da agricultura e pecuária na Europa, e dos transportes marítimos e aéreos, nos EUA, uma vez que os norte-americanos são muito fortes nesse domínio. Em Portugal, destaca, um dos sectores que pode ser mais afectado é o do tomate, enquanto entre os mais beneficiados aparecem o têxtil, o vestuário e o calçado.

Acordo TTIP terá um impacto de 1,1 mil milhões em Portugal

Com um impacto previsto na União Europeia de 120 mil milhões de euros, o TTIP tem como objectivo eliminar as barreiras comerciais e aduaneiras e anular as diferenças de regulamentos técnicos e normas de certificação entre os dois blocos económicos. “O TTIP é ambicioso, uma vez que tende a reduzir a zero todas as tarifas entre os Estados Unidos e a Europa”, sublinha o ex-deputado socialista. Segundo um relatório encomendado pelo Governo português, o acordo terá um impacto de 1,1 mil milhões de euros no PIB português, devendo as exportações nacionais crescerem na ordem dos 650 milhões de euros.

Vital Moreira diz que “a questão das regulações técnicas faz toda a diferença para as PME portuguesas”. Robert Sherman partilha desta opinião e refere que “este acordo não é feito para a Microsoft, Apple ou Wall Mart. Essas já estão confortáveis”. Sobre as vantagens para os EUA, Sherman destaca a dimensão do mercado da União Europeia, com 500 milhões de habitantes, enquanto Vital Moreira recorda que o mercado americano está a crescer cerca de 3% ao ano e para beneficiar “desse potencial de crescimento, temos que abrir ainda mais ao exterior e não podemos esquecer que somos o maior mercado do mundo o que é importante mesmo para potências económicas como os EUA e o Japão”. Portugal, acrescenta, “beneficia da força desse mercado”.

João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, refere que se “este acordo for alcançado, duplicaremos as exportações de têxtil, vestuário e calçado para os EUA”. Dentro do têxtil, João Costa destaca o “papel dos têxteis lar que poderão até quintuplicar, uma vez que são do melhor que se faz no mundo”. E adianta: “Em 2014, o sector têxtil deverá ter atingido os 4,6 mil milhões de euros de exportações. Se os EUA tiverem uma nova relação comercial com a Europa podemos facilmente ultrapassar os cinco mil milhões”.

Já Fortunato Frederico, presidente do grupo de calçado Kyaia, garante que “este acordo seria a cereja no topo do bolo para o nosso grupo”. Fortunato Frederico recorda que começou a olhar para os EUA e para o Canadá, em 2010, e “hoje já vendemos para o mercado americano 350 mil pares de sapatos”.

 

Fonte: Económico

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