Quatro empresas do conglomerado Prébuild estão sujeitas a processos de recuperação e a dívida ao Novo Banco supera os 150 milhões de euros

O Conglomerado Prébuild, de João Gama Leão, enfrenta uma tempestade perfeita. A forte ligação financeira à família Espírito Santo (o empresário aplicara mais de 20 milhões de euros na Espírito Santo International e financiara-se no BES na cruzada de aquisições em Portugal), a dependência do mercado de construção em Angola, as desavenças na Colômbia com o seu parceiro Santo Domingo e vários acidentes de percurso forçaram o grupo a reequacionar toda a sua estratégia e a desencadear uma profunda reestruturação nas empresas mais expostas ao mercado angolano ou dependentes do Banco Esíritob Santo.

O resultado é uma dívida acima dos 150 milhões de euros ao Novo Banco, quatro empresas do conglomerado sujeitas a processos especiais de revitalização (PER) e a saída inglória do mercado da Colômbia em que contava com um programa de investimentos de 250 milhões de euros. O parque industrial nos arredores de Bogotá em fase de acabamentos deve transformar-se numa fábrica de cerveja e a estrutura técnica colombiana está em mudanças para o Brasil. Este país surge como a nova âncora para América Latina e João Gama Leão reparte-se agora entre os dois lados do Atlântico, acreditando que a operação Lava Jato induzirá uma nova ordem no negócio da construção, beneficiando os novos operadores do mercado.

QUATRO EM PROCESSOS DE INSOLVÊNCIA

Este mês, credores da Prébuilding apresentaram pedidos de PER para a TglobalSuply (trading) e Goldenpar (holding), duas sociedades desativadas mas com dívidas de 250 milhões de euros, repartidas pelo Novo Banco e empresas do universo Prébuild que exportavam, através da trading, sobretudo para Angola.

Depois, foi a Porama, um fabricante de portas e roupeiros com vendas da ordem dos cinco milhões de euros, que por causa do mercado angolano está praticamente sem atividade. Fora a pensar no mercado angolano que a carpintaria procedera a investimentos recentes na base de Sintra, evoluindo para o fabrico de roupeiros topo de gama, como modelos em que asgavetas eram acionadas por comando eletrónico.

Já no circuito dos PER estava a rede de lojas de bricolage Izibuild(ex-Mestre Maco comprada à A. Silva e Silva), uma diversificação que se revelou desastrosa. A Levira, uma das empresa do universo aparentemente saudável, também já revitalizara depois de beneficiar de um PER bem sucedido.

Segundo uma fonte do grupo, “o colapso do GES e a crise económica em Angola criaram uma nova realidade e obrigaram-nos a esta profunda reestruturação”. Quando à ligação ao Novo Banco, o grupo “continua a valorizar essa ligação e as negociações deverão em breve por dar os seus frutos”.

ACIDENTES DE PERCURSO

Nos acidentes de percurso, o conglomerado sofreu um duro revés com o cancelamento da encomenda da Decathlon de 1,5 milhões de bicicletas à Prébuild Sport, que garantia a produção até 2018 e o impasse da empreitada de 20 mil casas na Argélia, no âmbito de uma ofensiva de diplomacia económica do atual Governo que não correu pelo melhor. O negócio esbarrou na legislação laboral argelina, que impedia os técnicos portugueses de terem vencimentos superiores aos dos argelinos. A Porama sofreria com este cancelamento. A empreitada na Argélia levaria à exportação de 100 mil portas.

Após a criação do grupo em Angola, centrado na construção e imobiliário, João Gama Leão iniciou em 2010 uma cruzada de diversificação de negócios e mercados, começando por investir em indústrias portuguesas exportadoras com potencial e capacidade técnica, mas em sufoco financeiro. Era preciso que tudo corresse bem para o plano dar certo. O BES foi seu interlocutor em várias transações, a mais sonante de todas foi a do grupo cerâmico Aleluia, uma dor da cabeça para a família Espírito Santo.

No último exercício, a Prébuild fez em Angola metade da sua faturação de 640 milhões de euros.

Fonte: Expresso

Comentários

comentários