D. Tonho e O Cortiço. Dois dos mais conceituados restaurantes nacionais não resistiram ao aumento do IVA de 12% para 23% e hoje estão em processo de insolvência.

O D. Tonho, no Porto, uma sociedade de Rui Veloso com o amigo José Pereira, tem quase quatro milhões de dívidas e já recorreu ao Processo Especial de Revitalização. Mais recentemente foi a vez de O Cortiço, em Viseu, fechar portas e pedir a insolvência, incapaz de resistir ao “brutal aumento” dos impostos e à quebra de clientes.

Estes são apenas alguns dos exemplos mais mediáticos das 1611 empresas que recorreram à insolvência desde o início do ano, segundo os dados do Instituto Informador Comercial, a que o Dinheiro Vivo teve acesso. São mais de 26 empresas por dia.

“Sou empresário há 50 anos, já passei por muitas crises, mas nunca nenhuma como esta. Muitos ficarão pelo caminho”, vaticina Mário Pereira Gonçalves, da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), que se bateu contra o aumento do IVA de 12% para 23%. Em 2012 fecharam mais de 11 mil e foram perdidos mais de 40 mil postos de trabalho.

O ritmo das falências, apesar do agravar da crise, parece, no entanto, estar a abrandar. No primeiro trimestre deste ano, o número de pedidos de insolvência cresceu 8,27%; em 2012, no mesmo período, o agravamento foi de 44,5%. “Não é de admirar, na medida em que restam menos empresas e as que existem, em princípio, são mais robustas”, explica o economista Daniel Bessa.

Já o administrador judicial, Luís Gomes, não encontra “nenhuma razão objetiva” para uma inversão desta natureza, porque não houve “quaisquer alterações do estado económico, financeiro e social do País” que justifique um abrandamento.

Luís Gomes acredita, sim, é que, nestes números, não estejam contabilizados os casos das empresas que recorrem ao PER – processo de revitalização, “muitos deles em situação de terem de recorrer à insolvência e que usam este expediente para ganhar algum tempo e tentar, por aí, ultrapassar a situação”.

O comércio e a construção e imobiliário mantêm-se como os líderes das falências, embora se comece a assistir a um aumento de casos em outros sectores.

Na restauração, as insolvências (+34%) são já quase tantas como a soma dos primeiros trimestres dos dois anos anteriores, no comércio e reparação de automóveis (+54%), na educação (+100%) e nas atividades de saúde humana e de apoio social (+90%) assiste-se a um aumento exponencial de empresas que não conseguem resistir à crise.

Fenómeno curioso é que, pela primeira vez, Lisboa ultrapassa o Porto no número total de empresas a pedir a insolvência. “Não tem grande significado”, considera Daniel Bessa.

“O importante é que feitas as contas como deve ser, em números relativos mais do que em números absolutos, faliram cerca de 0,3% das empresas existentes em Lisboa e 0,4% das existentes no Porto.” Pior estão Castelo Branco e Braga, com taxas de falência de 0,5%. A crise, afinal, parece que ainda está para durar.

Fonte: Dinheiro Vivo

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