A parte da auditoria forense da Deloitte ao BES, ontem divulgada, traz substância e pormenor ao que já se sabia, ou pelo menos já se suspeitava.

É diferente ver as coisas assim, sistematizadas, dando-lhes uma organização que a conduta de Ricardo Salgado poderá não ter tido, na fuga para a frente para manter a influência da sua família no banco, e manter este à tona.

Mas se esta auditoria tem o condão de mostrar, a quem tinha dúvidas, onde esteve a conduta lesiva, irresponsável e eventualmente criminal dos gestores de topo do BES, mostra outras coisas menos agradáveis para quem quer confiar num regulador como o Banco de Portugal. Este deu, e bem, ordens muito específicas para colocar um muro de betão à volta do BES, o célebre ‘ringfencing’ destinado a não deixar que os problemas do GES derrubassem o BES, aquilo que o Banco de Portugal, e bem, não queria deixar cair.

O problema é que, ficámos ontem a saber, as ordens do regulador foram deliberadamente desrespeitadas e, aparentemente, este não foi capaz de monitorizar a efectiva implementação dessa estratégia. Quando, diga-se, todo o bom senso instava a que Carlos Costa não confiasse que Salgado – com todos os conflitos de interesse entre GES e BES – cumprisse à risca o que lhe tinha sido ordenado. Não nos esquecendo quem é o verdadeiro culpado do que se passou, não pode ser ignorado que o Banco de Portugal tinha obrigação de ser mais rápido, mais intrusivo, e muito mais agressivo.

 

Fonte: Económico

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