A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que a concentração de 90% dos empréstimos nas mãos de seis bancos em Moçambique é o maior risco para o sector bancário, um sector que é elogiado pelos analistas.

“Apesar da supervisão da indústria estar a ser trazida para níveis internacionais, a concentração de crédito continua a ser o maior risco sistémico”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist, numa nota de análise onde evidenciam “grande confiança” no sector bancário moçambicano.

“Há um grande nível de confiança na indústria bancária moçambicana, com os financiadores públicos e privados a desenharem ambiciosos planos para a expansão, alicerçados nas taxas consistentemente fortes da indústria, margens de lucros estáveis e um ambiente regulatório cada vez mais credível”, lê-se na nota de análise.

Os analistas avisam, no entanto, que apesar do crescimento de crédito do sector privado significar um aprofundamento financeiro, a concentração mantém-se o maior risco, “e é provável que o risco seja mais pronunciado porque os bancos vão procurar expandir-se para tentar apoiar a indústria do gás, em grande expansão”.

Os três maiores bancos moçambicanos representam 75% do mercado, e os maiores seis valem 90%, afirma a EIU, que nota que os 80% de moçambicanos sem acesso financeiro constituem uma enorme oportunidade e que, na prática, as taxas proibitivas empurram os clientes sempre para os mesmos bancos.

No ano passado, o crescimento de 22,3% nos depósitos e de 28,4% nos empréstimos ficou bem acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas as taxas “devem ser interpretadas cautelosamente, dada a baixa base de partida da indústria”, e face à comparação com o vizinho mais próximo: os ativos financeiros em Moçambique valem 5,7 mil milhões de dólares, o que compara com os 286 mil milhões da África do Sul.

Na análise ao setor financeiro em Moçambique, um país que é repetidamente apontado como uma das grandes promessas económicas em África, essencialmente devido às vastas reservas de gás natural, a EIU lembra os aumentos de capital de alguns grandes bancos, como o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), para financiar a sua expansão, e elogia o interesse dos investidores financeiros internacionais, como o Ecobank e a Société Générale, embora note que as fortes ligações da banca a Portugal e África do Sul recomendam uma diversificação geográfica para evitar o perigo de contágio caso as economias encontrem problemas.

A nota de análise ao setor bancário de Moçambique aponta ainda a abertura prevista para 2016 de um escritório do Banco Europeu de Investimento, a instituição não lucrativa de empréstimos da União Europeia, para prever que os 80 milhões de dólares que o BEI apostou em quatro projetos no país devam aumentar nos próximos anos.

Neste setor “movido a gás”, como diz a EIU, a maioria dos investimentos têm sido financiados por bancos internacionais, mas o Governo espera que alguns dos 100 mil milhões de dólares que o Fundo Monetário Internacional diz que vão ser investidos no país na próxima década possam vir de bancos locais, não tanto para os megaprojetos em curso, mas sim para toda a indústria de apoio que está a ser montada.

“Os bancos locais não têm o calibre financeiro para apoiar grandes projetos e negócios financeiros na indústria do gás, mas há um potencial significativo para entrar nas indústrias satélites que vão emergir como empresas locais de serviços aos promotores multinacionais”.

O futuro apresenta-se, assim, risonho: “a EIU espera que o crescimento da indústria bancária em Moçambique continue, com o crédito interno a crescer numa taxa anual de 21% em 2015 e 2016”, escrevem os analistas, concluindo que “o fluxo de grupos financeiros internacionais devem incutir mais competitividade no setor, o que por seu turno vai fazer com que as taxas dos empréstimos sejam mais baixas e que o acesso ao financiamento seja mais fácil”.

Fonte: Económico

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