O preço a que os produtores de eletricidade estão a vender a energia subiu 9% em julho devido à escassez de oferta das centrais hídricas, num contexto de recuperação da procura de energia.

O preço médio a que a eletricidade é transacionada no mercado grossista português alcançou em julho o valor mais alto do ano, subindo cerca de 9% face ao mês anterior, numa tendência que reflete um crescimento do consumo de energia e uma menor disponibilidade dos recursos hidroelétricos.

Os dados do Omie, operador do mercado em que são transacionados diariamente os contratos de compra e venda de eletricidade para Portugal e Espanha, revelam que em julho o preço médio grossista para a energia elétrica entregue em Portugal atingiu 59,6 euros por megawatt hora (MWh), mais 9% do que em junho e cerca de 40% acima do preço médio em fevereiro (42,6 euros por MWh), que foi o mês com o registo mais baixo do ano.

O preço médio de venda da energia no mercado ibérico de eletricidade (Mibel), no que diz respeito a Portugal, não foi só o mais alto deste ano: trata-se também do nível mais elevado desde dezembro de 2013, quando cada MWh de energia elétrica foi transacionado, em média, a 63 euros.

Desde fevereiro que o mercado ibérico tem assistido a uma subida do custo da energia elétrica em termos grossistas (à saída das centrais de produção, sem contabilizar os custos do transporte e distribuição da eletricidade nem os impostos aplicáveis). Esta tendência de alta responde não só a uma recuperação do consumo, mas também à menor disponibilidade de recursos renováveis.

Em fevereiro, a energia contratada para o mercado português foi abastecida em mais de 49% pelas fontes abrangidas pela produção no regime especial (PRE), isto é, as centrais que têm garantia de entrega à rede de toda a eletricidade que geram, com tarifas bonificadas (aqui se incluem parques eólicos, mini-hídricas, centrais solares, centrais a biomassa, entre outras). Embora esse regime garanta preços pré-definidos, toda a sua energia vai ao mercado para ajudar a satisfazer a procura.

Os volumes de eletricidade que o mercado (seja o português ou o espanhol) esteja a consumir e não sejam satisfeitos pela energia da PRE são então adquiridos pelas companhias elétricas aos produtores do regime ordinário, em que se incluem, entre outras fontes, as grandes centrais hidroelétricas e as termoelétricas a carvão e gás natural.

Do casamento entre a oferta e procura resultam os preços grossistas da eletricidade. E em fevereiro a elevada oferta da PRE (49% do consumo total) e das grandes barragens (quase 28%) reduziu a necessidade de recurso a energia das centrais termoelétricas (o carvão satisfez 21% da procura em fevereiro e o gás natural menos de 2%).

Mas desde fevereiro que a oferta de recursos renováveis tem vindo a diminuir. O contributo da PRE para o volume de eletricidade consumido em Portugal em julho caiu para cerca de 39%, segundo os dados do Omie, ao mesmo tempo que o peso das grandes centrais hídricas recuou para pouco mais de 10%. Ou seja, entre fevereiro e julho a quota conjunta da PRE e das grandes hídricas no mercado grossista português baixou de 77% para 49%. O que obrigou as companhias de eletricidade a adquirirem mais energia às centrais alimentadas a carvão e a gás natural.

Preços ainda dentro das previsões do regulador

O preço grossista no Mibel é uma referência relevante na formação das tarifas de eletricidade, já que todos os anos, ao anunciar as variações tarifárias, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) assume determinados pressupostos relativamente ao preço grossista. Quanto maiores forem os desvios entre esses pressupostos e os preços grossistas efetivamente praticados no Mibel, maiores serão as necessidades posteriores de acertos (para cima ou para baixo) nas tarifas elétricas.

Para 2015 a ERSE previu um custo médio de aquisição de eletricidade pelo comercializador de último recurso (a EDP Serviço Universal) na casa dos 55 euros por MWh. Embora em julho o preço médio grossista tenha ficado acima desse patamar, no conjunto dos primeiros sete meses do ano o preço médio ronda os 49 euros por MWh.

A EDP, na sua prestação de contas do primeiro semestre, na semana passada, já havia reportado sinais positivos no mercado elétrico, com a procura de eletricidade na primeira metade do ano a crescer 1,2% em Portugal, face ao mesmo período do ano passado. No entanto, ajustado às variações de temperatura e de dias úteis, o consumo em Portugal permaneceu estável face ao ano passado.

A elétrica presidida por António Mexia realçou, aliás, o facto de no segundo trimestre o sistema elétrico português ter conseguido gerar um excedente tarifário (ao contrário do que vinha acontecendo até ao início deste ano). Embora residual (cerca de 10 milhões de euros), esse excedente poderá ser um marco do início de uma progressiva redução da dívida tarifária acumulada no sector elétrico nacional (dívida essa que ronda hoje os 5,3 mil milhões de euros).

O saldo tarifário positivo do segundo trimestre terá sido alavancado, segundo as fontes ouvidas pelo Expresso, num crescimento do consumo de energia um pouco acima do projetado.

O pico no preço grossista da energia elétrica que se verificou em julho lança agora um sinal de alerta. Uma eventual tendência de alta no custo da energia no Mibel poderá pôr em causa os pressupostos tarifários da ERSE, gerando desvios face às estimativas do regulador e obrigando a ajustes de preços adicionais no próximo ano. Mas sobre isso só haverá mais detalhes no final do ano.

Fonte: Expresso

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