Apesar de alguns sinais positivos de que o endividamento da economia e empresas começa a regredir, estamos ainda entre os mais endividados da Europa.

O elevado endividamento da economia nacional é um dos maiores dramas do país: famílias sobreendividadas, empresas sobreendividadas, Estado sobre-endividado. O ano de 2015 registou já alguns sinais de melhoria, com a descida do endividamento médio das empresas portuguesas, o que juntamente com a redução das taxas de juro de referência, levou a uma baixa do custo da dívida para mínimos desde 2006, tendo-se fixado nos 3,7%.

Contudo, os números de 2015 são ainda bastante elevados e claramente acima da média europeia. Segundo alerta o Boletim Económico do Banco de Portugal, as empresas não financeiras portuguesas, têm reduzido muito lentamente o seu rácio de endividamento, de apenas quatro pontos percentuais entre o final de 2012 e o final de 2015, ano em que as empresas permaneciam num nível de endividamento de 49%. “No contexto da crise financeira global de 2008, o endividamento excessivo das empresas não financeiras foi apontado como um dos principais desequilíbrios existentes na área do euro, com particular destaque para alguns dos seus países-membros, como Portugal e Espanha”, como pode ler-se no referido relatório.

No final de 2015, o endividamento das empresas portuguesas não financeiras ascendeu a 235,5 mil milhões de euros, sendo que deste montante, cerca de 156 mil milhões de euros correspondem a Pequenas e Médias Empresas (PME) e cerca de 79 mil milhões de euros referentes a grandes empresas. Já o endividamento das empresas do setor público ascendeu a 43,6 mil milhões de euros. Segundo dados consolidados do Banco de Portugal dos últimos anos o endividamento das grandes empresas foi o que mais cresceu na última década: as PME passaram de 155,8 mil milhões de endividamento em 2007 para 155,9 mil milhões em 2015, e as grandes empresas passaram cresceram de 64,7 para 79,5 milhões.

O top 10 de endividamento em empresas de bens elaborado pela Ignios mostra claramente que a EDP está em destaque, sendo a única empresa do Top 100 presente neste ranking. Este destaque foi devido à enorme diferença no grau de absorção do EBITDAR, bem como uma tendência para o ganho de posições no ranking global das empresas mais endividadas. Já no que diz respeito às empresas de serviços, o destaque vai para o setor dos transportes, com três empresas presentes no Top 10.

As mais endividadas na produção de bens

A liderar a lista das mais endividadas na categoria de bens surge a Alstom Portugal, herdeira de várias empresas portugueses integradas no grupo Alstom ao longo dos anos, através de fusões e aquisições. Após a venda do seu negócio de energia à GE, em 2014, a Alstom, com presença física em Águeda e Lisboa, focou-se inteiramente no sector dos transportes. Com um volume de negócios de 37,2 milhões de euros são sobretudo os maus rácios de endividamento remunerado sobre o EBITDAR (-8,7%), e grau de absorção de EBITDAR (-8,8%) que determinam que a Alstom seja a empresa no topo do ranking de endividamento em Portugal.

Segue-se a EDP – Energias de Portugal S.A, do grupo EDP, o maior operador energético da Península Ibérica e o terceiro maior produtor mundial de energia eólica. Além do sector elétrico – produção, distribuição e comercialização – a EDP tem também uma presença relevante no sector do gás da Península Ibérica. Porém, e apesar de registar um crescimento de 15% no volume de negócios, atingindo quase os 3 mil milhões de euros, a EDP tem um grau de absorção do EBITDAR de -3105%, o que, juntamente com um rácio de endividamento remunerado sobre o EBITDAR de -295%, a coloca em segundo lugar nesta lista. Na terceira posição surge a Iberwind, sedeada em Oeiras, especializada na operação e manutenção dos Parques Eólicos. Esta atua em Portugal através da promoção, desenvolvimento e operação de projetos de energias renováveis, permitindo a produção de energia limpa e renovável. Registou em 2015 um volume de negócios de 47,3 milhões de euros e um EBIDTAR de 38,2 milhões, o que lhe atribui em segundo lugar do endividamento, sobretudo devido ao seu rácio de endividamento remunerado sobre o investimento, de 77,40%.

Nos serviços, destaca-se na primeira posição a Metro do Porto, detentora de uma das maiores redes de metropolitano ligeiro da Europa. Em 2015, a Metro do Porto, conseguiu um volume de negócios de aproximadamente de 43 milhões de euros e está nesta posição porque registou um grau de absorção do EBITDAR de -1465%, e rácios de endividamento remunerado por EBITDAR e investimento de, respetivamente, -447% e de 155%.

No segundo lugar surge a CP – Comboios de Portugal, entidade pública detida integralmente pelo Estado que registou em, em 2015, cerca 242 milhões de euros de volume de negócios. Contudo, e em linha com outras empresas do setor, apresenta um índice de endividamento significativo, aparecendo nesta posição devido, sobretudo, a um elevado rácio de endividamento remunerado sobre o investimento, que ascende a 495%.

Por último, no top 3, encontra-se a SDSR, Sports Division, mais conhecida como a cadeia de lojas de marca Sport Zone, a maior cadeia de lojas de desporto em Portugal Em 2015, a SDSR. obteve um volume de negócios de 197 milhões de euros com uma fatia de quase 10% deste valor relativa a exportações. Ainda assim, a SDSR tem um mau grau de absorção de EBITDAR (-609%) e um rácio de endividamento remunerado sobre o investimento (-256%), aparecendo, consequentemente, na lista das mais endividadas.

Fonte: Dinheiro Vivo

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