Num artigo arrasador para as políticas implementadas na Europa, o Nobel da Economia defende que se o “não” ganhar no referendo grego o país enfrenta ameaças no curto prazo com a saída do euro, mas ganha uma hipótese real de recuperação.
Paul Krugman volta esta sexta-feira a escrever um artigo onde critica violentamente a política de austeridade seguida na Europa, que provou “desastres” numa série de países.
Numa altura que todos os olhos estão centrados na Grécia, devido ao referendo deste domingo, o Nobel da Economia chama a atenção para o que se passa numa série de outros países da Zona Euro.
Começa pela Finlândia, ironizando que este país “não poderia ser mais diferente dos corruptos e irresponsáveis” países do Sul da Europa, além de ser um “modelo de sociedade europeia, com um governo honesto, finanças públicas sólidas, rating sólido e que consegue financiar-se nos mercados a taxas incrivelmente reduzidas”.
Contudo, Krugman assinala que oito anos de crise económica na Finlândia cortaram o PIB per capita no país em 10% e “não há sinais de que pare por aqui”, pelo que se não fosse a crise no Sul, a Finlândia poderia “muito bem ser vista como o desastre épico europeu”.
O economista norte-americano salienta que a Finlândia não está sozinha, incluindo na galeria dos “desastres europeus” outros países do Norte da Europa, desde a Dinamarca (“não está no euro mas age como se estivesse”) à Holanda.
E também outros países do Sul da Europa. Alega que os responsáveis europeus estão a vender a recuperação espanhola como um sucesso, mas o país tem uma “taxa de desemprego de quase 23% e o PIB per capital está ainda 7% abaixo dos níveis pré-crise”.
Também Portugal é citado por Krugman para defender os maus resultados das políticas implementadas na Europa. “Portugal também obedeceu à ordem para implementar uma dura austeridade e está agora 6% mais pobre do que antes”, refere Krugman.
O economista defende que todas estas economias têm em comum o facto de terem aderido ao euro, o que as colocou num “colete de forças”. Krugman sempre foi um crítico da criação do euro e no artigo de hoje volta a deixar críticas à moeda única, mas “tal não quer dizer que seja altura de acabar” com a moeda única. “O que é urgente é aliviar o colete de forças”, salienta.
Grécia pode ter hipótese real de recuperação se sair do euro
Voltando à questão do referendo grego – Krugman já tinha defendido o voto no “não” – o economista entende que se ganhar o “sim”, os gregos estarão a dar “poder e coragem aos arquitectos do falhanço da Europa”.
“Os credores já demostraram a sua força e capacidade de humilhar quem desafiar as suas exigências de austeridade sem fim. E vão continuar a reclamar que impor desemprego em massa é o único caminho responsável”.
Reconhecendo que se o “não” sair vitorioso no domingo a Grécia enfrenta um período “assustador e terreno desconhecido” e pode ter que sair do euro, Krugman contrapõe que este cenário “oferece à Grécia uma hipótese real de recuperação” e será um “choque para a complacência das elites europeias”.
Krugman finaliza o artigo num apelo aos gregos para votar “não”. “É razoável temer as consequências de um voto no ‘não’, porque ninguém sabe o que virá a seguir. Mas deverá temer ainda mais as consequências de um voto no ‘sim’, pois nesse caso já sabemos o que virá a seguir – mais austeridade, mais desastres e eventualmente uma crise muito pior do que algo que já tenhamos visto até agora”, refere.
Fonte: Negócios