A unidade de Coruche é uma das várias que a Amorim tem em Portugal e é também o local onde foi criada a maior fábrica de rolhas à escala mundial.

A cortiça que parte daqui chega a todo o Mundo e é também utilizada em outras áreas, da indústria aeroespacial ao design.

Na área industrial de Coruche, um espaço equivalente a dez campos de futebol onde estão expostas milhões de pranchas de cortiça, o silêncio é interrompido por Fátima Pires. A funcionária do grupo Amorim conduz uma empilhadora que transporta cortiça de um lado para o outro. É assim há 18 anos, pouco depois do nascer do Sol. Apesar de a tarefa parecer rotineira, Fátima não se distrai nem um segundo. “É preciso ter cuidado porque há locais onde o terreno é muito acidentado. Gosto muito do que faço e o tempo passa a correr.” Perto dali outros funcionários dedicam-se ao corte da matéria-prima. Usam luvas especiais e têm toda a precisão no corte. É que, no mundo da cortiça, nada se desperdiça. “Há partes que são usadas como fontes de energia”, dizem.

A unidade de Coruche é uma das várias que a Amorim tem em Portugal e é também o local onde foi criada a maior fábrica de rolhas do Mundo. O crescente número de interessados na cortiça leva mais longe o produto e o nome de Portugal. Além disso, há um ritual em torno da cortiça que passa pela tradição mas sempre com uma componente de inovação. Anualmente, a empresa serve 22 mil clientes, dos quais 15 mil na área do vinho. Por isso, uma rolha nunca é só uma rolha.

“Mesmo em áreas de actividade onde essa inovação seria mais difícil de obter, como é o caso das rolhas, a corticeira Amorim tem conseguido inovar. E há pouco tempo lançámos em Portugal e no Mundo a primeira rolha que não necessita de saca-rolhas para ser aberta e tão pouco necessita de um instrumento especial para voltar a fechar. Permite o consumo fraccionado do vinho e a conveniência nesse segmento é muito importante. Mais uma novidade que pode reforçar a liderança mundial da empresa nesta área”, explica Carlos de Jesus, director de marketing e comunicação da referida corticeira.

“A corticeira Amorim é o maior fabricante mundial de vedantes para vinho e de rolhas.”

O ano passado pela primeira vez rompemos a barreira das quatro mil milhões de unidades produzidas. Obviamente teríamos de contar também com a maior fábrica de rolhas do Mundo que existe aqui em Coruche”, sublinha o responsável.

O turismo industrial na cortiça
O turismo industrial pode ser a vertente menos conhecida do turismo, mas começa agora a dar que falar. Que o diga a corticeira Amorim para a qual este negócio de nicho – que pode também dar novos estímulos a algumas regiões em Portugal – já é interessante. “Não foi só o stand nacional na FITUR, na grande feira nacional de turismo, que foi feito em cortiça. Cada vez temos recebido um número mais interessante de turistas, cerca de 700 no último ano, vindos de diversos países, mas com uma predominância dos Estados Unidos e também de França”, explica Carlos de Jesus.

Ao fim de quatro anos de pesquisa e desenvolvimento, a corticeira Amorim e a norte-americana O-I – líderes mundiais nos sectores de cortiça e embalagens de vidro – surpreenderam o mercado com um conceito inovador chamado Helix que combina uma rolha de cortiça ergonomicamente desenvolvida e uma garrafa de vidro com uma rosca interior no gargalo, dando origem a uma sofisticada solução de elevada ‘performance’ técnica. Congrega assim todos os benefícios da cortiça e do vidro – qualidade, sustentabilidade e imagem ‘premium’ – a que se juntam as mais-valias de uma abertura simples e uma fácil reinserção da rolha.

Em Portugal, em parceria com a Quercus, o programa de reciclagem de rolhas usadas é intitulado “Green Cork” e visa não só a transformação das rolhas usadas noutros produtos, mas também o apoio ao programa “Floresta Comum”, prevendo a plantação de árvores da floresta autóctone nacional, tais como o sobreiro. Ao abrigo desta iniciativa, as rolhas usadas são trituradas e os grânulos daí resultantes são incorporados em novas aplicações, desde revestimentos, produtos de construção ou bens de consumo a toda e qualquer aplicação, com excepção para a rolha de cortiça.

Mas a inovação e as aplicações da cortiça não ficam pelas rolhas e vedantes de vinho. “Também temos outras áreas. Da indústria aeroespacial, ao design, a própria construção pesada (barragens ou pistas de aeroportos) e cada vez mais inovamos olhando e aproveitando a própria estrutura celular da cortiça”, indica o director de marketing e comunicação. Presente em mais de 100 países, a empresa é uma das maiores embaixadoras portuguesas quando o tema são as exportações, mas os responsáveis acreditam que ainda há espaço para crescer.

Com uma origem que remonta ao século XIX a empresa cedo percebeu o potencial infinito desta matéria-prima 100% natural, transformando-a num objecto de eleição.

Nos últimos 15 anos, a Amorim investiu em investigação e desenvolvimento, bem como em inovação e o resultado é um portefólio de produtos e soluções de elevado valor acrescentado, antecipando as tendências do mercado e superando expectativas de algumas das mais exigentes indústrias a nível mundial.

A sua assinatura está nas rolhas dos melhores vinhos, nos mais improváveis objectos do quotidiano, artigos de desporto olímpico, absorventes de óleos e solventes orgânicos, obras de referência mundial, projectos rodoviários e ferroviários de última geração e até em naves espaciais. No panorama da criatividade contemporânea, desafia designers, cientistas e arquitectos a explorarem as infinitas potencialidades da cortiça.

A actividade da corticeira “procura ser um exemplo único de economia verde, assente num equilíbrio entre as questões económicas, sociais e ambientais”. Preocupações constantes “pela adopção e reforço de práticas de desenvolvimento sustentável” fazem da empresa “uma das mais sustentáveis do Mundo”.

Nos anos 60, “iniciou um processo do negócio da cortiça e de internacionalização das actividades” sob o lema “nem um só mercado, nem um só cliente, nem uma só divisa, nem um só produto”. Na unidade de Coruche, Fátima Pires, que conduz a empilhadora, sabe da história da empresa. “Não trocava o meu emprego por outro.”

Fonte: Económico

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