A economia terá crescido 1,5% no segundo trimestre, em termos homólogos, e 0,4% em cadeia. Veja as conclusões que daí se podem tirar.

Já falta pouco paras as eleições e os partidos têm utilizado todos os números possíveis para trocas de acusações. As leituras são sempre diferentes, consoante dá mais jeito a cada um. Na sexta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou mais um número: o do PIB no segundo trimestre. Eis as leituras que devem ser feitas sobre o crescimento da economia.

1 Devemos olhar para que número? 1,5% ou 0,4%?
Para uma análise mais completa, convém olhar para ambos, porque cada um deles dá sinais diferentes. Por norma, o crescimento homólogo, que no segundo trimestre foi de 1,5%, é o indicador mais correcto para se fazer uma análise do crescimento, porque elimina questões de sazonalidade, por exemplo. No entanto, os anos de crise trouxeram também uma maior atenção ao crescimento em cadeia (que neste caso foi de 0,4%), porque é por aí que se vê quando uma economia entra em recessão técnica – a partir do momento em que soma dois trimestres consecutivos de quebras em cadeia no PIB.

2 E o 1,5% é bom? 
O crescimento de 1,5% é um bom sinal, por várias razões. Desde logo, porque mantém a tendência de recuperação da economia. Depois, porque a economia está a crescer a um ritmo estável e dentro das previsões do Governo. O Programa de Estabilidade aponta para um crescimento do PIB de 1,6% em 2015. Na primeira metade do ano, o crescimento terá sido na ordem de 1,5%, pelo que, se o ritmo não abrandar, a economia vai terminar o ano em linha com o que está perspectivado. É bom também por causa das metas orçamentais e da dívida, já que as previsões inscritas no Orçamento e no Programa de Estabilidade se baseiam nestes valores.

3 A economia está a recuperar?
Sim, a tendência nesta altura é de recuperação. Já lá vão sete trimestres consecutivos de crescimento homólogo – desde os últimos três meses de 2013. O ritmo continua longe do desejado para aquilo que são as necessidades de redução da dívida pública e é verdade que a economia afundou muito nos anos da troika e o crescimento que se verifica nesta altura é face a esse ponto mínimo que foi atingido. Estamos ainda a tentar sair do buraco. No entanto, note-se, por exemplo, que no segundo trimestre deste ano o PIB cresceu 1,5% face ao segundo trimestre do ano passado, em que se registou um aumento de 0,9%. Ou seja, é crescimento sobre um período de crescimento, o que reforça a leitura de uma tendência de recuperação.

4 A economia está melhor do que estava em 2011?
Não. Portugal continua longe daquilo que era a riqueza produzida em 2010, ano antes de a troika chegar, e até mesmo em 2011, ano em que chegou. Para este ano, prevê-se que o PIB ande em torno de 170,5 mil milhões de euros. Em 2010, a riqueza produzida pelo país foi de 179,4 mil milhões (e não estávamos sequer no pico do crescimento, porque a crise mundial de 2009 já tinha destruído riqueza). Em 2011, já com uma recessão de 1,8% em cima, foi de 176,2 mil milhões. Mesmo em termos trimestrais, o ritmo continua longe do período pré-troika. No segundo trimestre deste ano, o PIB terá somado cerca de 42,5 mil milhões de euros, face aos 44,9 mil milhões do segundo trimestre de 2010.

5 Estamos perto de recuperar a riqueza destruída durante a era da troika?
Não. Tendo 2010 como ponto de partida, os primeiros três anos do programa de ajustamento, todos eles de recessão, ditaram uma quebra acumulada de 7,5%. Em 2014, ano em que a troika deixou o país, a economia já cresceu 0,9%, o que deixa a quebra acumulada em quatro anos nos 6,6%. Para se perceber melhor: o PIB no ano passado foi 11,6 mil milhões de euros mais baixo do que em 2010. Este ano, ainda será inferior ao último ano pré-troika em 8,9 mil milhões.
-11,6 mil milhões

6 O crescimento é mais sustentado?
Em boa verdade, parece ser demasiado cedo para se fazer tal afirmação. O crescimento que se vem registando desde o final de 2013 tem sido apoiado nas exportações, mas também na procura interna. Aliás, foi quando o consumo privado começou a recuperar que o ritmo de crescimento acelerou. De acordo com o INE, no segundo trimestre a economia cresceu com o contributo positivo da procura interna e negativo da procura externa líquida. Há sinais animadores, como o facto de o investimento ter sido o que mais puxou pelo PIB. Mas, além de o crescimento do investimento ser face a vários anos de quebras na ordem dos dois dígitos, a aceleração no segundo trimestre deveu-se muito à variação de existências. O saldo externo e o saldo comercial são agora positivos, mas é cedo para saber se os excedentes se vão manter a médio prazo, ou se vão ser revertidos quando o consumo acelerar, aumentando por arrasto as importações.

7 Portugal está entre os países que mais crescem? 
Mais ou menos. No ano passado, o crescimento de 0,9% ficou muito aquém do registado por vários outros países da zona euro, como Irlanda e Espanha, por exemplo, e até de países mais pequenos, como Malta. Mas também ficou acima de algumas grandes economias como França e Itália. Em termos trimestrais, a mesma coisa: Portugal está a crescer a maior ritmo que vários países, mas anda longe dos lugares cimeiros.

8 Estamos a convergir com a europa? 
Nem por isso. Em termos anuais, Portugal cresceu no ano passado apenas mais uma décima do que a zona euro e menos quatro do que a União Europeia. Isto depois de três anos a destruir riqueza a um ritmo bem mais rápido. Em termos trimestrais, a economia nacional está nesta altura a crescer a um ritmo semelhante ao da média do euro, não mais do que isso. E no que toca ao PIB medido pelo poder de compra, que ajuda a perceber melhor a diferença face à média europeia, passou de pouco mais de 79% em 2010 para cerca de 75% no final do ano passado.

Fonte: Económico

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