A baixa produção de azeite em 2015 fez esgotar os stocks mundiais. Portugal beneficiou da falta em Espanha e Itália.
Portugal deverá neste ano produzir cerca de cem mil toneladas de azeite – um valor recorde em quase seis décadas – mas tal não significa que o preço, que no ano passado subiu, venha agora a cair, já que os stocks mundiais de azeite estão praticamente esgotados. Sinal positivo é que Portugal tem beneficiado da falta deste produto – associado a uma alimentação saudável -, em países como Espanha e Itália, aumentando as exportações para estes dois destinos.
Em 2015, as exportações portuguesas de azeite deverão ter crescido mais de 15% para 431,5 milhões de euros. Uma performance interessante, sobretudo se atendermos a que o Brasil e Angola, os principais destinos do azeite engarrafado português, se debatem com graves dificuldades internas. Não admira, por isso, que as vendas para o Brasil tenham caído 9,5% para 149 milhões de euros, segundo os dados do INE, e que a quebra para Angola seja de 14%, não indo além dos 15,4 milhões de euros.
Em contrapartida, as exportações para Espanha cresceram 52%, para 171,8 milhões de euros, e para Itália aumentaram 45% para 55,8 milhões. Há que ter em conta que estas são vendas de azeite a granel, com menor valor acrescentado, como lembra Mariana Matos, da Casa do Azeite. De qualquer forma, e ainda segundo os dados do INE, as vendas de azeite português para Espanha mais do que duplicaram e para Itália mais do que quadruplicaram desde 2012.
Do lado de lá da fronteira, os espanhóis temem que a produção prevista de azeitona neste ano, um pouco acima de um milhão de toneladas, se revele, mais uma vez, curta para abastecer as necessidades internas e externas. É que a campanha anterior não foi além das 800 mil toneladas, o que obrigou a recorrer aos stocks existentes. As más condições climatéricas foram responsáveis por uma quebra na produção mundial da ordem dos 29% em 2015, mas Espanha e Itália, os dois maiores produtores mundiais, estimaram perdas superiores a 50%. A região da Apúlia, em Itália, sentiu ainda os efeitos da doença causada pela bactéria Xylella fastidiosa, vulgo praga das oliveiras.
A escassez na oferta fez disparar os preços, com aumentos de 20% para o consumidor europeu. Mas Mariana Matos garante que foram as empresas a suportar a maior parte, por via da redução de margens. “O preço do azeite na origem, pago pelo preço da azeitona, teve um aumento na ordem dos 60%.” Um valor que não poderia ser “totalmente repercutido na prateleira”, sob pena de os consumidores substituírem o azeite por óleos e margarinas.
“Quando o preço do azeite sobe muito, as pessoas começam a usar produtos alternativos”, reconhece Francisco Ataíde Pavão, responsável pela produção de alguns dos principais azeites premium em Portugal, como o Casa de Santo Amaro, ou os da Quinta do Crasto, do Vale Meão e do Vallado. Mas não se pense que o aumento da oferta, neste ano, levará a uma redução significativa de preços. “Os stocks mundiais estão muito, muito baixos e nestas situações os preços nunca baixam muito”, frisa Mariana Matos.
Fonte: Dinheiro Vivo