Dados do Banco de Portugal mostram a importância da crise da construção na desalavancagem das empresas portuguesas desde a chegada da troika a Portugal.

Um sector em crise é muitas vezes obrigado a ajustar a sua dívida à banca. Foi isso que fez a construção, mais do que qualquer outro ramo de actividade em Portugal. Entre Junho de 2011 e Junho de 2016, a dívida das empresas deste ramo de actividade contraiu mais de 10,5 mil milhões de euros. No mesmo período, a dívida total das empresas privadas recuou 20,4 mil milhões. Isto é, metade da desalavancagem empresarial veio da construção.

Em Junho de 2011, a totalidade das empresas privadas portuguesas devia 281 mil milhões de euros. Hoje, cinco anos depois e após o programa de ajustamento da troika, esse valor recuou para 261 mil milhões. Um ajustamento de -7,3% que fica aquém do esforço feito pelas famílias, cujo endividamento caiu 12,9%. Além disso, o recuo que se observa deve-se em grande parte à construção, cujo endividamento, nesse período, caiu de 40 para perto de 30 mil milhões de euros. Uma contracção de 26%, de longe a maior entre todos os ramos de actividade da economia.

Recorde-se que a construção atravessou uma crise profunda em Portugal, com despedimentos, falências e, obviamente, um aumento significativo do seu crédito malparado junto dos bancos. Nestes cinco anos, o malparado do sector quadruplicou, representando agora quase 36% da sua dívida total. Esta realidade faz com que as empresas de construção tenham menos motivos para pedir crédito e os bancos tenham menos incentivos para lhes emprestarem.

Aliás, esta crise revela-se também na desalavancagem de outro sector: as actividades imobiliárias reduziram o seu endividamento em 13%, menos 3,5 mil milhões de euros.

Entre 2011 e 2016, dos 12 sectores para os quais o Banco de Portugal tem dados, quatro deles viram o seu endividamento agravar-se. O destaque vai para dois: electricidade, gás e água (mais 7,1 mil milhões de euros); e transportes e armazenagem (1,8 mil milhões). Alojamento e restauração (500 milhões) e “outras actividades” (200 milhões) também devem mais hoje do que há cinco anos.

Em todos os outros há um recuo. O mais significativo pertenceu à indústria que, embora percentualmente tenha sido de apenas -12%, ajustou -5,4 mil milhões de euros. Além do já referido imobiliário, o comércio deve hoje menos 3,7 mil milhões (-8%) e as actividades administrativas e de consultoria menos 2,8 mil milhões (-15%).

Microempresas foram as que menos ajustaram

Se a análise for feita em função da dimensão das firmas, nestes últimos cinco anos as pequenas empresas foram as que mais ajustaram a sua dívida. O seu endividamento passou de 29% para 23% do PIB. Já as empresas médias devem hoje menos 3,2 pontos de PIB, enquanto as grandes menos 2,8 pontos. As que menos ajustaram foram as microempresas, com apenas menos 1 ponto percentual face a Junho de 2011.

O endividamento das empresas privadas portuguesas está essencialmente concentrado nas microempresas (a grande maioria do tecido empresarial nacional) e nas grandes empresas. As duas juntas representam quase dois terços do endividamento. Ao contrário das pequenas e das médias – que seguiram uma tendência de desagravamento desde 2011 -, as micro e as grandes viram a sua dívida crescer até meados de 2013, tendo só aí começado a ajustar. Se a comparação for feita face aos seus picos de endividamento, as grandes empresas registam uma descida de 7,7 pontos do PIB da sua dívida e as micro cinco pontos.

Fonte: Negócios

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