Ganhar a vida a trabalhar a terra está a surtir efeitos positivos. Depois de anos de abandono, a agricultura volta a evidenciar sinais vitais julgados perdidos. Se o declínio marcou a atividade na última década, tudo se inverteu desde há quatro anos, contrariando o agudizar da crise económica.
Em 2011, o sector agrícola representava cerca de 8% das empresas, 9% do número de trabalhadores e 14% do volume de negócios de todo o ramo empresarial não financeiro, de acordo com o Banco de Portugal (BdP).
A grande maioria das empresas (82%) é micro, embora os maiores contributos para o volume de negócios sejam originados nas PME (50%) e grandes empresas (39%). O BdP inclui no sector empresas de produção, indústria e comércio de produtos agrícolas.
Traduzindo em números, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apurou haver 43.972 empresas da atividade agrícola no final de 2010, que contribuíram com 1% para o VAB gerado no sector empresarial não financeiro. As de maior dimensão económica estão relacionadas com a produção animal.
Na generalidade, as empresas agrícolas estão sobretudo nas mãos de empresários em nome individual ou trabalhadores independentes, sendo a mão-de-obra baseada essencialmente na estrutura familiar e constituída por 793 mil pessoas que trabalham nas explorações (menos 36% dos que os recenseados em 1999).
Considerando o período 2004-2010, houve uma diminuição média anual de 0,3% no número de empresas, e, ao contrário do que aconteceu na década, houve um ligeiro aumento de 0,7% ao ano no número de pessoas ao serviço. O volume de negócios cresceu 2,1%, em média anual (até atingir 3,8 mil milhões de euros em 2010), acompanhando uma subida no valor da produção, na ordem dos 2,7% ao ano.
O dinamismo é também visível na autossuficiência já alcançada. Os últimos dados do INE indicam que o país é autossuficiente no vinho, mas o azeite, ovos, hortícolas e frutos frescos estão muito próximo dos 100% para abastecer o país.
As próprias exportações estão em alta. No último trimestre do ano passado, a classe de alimentos e bebidas cresceu 4,1%, para 1305 milhões de euros, enquanto as importações diminuíram 1,6%, face a igual período do ano anterior.
Os protagonistas confirmam
“Houve um crescimento no setor, em 2012, que se refletiu num aumento das exportações e num aumento da capacidade para criar emprego. E, embora tenha vindo a diminuir o número de produtores, a produtividade tem vindo a crescer, bem como o uso de tecnologia”, destacou Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
Já João Dinis, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), sustenta que “nos últimos cinco anos, a agricultura tem evoluído a duas ou três velocidades: há uma parte, a superintensiva ou intensiva, que está concentrada e nas mãos de grandes empresas, que tem tido grande crescimento”. É aí que situa as produções industriais da floresta, hortícolas, azeite, vinho e leite. “Depois, há uma agricultura de médias empresas ligadas àqueles setores. E há ainda uma agricultura familiar tradicional, em comunhão com a natureza, e não em exploração, que tem falta de escoamento dos produtos e que tem de suportar preços baixos na produção”. O dirigente da CNA chama ainda atenção para outros constrangimentos ao crescimento da pequena agricultura, como a “ditadura dos hipermercados”, o corte nas ajudas públicas ao setor e as novas regras fiscais.
O que produzir
Apesar dos obstáculos, há auspícios agrícolas promissores e, no contexto, daria jeito saber em que culturas apostar. Embora neste ponto não haja ciência feita, os peritos dão uma ajuda.
Para Luís Mira, há que ter em conta três condições, antes de se decidir fazer um investimento na agricultura: “Saber quais as características de solo e do clima do local da exploração; saber se há mercado para as produções; e garantir conhecimento técnico para saber produzir”.
João Dinis, reportando-se ao mercado interno, defende: “Temos de produzir para alimentar, e não só apostar no eucalipto. As culturas estratégicas são: carne, leite, cereais e as componentes das rações animais”.
Fonte: Dinheiro Vivo