A banca portuguesa empresta pouco às empresas e fá-lo a custos recorde em termos europeus, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI), que vem assim rebater recentes declarações dos banqueiros portugueses que dizem que só não vendem mais crédito porque não há procura.

No relatório sobre a estabilidade financeira global, que ontem foi publicado, o FMI mostra que em fevereiro de 2013 a banca portuguesa estava a praticar uma taxa de juro média real de crédito às empresas superior a 3,5%, valor que não tem paralelo nos 12 países analisados (Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França, Finlândia, Alemanha e Áustria). A segunda taxa de juro média mais elevada é praticada na Grécia, mas é mais leve, rondando 1,8%.

No período de dezembro de 2010 a janeiro de 2013, Portugal registou o segundo maior aumento do grupo analisado ao nível da taxa de juro média nominal cobrada nos novos empréstimos a empresas, repara o FMI. O maior aumento foi em Itália, à volta de 0,8 pontos percentuais; logo a seguir vem Portugal com cerca de 0,5 pontos de agravamento.

O custo real do financiamento às empresas – que reflete a taxa de inflação relativamente baixa – é um dos constrangimentos à criação de emprego e à retoma da economia, observa o Fundo.

“As diferenças entre a periferia

[grupo no qual está Portugal] e o centro em termos de taxas e de custos de empréstimo às empresas continuam a persistir, pois a reparação dos bancos ainda está incompleta e os custos de financiamento são superiores para os bancos e os soberanos da periferia. O crédito à economia real permanece contido (especialmente na periferia e no segmento das pequenas e médias empresas), o que reforça a divergência nos resultados económicos” entre os países do centro e os restantes.

Claro que tudo isto acaba por gerar um ciclo viciosos. A rarefação do crédito prejudica a procura, que por sua vez afeta a economia real e as expectativas de retoma, e assim deixa de haver procura por empréstimos para novos projetos de investimento, sendo que os bancos só emprestarão a taxas de juro mais elevadas já que o risco é sempre mais alto nestas condições recessivas ou pobres.

Por outro lado, o FMI também repara que as empresas portuguesas continuam demasiado alavancadas (dependentes do crédito bancário). Portugal e Espanha são os países cujas firmas “fracas” registam níveis de alavancagem “mais elevados e insustentáveis”, o que consiste numa ameaça para os próprios bancos. O Fundo pede uma redobrada “vigilância” da parte dos supervisores relativamente à qualidade dos ativos bancários.

Mas nem só as empresas mais débeis são apontadas. O relatório do FMI considera que cerca de 45% das cotadas não-financeiras portuguesas estarão “excessivamente endividadas”, número que em Espanha ultrapassa as 35%, mas que em França ronda os 10% e na Alemanha não chega a 5%.

O FMI estima, ainda, que o endividamento médio das empresas portuguesas ronde 48% dos seus ativos. O ideal seria que se situasse no valor máximo de 35%.

Fonte: Dinheiro Vivo

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