As taxas de juro excepcionalmente baixas oferecidas pelos bancos centrais europeus e norte-americano estão a abrir o apetite dos investidores por produtos financeiros de alto risco que prometem retornos mais elevados. Há quem veja semelhanças com o contexto que antecedeu a crise financeira de 2007.

“Sem alarde, eles estão de volta”. Assim começa uma reportagem publicada nesta terça-feira no “Le Monde”, onde se chama a atenção para o forte crescimento recente nas transacções de instrumentos financeiros complexos que estiveram por detrás da crise financeira despoletada em 2007, e para o renascimento da banca de investimento norte-americana.

O alerta segue o de outras reportagens divulgadas na “The Economist” e no “New York Times”, que dão conta dos montantes crescentemente envolvidos em produtos estruturados que se escondem por detrás de siglas ainda hoje de má memória: os MBS (Mortgage Backed Securities, que conjugam vários tipos de dívida contratual, como hipotecas residenciais ou empréstimos para compra de automóveis), os CDO (obrigações de dívida garantida, que conjugam activos com um leque muito amplo de risco de crédito) e os CDS (Credit Default Swaps, que funcionam como um seguro contra o incumprimento de um contrato de crédito).

Mas o que estará exponencialmente a subir são as transacções de CLO (“collateralised loan obligations”), activos ligados não aos empréstimos imobiliários que estiveram na base da crise nos EUA, mas aos empréstimos comerciais às empresas, cujos elevados níveis de endividamento foram alvo de uma advertência recente do Fundo Monetário Internacional (FMI).

As taxas de juro excepcionalmente baixas nos Estados Unidos, mas também na Europa e no Japão, voltaram a abrir o apetite dos investidores por produtos financeiros de alto risco que prometem retornos mais elevados, numa similitude assustadora com o período que precedeu o colapso de Wall Street.  O “Le Monde” cita dados do Royal Bank of Scotland, segundo os quais neste ano foram já vendidos nos Estados Unidos 28 mil milhões de dólares de CLO, contra 12 mil milhões no mesmo período do ano passado.

Segundo o “Wall Street Journal”, são os bancos de investimento norte-americanos Morgan Stanley e JPMorgan que estão a montante deste negócio, sendo os “hedge funds” (fundos de alto risco) os principais clientes destes produtos. A regulamentação entretanto introduzida nos dois lados do Atlântico para a banca comercial limitou a sua capacidade, mas também a sua possibilidade de exposição a estes activos.

Contudo, o risco de uma crise financeira e o risco desta degenerar numa nova crise económica mundial poderá não ter sido reduzido, mas apenas transferido para instituições não financeiras que escapam à regulação. Em Abril último, no seu relatório anual de Estabilidade Financeira Global, o FMI chamava a atenção para este fenómeno e apontava o dedo às seguradoras mas, em particular, aos fundos de pensões norte-americanos, que “responderam ao ambiente de baixas taxas de juro aumentando a sua exposição ao risco”, para obterem maiores rentabilidades.

“Na ausência de medidas dirigidas às vulnerabilidades de médio prazo e na ausência de medidas para controlar os excessos de crédito quando eles aparecerem, um longo período de taxas de juro baixas pode abrir terreno para novos riscos à estabilidade financeira”, avisava o FMI.

Fonte: Negócios

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