Em 130 anos de história, a empresa esteve em risco diversas vezes. A aquisição pela Visabeira e uma campanha de marketing agressiva evitaram o fim do estilo único da sociedade das Caldas da Rainha.

Em 130 anos de história, a Bordallo Pinheiro teve morte anunciada várias vezes, mesmo durante a vida da sua principal figura, o criador do Zé Povinho, que acabou por dar o seu nome à empresa de cerâmica das Caldas. Em 2009, a sociedade centenária esteve seriamente ameaçada e foram os trabalhadores que se empenharam em salvar a Bordallo, com a ajuda do ministro da Economia da altura, Manuel Pinho. Acabou por ser a Visabeira a dar uma mão à empresa, comprando-a nesse ano e dando-lhe um fôlego inesperado. 

Criada em 1884 a “Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro” é dona de um estilo único, que salta à vista em qualquer casa: saladeiras em forma de abóbora, sapos de loiça, terrinas de couve. “Quando comprámos a empresa, ela estava de facto na iminência de fechar”, diz Nuno Barra (na foto), director de marketing e design externo da Bordallo. “A empresa vinha de um passado conturbado, marcado por alguns erros de gestão, perda de clientes, perda de notoriedade da marca e desvalorização do produto. Os colaboradores estavam muito aflitos em relação ao seu próprio futuro”, diz o mesmo responsável. Esta aflição não tem nada de novo na história da empresa das Caldas.

Depois da morte de Rafael Bordallo Pinheiro, a empresa acabou por ser comprada por um grupo de caldenses, que a tentou salvar. Entre eles estava o avô do ex-ministro Vera Jardim, um dos sócios que lá estavam em 2009.

A empresa tem um lugar especial na história portuguesa: quando foi noticiado que estava em dificuldades, as vendas subiram na loja das Caldas. Depois da compra pela Visabeira, a empresa aumentou a facturação para 2,9 milhões de euros em 2011, de apenas 100 mil euros em 2009.

Um dos golpes de marketing que colocaram a empresa nas bocas do mundo foi o famoso Zé Povinho a fazer um “manguito” à Moody’s, agência de rating que baixou Portugal à categoria de lixo. A Bordallo estava outra vez na moda.

A empresa virou-se agora para fora de Portugal. “Este ano vamos fazer uma grande exposição no Brasil com 20 dos melhores artistas contemporâneos brasileiros (Vik Muniz, Tunga, Barrão, entre outros) que estiveram cá e que desenvolveram peças a partir do legado de Rafael Bordallo Pinheiro. Esta acção marcará a internacionalização da marca para aquele país”, explica Nuno Barra.

A Visabeira está empenhada em trabalhar para que a Bordallo dê “a conhecer o seu património cultural e referências que se cruzam com a nossa própria identidade nacional, abrindo-a ao mundo e abrindo-a à contemporaneidade. Tudo isto acompanhado de uma gestão rigorosa e orientada para a optimização e modernização”. Porque é preciso evitar que a história da empresa se repita e a sombra do encerramento volte a pairar nas Caldas da Rainha.

O momento

Foi em 2009 que os trabalhadores da Bordallo Pinheiro, preocupados com o seu futuro, resolveram ir a Lisboa e pedir ajuda ao ministro da Economia da altura, Manuel Pinho. A empresa captou a atenção da Visabeira, grupo de Viseu, que acabou por adquirir a Bordallo, numa altura em que estava a apostar neste sector (pouco depois comprou a Vista Alegre). Foi a partir desta altura que a Bordallo começou a recuperar, tornando-se no que é hoje.

Fonte: Negócios

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