A Tattuagi, empresa de São João da Madeira, vai abrir, em breve, mais duas lojas na China. Num momento em que a indústria de calçado avança em força para o mercado chinês, tentando diminuir a tradicional dependência da Europa (absorve ainda 90% das exportações do sector, mas no ano passado cresceu pouco mais de 2%), há quem já lá tenha assegurado um lugar de destaque.

Esta rede de retalho da Tattuagi é o resultado de uma “década de participação em feiras, em shows de moda e em tudo quanto é programa de cadeia de televisões regionais”, diz José Alberto Silva. O dono e o mentor da empresa explica a sua forma de estar nos negócios e nos mercados: “Vou antes dos ventos chegarem”, porque “ou se tem intuição e se antecipa as coisas…” José Alberto não termina, mas não é difícil de adivinhar que qualquer coisa como “ou se chega tarde” fosse o final da frase.

Homem pouco dado a protagonismos, fala ao DN/Dinheiro Vivo no seu stand na Micam, em Milão, a maior feira de calçado do mundo, e explica que, nos primeiros quatro anos na China se “limitou” a tentar conhecer a cultura do país. “Quem não conhecer a cultura, o meio, não consegue vender. São precisos muitos anos para se entrosar no mercado”, refere. E é por isso que negociou com oito ou nove potenciais parceiros antes de fechar negócio com o atual, um “trabalho intenso” a nível financeiro, mas também físico e espiritual, mas que produziu resultados.  Atualmente, já está a apontar agulhas para outro lado. A sua aposta mais recente é outros dos mercados emergentes com elevado potencial: a Rússia. Em dois anos já conseguiu aí quadruplicar as vendas. Para quanto? Não diz.

A Tatuaggi tem 17 anos e sempre ostentou o selo made in Portugal. Porquê Tattuagi? “Porque, tal como uma tatuagem, o sapato mostra-me a mulher que tenho pela frente. Pode ser heavy ou pode ser light e delicada”, diz o empresário. Optou pela entoação italiana para poder posicionar-se numa gama média alta sem ter de entrar numa guerra de preços.

“O made in só era lido já a primeira impressão estava assegurada”, sorri. Hoje tem um grupo de três empresas, em vias de abrir uma quarta, com 280 trabalhadores. Exporta mais de 50% com a sua marca para os cinco continentes e fatura “muito perto dos20 milhões de euros”. Só não vende em Portugal, Espanha e Itália.

As seis lojas na China – quatro em Shangai, uma em Suzhou e uma em Hefei – variam entre os 100 e os 300 metros quadrados e só vendem o calçado de senhora e os perfumes Tattuagi. O design das lojas é seu, a decisão é sua, comparticipa em 50% na decoração. A 1 de maio abre mais uma, em Tianjing, e em agosto a Tattuagi chega a Pequim. “Comecei ao contrário da maior parte das pessoas. Registei a minha marca em todo o mundo e só depois é que apareci. Passo a vida a contestar as imitações que aparecem”, reconhece. Mesmo assim, o mercado chinês só representa 10% da sua faturação e não pretende que assegure muito mais. Tem uma loja em Moscovo já há cinco anos, resultado de uma parceria na mesma lógica de desenvolvimento.

Quem acaba de firmar um contrato com um distribuidor chinês para a abertura de um showroom local foi a Profession Bottier. O objetivo é potenciar a marca de calçado de luxo de homem e procurar investidores interessados na abertura de lojas PB. O conceito de loja multimarca, tal como o conhecemos, praticamente não existe na China, onde há essencialmente espaços monomarca ou grandes armazéns.

A Profession Bottier é produzida pela Ferreira e Avelar, de Fiães, Santa Maria da Feira, que há seis anos vinha apostando na China, mas para onde fazia apenas “vendas pontuais”. Este contrato agora firmado tem associado uma cláusula de confidencialidade, pelo que Rúben Avelar recusou adiantar mais pormenores. Com vendas de 20 mil pares de sapatos ao ano, a PB tem em França, Alemanha, Canadá, Japão e Rússia os seus principais mercados. O grupo Ferreira e Avelar faturou 5,5 milhões em 2012, 15% correspondentes à Profession Bottier.

Em termos de apostas de futuro, Rúben destaca as economias emergentes – Emirados, Rússia e China -, mas sem descurar a Europa. “Não podemos desistir de um mercado que é nosso”, defende.

Fonte: Dinheiro Vivo

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