“Seria importante pensar num programa de dívida subordinada para as pequenas e médias empresas, de forma a permitir-lhe financiar os seus investimentos sem ser unicamente com recurso ao crédito bancário”, defendeu ontem Carlos Costa. “As empresas têm uma autonomia financeira muito baixa e são fortemente dependentes de capitais alheios. O reforço de capital necessário para trazer a autonomia dos atuais 17% ao limiar desejável de 30% seria da ordem dos 18,4 mil milhões de euros, o equivalente a 11% do PIB”, calculou.

Para o governador do Banco de Portugal, que participou ontem na conferência da Reuters/TSF, sob o tema “Portugal pós-troika: Riscos e Oportunidades”, o problema da falta de financiamento das PME, uma das queixas mais frequentes dos empresários, poderia ficar resolvida se se estabelecesse uma “relação triangular entre os gestores de fundos, o sistema bancário e as empresas”, para que “estas fiquem mais resilientes e com menor risco de crédito”, facilitando “o acesso ao financiamento em termos de preço e volume”.

Na prática, o que Carlos Costa sugere é criar uma nova fórmula que permita reduzir o risco que ainda envolve o dia a dia das empresas e que tem levado a uma retração da confiança dos bancos. “Seria também positivo para a economia portuguesa porque significará um tecido empresarial mais resiliente. E muito interessante para o País, uma vez que empresas mais capitalizadas têm mais capacidade para resolver os problemas, sem pôr em causa o seu futuro.”

Os banqueiros mostraram-se disponíveis para esta nova fase de crescimento das empresas. Ricardo Salgado, Nuno Amado, Fernando Ulrich e José de Matos, reunidos na conferência Reuters/TSF, confirmaram que os bancos estão mais sólidos, capitalizados, resilientes e com capacidade para voltar a emprestar a pequenos negócios.

Nuno Amado, presidente do BCP, considerou que “estamos a entrar numa segunda fase”, acreditando “que o próximo trimestre seja de estabilização ou até de crescimento na concessão de crédito”. Mas espera que não se repita o erro de spreads demasiado baixos.

O presidente da Caixa Geral de Depósitos preferiu dar maior ênfase ao pacote de incentivos apresentado na semana passada pelos ministros da Economia e das Finanças e que, entre outras medidas, estabelece que o banco estatal se especialize como instituição de crédito às PME. “Devo dizer-vos que fico particularmente satisfeito por existir essa carta de missão, que está perfeitamente em linha com o que tem sido a orientação da Caixa”, afirmou José de Matos.

Fernando Ulrich, presidente do BPI, é menos otimista e considera que não chega dar mais financiamento às PME porque estas não têm capacidade para arrastar a economia. “Numa altura que o País precisa de ganhos rápidos, tem de ser intensificada uma relação de parceria saudável entre Estado e grandes empresas. Os dois têm capacidade de criar oportunidades para muitas PME.” O banqueiro aproveitou para pedir que a Autoridade Bancária Europeia (EBA) ajuste as exigências de capital aos bancos. “A troika não me incomoda especialmente. A EBA incomoda-me imenso”, concluiu.

O presidente do BES, Ricardo Salgado, lembra também que o Estado tem de garantir que as grandes empresas ficam e investem em Portugal. “Quando olhamos para as perspetivas dos empresários, eles não investem em Portugal, mas fora

[…] em África, América Latina, Médio Oriente. A questão fundamental é perceber porque os investimentos não são feitos cá, e isso deve-se também ao quadro fiscal.”

A secretária de Estado do Tesouro encerrou a conferência com um discurso que estava previsto ser feito por Gaspar. “É o momento do investimento”, sublinhou Maria Luís Albuquerque, juntando: “O sistema bancário português está agora em melhores condições de dar crédito à economia.”

Fonte: Dinheiro Vivo

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