O presidente executivo do Banif disse hoje que as empresas portuguesas são penalizadas pelo custo elevado do crédito e que o principal problema do sistema bancário é a falta de rentabilidade.

“Os bancos estão hoje capitalizados, sólidos, recuperaram os níveis de liquidez, mas têm o problema da rentabilidade”, disse hoje Jorge Tomé, presidente executivo do Banif, numa conferência sobre “A Competitividade”, no Instituto Superior de Gestão, em Lisboa.

Segundo o responsável, a falta de resultados dos bancos deve-se à desalavancagem

[redução de endividamento] que estes tiveram de fazer por imposição da ‘troika’, o que levou à redução do crédito e à subida dos juros pagos pelos depósitos.

A isto, acrescentou, soma-se o nível historicamente baixo das taxas Euribor, o que penaliza a margem financeira dos bancos, já que parte significativa dos créditos estão indexados a estas taxas.

Jorge Tomé disse ainda que, precisamente devido às baixas taxas Euribor, os bancos estão a compensar as perdas que têm tido nos contratos de crédito mais antigos e de mais longo prazo (sobretudo contratos de crédito à habitação, que representam entre 25% a 35% do balanço dos bancos portugueses) através da cobrança de juros elevados nos novos empréstimos.

“Como os bancos não conseguem rever a Euribor que têm os contratos de crédito à habitação, temos crédito para empresas [a preços] muito mais altos do que há uns anos atrás e isso penaliza a rubrica dos custos financeiros das empresas”, afirmou.

Também o facto de o Estado português se financiar a um custo elevado se repercute nos custos de financiamento da banca, que depois o reflete nos seus clientes, acrescentou.

Além dos custos do crédito, nesta conferência, o banqueiro falou de outros fatores que considera que penalizam “brutalmente” a competitividade das empresas portuguesas, como o custo da energia, a carga fiscal e a valorização do euro face ao dólar.

O presidente do Banif e ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos voltou ainda a repetir o discurso que tem vindo a ser feito pelos principais responsáveis de bancos para afirmar que hoje não há falta de crédito, mas falta de procura pelos investidores.

“Podem dizer que os ‘spreads’ são altos e é verdade, mas a questão é que antes de chegarmos à negociação [do juro a cobrar] não há sequer pedido” de empréstimo, afirmou.

Sobre o crescimento da economia portuguesa, Jorge Tomé disse que é necessário recorrer ao investimento externo, tendo em conta o elevado endividamento das empresas portuguesas.

Mas tal será difícil “com a carga fiscal tão elevadas que hoje temos”, alertou.

O responsável deu ainda exemplos de políticas que devem ser levadas a cabo em Portugal para impulsionar a economia, como a interligação entre grandes e pequenas e médias empresas, um novo aeroporto em Lisboa e até um grande museu dos descobrimentos para atrair mais turistas para a capital e, por arrasto, para todo o país.

Fonte: Jornal i

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