Um alto dirigente do Fundo Monetário Internacional (FMI) diz que Portugal pertence ao grupo de dez países que mais ameaçam o resto do mundo com os “problemas orçamentais severos”.

Apesar de Portugal ter sido amplamente elogiado desde o início deste ano pelas “reformas estruturais” e pelo caminho “bem sucedido” no regresso aos mercados, Carlo Cottarelli, o diretor do departamento de assuntos orçamentais do FMI, disse numa aula que deu em meados de maio, no Peterson Institute for International Economics, que Portugal juntamente com Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Bélgica, Grécia e Irlanda “representam 40% do produto interno bruto mundial, por isso o que acontece nas suas políticas orçamentais tem grandes implicações no resto do mundo”.

“Deixando de lado alguns países mais pequenos, os problemas orçamentais são particularmente severos nestes dez países”, observou a 20 de maio, quando em simultâneo o país tem recebido elogios pela sua capacidade em reduzir o défice e em aplicar as medidas da troika em termos de ajustamento.

Os dez países referidos por Cottarelli representam 40% do PIB mundial, é um facto, mas faltou dizer que Portugal, por exemplo, vale apenas 0,3% desse total (medido em dólares correntes, dados do próprio FMI). Só os Estados Unidos e o Japão – dois países enormes com problemas de défices e dívidas excessivos – pesam 30% no produto mundial, 100 vezes mais do que Portugal.

Cottarelli não coloca esta questão de dimensão em perspetiva, nem em relação a Portugal, nem em relação a três outras pequenas economias citadas (Grécia, Irlanda e Bélgica). Estes quatro países juntos valem 1,6% da riqueza global. Percebe-se, portanto, que o risco prende-se mais com os restantes 38,4%. Para mais, Portugal, Grécia e Irlanda são os chamados países programa, que estão totalmente condicionados e a ser guiados por planos de ajustamento em que participa o próprio FMI.

Este alto dirigente do Fundo até conhece bem a realidade portuguesa. É o responsável máximo pelo aconselhamento de políticas de cortes e de racionalização da despesa pública e também o responsável último pelo polémico estudo do FMI apresentado em janeiro no âmbito do “debate” sobre a reforma do Estado em Portugal.

Na apresentação “Daqui até à eternidade: perspetivas para o ajustamento nas economias avançadas”, o economista sublinha que “a magnitude dos desafios orçamentais que estes países enfrentarão nos próximos anos pode ser ilustrada pelos nossos cenários centrais de ajustamento de longo prazo”. O diretor referia-se à redução necessária e constante da dívida dos níveis atuais “até 60% a 80% em 2030”.

Portugal, que está com um rácio de dívida de quase 130% do PIB, só conseguirá chegar a 60% em meados da década de 40 deste século, na melhor das hipóteses, à luz das atuais regras do pacto europeu.

Ontem, o FMI sinalizou ainda algumas preocupações em relação a Espanha e Alemanha, os dois maiores parceiros económicos de Portugal. Cortou a previsão de crescimento alemã deste ano, de 0,6% para 0,3%; e disse que os riscos para a economia espanhola “continuam a ser elevados, dado que continua submetida a um complicado processo de correção dos grandes desequilíbrios”, mas elogiou o cumprimento do programa de saneamento bancário do país.

Fonte: Dinheiro vivo

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