A tendência de alta das yields de títulos soberanos continua em alta no mercado secundário. A subida verificada no fecho da semana passada prossegue.
As yields das obrigações do Tesouro (OT) português a dez anos – maturidade que serve de referência – abriram em 6,452%, ligeiramente acima do fecho de sexta-feira (21 de junho) em 6,43%, mas logo subiram para valores acima de 6,5%.
Às 9h estavam em 6,608%, segundo dados da investing.com. Mais de um ponto percentual acima dos 5,52% verificados a 7 de maio, o segundo dia de regresso ao mercado obrigacionista com uma emissão sindicada de OT a dez anos, depois de uma abstinência desde o início do plano de resgate pela troika.
Disparo acentuado verificou-se nas yields dos bilhetes de Tesouro a seis meses. Abriram em 1,516%, mais de 40% acima do valor de fecho de sexta-feira em 1,065%, e às 9h estavam em 1,6%, uma subida superior a 50% em relação a 21 de junho.
A subida está a abranger todos os países “periféricos” da zona euro, à exceção da Eslovénia. No caso da Grécia, as yields das obrigações a dez anos estão acima de 11,5%, já distanciado do mínimo do ano em 8,13% a 22 de maio. As yields das obrigações espanholas já estiveram hoje acima de 5%, um ponto percentual acima do mínimo do ano em 4% em 3 de maio.
Também as yields das obrigações a dez anos dos Estados Unidos, Alemanha e França continuam em trajetória de subida.
O “sentimento” dos investidores em relação aos mercados financeiros foi influenciado este fim de semana pelo adiamento no sábado pelo Ecofin (reunião dos 27 ministros das Finanças da União Europeia) da decisão sobre a diretiva de resolução bancária (cuja discussão prosseguirá na quarta-feira, um dia antes da cimeira europeia) e pela divulgação domingo do relatório do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), considerado o “banco dos banqueiros centrais”, que advoga o fim da política monetária de “estímulos”. “Prosseguir com estímulos monetários extraordinários está a tornar-se cada vez mais perigoso, já que a balança entre os benefícios e os custos dessa política está a mudar”, diz o relatório publicado por ocasião da reunião do banco este domingo em Basileia, na Suíça, onde está sediado. O primeiro sinal claro de descontinuidade dessas políticas veio da parte da Reserva Federal norte-americana. Ben Bernanke, o seu presidente, anunciou na semana passada a possibilidade de reduzir o programa de “alívio quantitativo” ainda este ano e de o descontinuar em meados do próximo ano.
Para controlar a bolha de financerização na China, particularmente no “sistema bancário sombra” do país, o Banco central adotou medidas de endurecimento da política monetária. A Goldman Sachs reviu hoje em baixa as suas previsões de crescimento para a segunda maior economia do mundo. O PIB chinês deverá crescer 7,4% em vez de 7,8% em 2013 e 7,7% em vez de 8,4% em 2014. Em suma, liquidez mais apertada e crescimento mais baixo do que o previsto, abaixo do limiar político dos 8%.
A manter-se o “sentimento” negativo dos investidores, na sequência da expetativa de uma redução significativa da liquidez monetária disponível para aplicações financeiras nas bolsas e no mercado da dívida (quer primário como secundário), muitos analistas financeiros duvidam da possibilidade da Irlanda, Portugal e Grécia regressarem sustentavelmente ao mercado de emissão obrigacionista em 2014 e 2015, e de países como Espanha, por exemplo, continuarem a financiar-se a taxas médias de remuneração aceitáveis.
Risco de incumprimento de Portugal sobe para 31%
No mercado dos credit default swaps (derivados financeiros funcionando como seguros contra o risco de incumprimento da dívida, acrónimo cds), a situação continua a agravar-se para Portugal. O custo dos cds para a dívida portuguesa a cinco anos subiu para 412,42 pontos base – no dia de regresso ao mercado obrigacionista com a emissão a dez anos estava em 339,95, segundo dados da CMA S&P Capital IQ. Na sexta-feira passada fecharam em 408,49 pontos base.
A trajetória de subida da probabilidade de incumprimento num horizonte de cinco anos é clara desde 21 de maio, quando Portugal saiu, temporariamente, do “clube da bancarrota” – 22,37%, a 21 de maio; 30,86% um mês depois; 31,06% na abertura de hoje. Portugal está em 9º lugar nesse grupo de 10 economias com mais alto risco de incumprimento, liderado pela Argentina, seguida de Chipre, Venezuela e Grécia.
Fonte: Expresso