Os bancos não têm mãos a medir para a quantidade de imóveis que lhes vão parar às carteiras de ativos por falta de pagamento. Depois da casas, é agora a vez dos centros comerciais. As vítimas mais recentes são o Ferrara Plaza, em Paços de Ferreira, e o Évora Shopping, que já foram executados pelo BES, apurou o Dinheiro Vivo.
O primeiro é um centro com oito anos, inicialmente desenvolvido pela Martifer por 60 milhões de euros e depois vendido à Imorendimento, que o reformulou e até aumentou as vendas. Depois veio a crise económica e de consumo, as dívidas acumularam-se e o BES acabou por ter de executar a divida.
Já o Évora Shopping, que também é da Imorendimento, está ainda em construção e deveria abrir no outono deste ano, já depois de dois adiamentos. Contudo, segundo apurou o Dinheiro Vivo, apesar de ter sido executado, o centro tem 70% das lojas pré-arrendadas e, por isso, está garantida a conclusão das obras e a abertura do projeto, que estava avaliado em 60 milhões de euros.
Estes não são, contudo, os primeiros shoppings a ir parar às mãos do BES. O banco tem também na sua carteira de ativos executados o Campera, o primeiro outlet a abrir em Portugal, no Cartaxo; o centro comercial Acqua Roma, na avenida de Roma, em Lisboa; e ainda o antigo Beloura Shopping, que se chama agora Fashion Spot.
E não é o único banco credor dos centros comerciais, nem o único a executá-los. O BCP acabou por ficar com o Vivaci Guarda e o Vivaci Caldas, dois dos shoppings da marca que pertencia à FDO, uma construtora de Braga que pediu insolvência no início do ano passado. Um terceiro Vivaci, na Maia, foi parar às mãos da CGD, que também ficou dona do Dolce Vita Braga, um centro da espanhola Chamartín que está praticamente concluído, mas que já está para abrir há três anos. A causa não foi o proprietário que entrou em insolvência – apesar de estar com problemas financeiros -, mas sim uma consequência da crise económica e do evidente excesso de centros comerciais no país e em particular na cidade.
O que é que os bancos fazem aos shoppings?
As casas que foram executadas pelos bancos por falta de pagamento são vendidas em leilão ou voltam ao mercado através de mediadoras. Mas vender um centro comercial não é assim tão fácil, principalmente agora e ainda mais tratando-se de ativos que não estão a dar rendimento. Se as lojas estivessem a vender bem em vez de a fechar ou a querer descer as rendas, os proprietários não tinham dívidas e não tinham entregue o shopping.
O primeiro passo é, por isso, contratar uma empresa para gerir e valorizar o espaço, para então o venderem. Por exemplo, no Dolce Vita Braga, apurou ainda o Dinheiro Vivo, a escolha recaiu sobre a Sonae Sierra, que está agora a reformular o posicionamento do shopping e a tentar encontrar marcas que queiram lá abrir lojas.
Contudo, esta fase não é imediata e até pode não correr bem. No limite, os bancos podem ter perdoar a dívida e perder o dinheiro, fechar o centro ou transformá-lo noutro projeto. O antigo Beloura Shopping é um desses casos bicudos. Não tem quase visitantes nenhuns, tem umas seis lojas prestes a fechar e outras tantas que não pagam ordenados ou que só pagaram metade.
Este trabalho de valorização é também feito por consultoras imobiliárias. A CBRE, por exemplo, criou um serviço a nível internacional para “salvar” centros comerciais até em insolvência. De acordo com o diretor de retalho da CBRE Portugal, Carlos Récio, por cá estão já alguns casos em análise, de promotores pequenos e no interior do país, mas lá fora há já exemplos de sucesso, como um shopping em Riga, na Letónia, que tinha 30% das lojas vazias e que, depois da intervenção da empresa, passou a ter apenas 6%.
Fonte: Dinheiro Vivo