Diferentes nos géneros, mas iguais na forma como nasceram: da capacidade de sair da área de conforto. A cadeia de hambúrgueres H3 foi criada por pessoas fora da restauração, entre eles o publicitário Albano Homem de Melo. E e o hotel Herdade da Cortesia foi criado por um antigo atleta olímpico de remo, Luís Ahrens Teixeira, que nada percebia de hotelaria.

Estes são dois casos, entre um grupo de vários projetos, apresentados esta sexta-feira, na conferência dedicada ao desconforto enquanto motor de empreendedores (fazedores como dizemos no Dinheiro Vivo), dinamizadores e marcas das indústrias criativas, no Festival do Clube de Criativos, na Etic, em Lisboa.

“Costumamos dizer que somos os três bastantes incompetentes nas áreas uns dos outros”, começa por dizer Albano Homem de Melo, que se serve do manual da marca para o empregado para explicar como nasceu o projeto H3.

“Tudo começou no Café3, quando começámos a pensar como podia ser o negócio”, conta Homem de Melo, recordando que levaram

[ele, Miguel van Uden e António Cunha Araújo] um ano a pensar no projeto. “Uma semana antes entrámos em pânico”, brinca.

Ultrapassadas os receios o ex-diretor criativo e os dois amigos criaram o conceito “New hamburgology. No so fast food”, com um preço competitivo. Com um BI e tudo para o hambúrguer: 200 gramas, pura carne, no ponto, 100% fresco, grelhado com sal marinho, dentro das diversas variedades.

A imagem do H3 foi criada por Ricardo Mealha e Ana Cunha, que optaram por uma cor (azul celeste) que ainda não estava nos food court.

A máxima é “Real Food. Real People”, assim em inglês, porque “pensámos logo na internacionalização”, recorda Albano Homem de Melo, admitindo, divertido, alguma “megalomania”.

Mas não se ficaram pela comida e reivindicam o lançamento da limonada com limões verdadeiros – “60% das bebidas são bebidas feitas por nós”, orgulha-se. Agora lançaram hambúrguer com queijo de cabra, molho de pimenta e limonada de morango.

O serviço também tinha de ser diferente. Cada cliente tinha de ser atendido em menos de 30 segundos – “o nosso recorde é 13,9 segundos, o que representa 258 clientes entre a 1 e 2 da tarde”, aponta o empresário.

Hoje, o H3 tem mais de 40 lojas, em que o chef Vítor Lourenço é também o grande responsável, nomeadamente na grelha, em que Albano destaca a máxima sagrada: “não espalmarás.”

O H3 está no Brasil e, para o ano, em mais sítios. “Um dia seremos a maior cadeia de hambúrgueres do mundo”, diz irónico o ex-publicitário que tem a responsabilidade pela comunicação e marketing no H3.

“Esta área também é criativa”, diz Albano Homem de Melo, reforçando que “é mais completa do que quando fazia anúncios, campanhas, até como presidente de agências, em 2001, quando tinha levar empresa bom porto, felizmente conseguiu-se… hoje a criatividade está nas receitas.”

Do lado da Herdade da Cortesia, Luís Ahrens Teixeira avisa que não percebia nada de hotelaria. “Sou formado em Economia, fiz desporto, remo, até 2004. E, quando estava pensar deixar de praticar, ainda sem saber o que ia fazer, decidi avançar com um amigo”, conta.

Tudo porque tinha uma ideia. “Conheço centros de treinos do mundo inteiro e este sítio, ‘Avis, a terra que nem Deus quis’ era excelente para ter um”, diz agora Ahrens Teixeira, apontando a barragem do Maranhão, ali há 40 anos, e que reúne condições ótimas para a prática do remo e para a exigência de treinos de alta competição.

“Não tínhamos dinheiro, apresentámos o projeto à banca: primeiro BCP, que nem sequer se dignou a ir Avis, não saiu da sua área de conforto. Mas o BPI foi Avis e viu que, mesmo ainda sem hotel, já tínhamos estrangeiros [da Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, Irlanda, República Checa, Suécia, Holanda]”, conta Ahrens Teixeira.

Também com o apoio do Turismo de Portugal apostaram no mercado desportivo. Compraram uma herdade com 47 hectares. “Não queríamos fazer mais um monte alentejano como muitos”, conta. E não fizeram. O projeto tem um hotel todo revestido a madeira, com três alas de quartos, ligados edifico comum, com acessos diretos para herdade, com uma piscina de 25 metros (2,40 profundidade).

Com o lema “Pequeno almoço sem horas”, a Herdade da Cortesia foi considerada, em 2009, o 2.º melhor projeto privado. “Sem grupos financeiros, sem experiência de hotelaria”, destaca hoje Ahrens Teixeira.

O antigo remador (durante 12 anos) aponta também orgulhoso a pontuação de 9,0 no Booking, e em termos de negócio uma quota de mercado de 37%, em 2009, e 56%, em 2012.

No fundo, “vendemos o Alentejo, o país”, diz lembrando que um dia lhe disseram “vocês descobriram o óbvio”, ao que o empresário respondeu: “sim, porque saímos da nossa zona de conforto.”

Fonte: Público

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