ISP analisou o primeiro semestre e traça os riscos para as seguradoras, nos quais se incluem as taxas de juro.

Um período prolongado de baixas taxas de juro e a exposição das seguradoras e dos fundos de pensões a activos do próprio grupo são os principais riscos identificados pelo regulador para o sector.

O Instituto de Seguros de Portugal (ISP) alerta para o risco de concentração dos investimentos, “o qual resulta, em larga escala, de exposições intragrupo, com as empresas de seguros e os fundos de pensões a actuarem como fonte de liquidez e de financiamento dos bancos dos respectivos grupos económicos”.

Este é um ponto há muito falado, mas que o ISP assume directamente. O que o regulador não diz é que a exposição excessiva aos grupos financeiros nos quais as seguradoras se inserem tem vários problemas. Em primeiro lugar, os investimentos das seguradoras e dos fundos de pensões parecem ter como principal critério de investimento de quem são os activos, e não o facto de eles serem ou não os mais rentáveis. Por outro lado, uma concentração excessiva de investimento em poucas entidades acarreta sempre um maior risco, quando as coisas correm mal.

No seu relatório semestral, divulgado recentemente, o ISP conclui que, a 30 de Junho, 23,8% do total dos activos das seguradoras estava investido nos nove maiores grupos financeiros a operar em Portugal, enquanto nos fundos de pensões essa exposição era de 21,8% dos montantes sob gestão. Uma exposição que resulta principalmente de depósitos e títulos de dívida no caso das seguradoras, enquanto os fundos de pensões estão maioritariamente expostos a depósitos e imóveis dos bancos que integram os respectivos grupos económicos.

A seguradora do Santander e a Ocidental Vida, do BCP, são as empresas com maior exposição ao respectivo grupo económico, com 39% e 33,7%, respectivamente, seguidas pela Fidelidade, BES Vida e Açoreana. Na análise aos fundos de pensões a conclusão é semelhante: “É igualmente evidente a existência de importantes relações intragrupo, destacando-se as exposições ao próprio grupo económico dos fundos do Pessoal da CGD (57,9%), Banco BPI (30,2%), Grupo BCP (25,4%) e BES(23,7%)”, refere o relatório.

A estes activos juntam-se ainda o investimento em unidades de participação em fundos de investimento geridos dentro do grupo, os quais representam mais 6,7% do total de activos das seguradoras e dos fundos de pensões. E aqui o BES lidera destacado. Aliás, do total de investimento em fundos por parte de seguradoras e fundos de pensões, 95% é intragrupo.

A contribuir para o risco de concentração dos investimentos aparece ainda a dívida pública nacional. “O grau de concentração do sector é significativo, com as cinco maiores exposições directas – dívida pública portuguesa (15,9%), BCP (7,0%), CGD (5,6%), BES (3,8%) e Santander (3,5%) – a ascenderem a 24,2 mil milhões de euros, representativos de 35,9% do total de activos”, refere o relatório. E adianta: “Acresce o valor investido em unidades de participação de fundos de investimento mobiliário e imobiliário geridos por entidades que fazem parte dos referidos quatro grupos financeiros, que se situava em 4,1 mil milhões de euros, ou seja, 6,1% do património global”.

Em termos macroeconómicos, o ISP destaca ainda o risco de um ambiente prolongado de taxas de juro baixas. “O impacto incide sobretudo no grau de matching activo/passivo, decorrente da diferença entre as taxas garantidas oferecidas pelos produtos e o nível de rendibilidade dos activos que lhe estão afectos, assim como da diferença entre a duração desses activos e passivos”. Ou seja, as seguradoras têm produtos nos quais já foram acordadas com os clientes determinadas rendibilidades fixas, independentemente do retorno dos activos subjacentes.

 

Fonte: Económico

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