A bola está no campo da Grécia. Se quiser mais apoio financeiro do resto da Zona Euro e do FMI tem de pedir a extensão do actual programa e tem renovar os seus compromissos, designadamente de pagar os empréstimos recebidos dos demais países. Se houver um sinal de Atenas, os ministros das Finanças prometem voltar a reunir-se na sexta-feira. “Temos de ser lógicos, não ideológicos”, explicou Pierre Moscovici, já sem disfarçar uma ponta de impaciência.

Com o relógio em contagem-decrescente acelerada, a bola voltou a estar exclusivamente no campo da Grécia. Esse é, pelo menos, o entendimento da generalidade dos ministros  das Finanças do euro (Eurogrupo), da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) que concluíram, sem sucesso, a segunda reunião em seis dias com o ministro grego Yanis Varoufakis sobre como pode ser enquadrado o futuro da Grécia no euro.

Se o novo Governo em Atenas quiser mais apoio financeiro do resto da Zona Euro e do FMI tem de pedir a extensão do actual programa, que pode depois ser ajustado para acomodar parte do seu programa eleitoral. Simultaneamente, Atenas tem renovar os seus compromissos, designadamente de pagar o que já recebeu de empréstimos dos demais países, quase 240 mil milhões de euros.

Se esse pedido, junto com a renovação desse compromisso, chegar entretanto de Atenas, os ministros das Finanças prometem voltar reunir-se nesta sexta-feira. “Temos de ser lógicos, não ideológicos”, frisou, já sem disfarçar uma ponta de impaciência, Pierre Moscovici, comissário do euro e antigo ministro francês das Finanças.

“Não há alternativa ao pedido de uma extensão do programa”, frisou Moscovici. Dentro do programa, acrescentou, há flexibilidade para encaixar medidas novas sugeridas pelo governo liderado pelo Syriza (que disse querer renegociar 30% do memorando), como sucedeu no passado e com outros países resgatados.

Mas essa negociação – acrescentou o comissário francês – tem de ser feita com base no enquadramento existente. “Quando um povo se exprime, não podemos ficar surdos. Mas, por outro lado, há um programa [de assistência financeira e de ajustamento macro-ecponómico] em curso, que não nasceu de nenhuma imposição do exterior. Esse programa foi pedido pela Grécia e, se a Grécia quiser prosseguir com o nossos apoio, como desejamos, é nesse quadro que temos de negociar”. “É preciso negociar de boa fé. (…) E temos de ser lógicos, não ideológicos”, insistiu.

Repetidamente, os europeus e o FMI têm salientado que o programa de assistência da troika, que expira no fim do mês, é o ponto de partida para o que vier a ser acordado para os próximos meses, até porque é nesse quadro que ainda há meios financeiros disponíveis: sete mil milhões de euros por transferir para o Orçamento grego, por parte da Zona Euro e do FMI, e 11 mil milhões ainda reservados para a banca.

Terá de ser sempre Atenas a solicitar formalmente o prolongamento da assistência – seis meses foi a oferta europeia feita em Dezembro ao anterior Governo de Antonis Samaras, e é essa que continuará de pé.

Já a intenção do novo governo grego é a de obter da Europa um novo acordo transitório, que possa ser apresentado como uma ruptura com o passado da troika e recuperação de plena soberania, assente num modelo de financiamento próprio com a emissão adicional de oito mil milhões de euros em bilhetes de tesouro (dívida de curto prazo), garantidos, porém, pela Europa. Numa segunda etapa, eventualmente dentro de “quatro meses”, disse hoje Varoufakis que tem adiantado diferentes prazos, Atenas espera ver outras propostas suas acordadas, incluindo uma segunda restruturação da sua dívida, que andará em torno 175% do seu PIB, no quadro de um “contrato completamente novo” com a Europa. A consultora  financeira Lazard, contratada por Varoufakis, sugere um abatimento em 100 mil milhões de euros na dívida grega, perda essa que teria de suportada pelos orçamentos dos demais países europeus.

Sem extensão, também não há mais dinheiro do FMI

Hoje, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, tornou também claro que não haverá mais transferências de Washington para Atenas na ausência de uma extensão do actual programa da troika – expressão agora abandonada em Bruxelas a favor de “programa das instituições” – Comissão Europeia, BCE e FMI – para tentar não gerar susceptibilidades em Atenas.

“O programa do FMI com a Grécia termina em Março de 2016 [as transferências financeiras da parte europeia deveriam ter terminado no fim de 2014]. Se a Grécia quiser uma extensão do programa que montámos em conjunto e se reiterar os seus compromissos, a nossa missão de avaliação pode ser retomada no terreno”.  E, advertiu, “se a missão não for bem sucedida – e essa missão não levará dias, mas semanas, talvez um mês – não faremos mais transferências”.

 

Fonte: Negócios

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