“Escolhe um trabalho de que gostes e não terás de trabalhar nem um dia na tua vida”. A frase de Confúcio não podia ser mais actual. A felicidade organizacional é cada mais uma preocupação da gestão.

O que tem a felicidade a ver com a gestão? Tudo. Trabalhadores felizes e motivados aumentam a produtividade da empresa, o que acaba por se traduzir num crescimento dos lucros. Os incentivos não-monetários ganham cada vez mais relevância e podem garantir que a empresa não perde os recursos humanos mais competentes. Aos poucos, a “gestão da felicidade” está a impor-se nas empresas.

Não é fácil medir a felicidade. Nos últimos anos surgiram alguns indicadores, o que traduz a importância que este aspecto foi ganhando nas sociedades. Ainda esta semana a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) actualizou o seu índice interactivo de bem-estar, liderado pela Austrália. Portugal ocupa o 28.º lugar num universo de 36 países.

Este índice é composto por onze indicadores específicos sobre as condições materiais de existência (habitação, rendimento, emprego) e de qualidade de vida (comunidade, educação, meio ambiente, envolvimento cívico, saúde, satisfação com a vida, segurança e o equilíbrio trabalho-vida).

Numa sociedade cada vez mais voltada para o sucesso, o trabalho preenche cada vez mais horas na vida das pessoas. É, por isso, essencial que sejam encontradas no trabalho fontes de motivação que permitam melhor e maior produtividade. Proporcionar aos trabalhadores a felicidade organizacional é um jogo onde todos ganham.

“Há exemplos conhecidos de multinacionais tecnológicas onde estas questões do bem-estar organizacional são levadas muito a sério, com excelentes resultados financeiros”, explica ao Negócios, Gabriel Leite Mota. No entanto, como sublinha o docente e investigador universitário, doutorado em Economia da Felicidade, há também empresas com outras lógicas empresariais e que “desprezam estes assuntos e ainda vivem num paradigma de início do século XX”.

Para Gabriel Leite Mota, estamos a falar de uma mudança de paradigma, relacionada com o processo de desenvolvimento social, e que “se está a implantar nas sociedades mais desenvolvidas tanto aos níveis micro (das empresas) como aos níveis macro (da política e das instituições governamentais)”.

O destaque que as questões relacionadas com o bem-estar laboral têm ganho, nos últimos anos, fazem antecipar que cada vez mais gestores se interessem pelas questões da felicidade organizacional. Também por isso os estudos e inquéritos que revelem o nível de felicidade no trabalho assumem especial relevância.

O “Diagnóstico de Felicidade” dos profissionais portugueses revelou que 83% são felizes enquanto indivíduos, 66% na organização onde trabalham e 71% na função que desempenham. Este diagnóstico faz parte do estudo “Happiness Works” realizado pela consultora Horton International Portugal e foi elaborado durante o ano de 2011. Os resultados relativos a 2012 serão conhecidos no final de Junho.

Questionados sobre os aspectos que mais contribuem para a felicidade na organização, 20% dos 810 inquiridos apontou o bom ambiente interno, seguindo-se o reconhecimento e confiança (18%) e a possibilidade de desenvolvimento pessoal (16%).A remuneração adequada surge apenas em quarto lugar, com um peso de 12% no total.

Há também quem proporcione formas de calcular o nível individual de felicidade organizacional. Isto porque, apesar de se tratarem de critérios subjectivos, podem ser calculados. A Jason Associates criou a “Fórmula da Felicidade”. Para chegar ao resultado, deve somar o seu papel na empresa, ao contexto e ao sentido de propósito. As variáveis que dizem respeito ao papel são habilidades, competências, missão, recompensa e reconhecimento. Já no contexto devem ser discriminados a cultura, a fase, a localização, as pessoas-chave e o modelo de negócio. Por último, adicione o objectivo principal da empresa. É feliz no trabalho? Faça as contas.

Quatro mandamentos para uma empresa feliz

1. Manter um bom relacionamento com a equipa

Recursos humanos competentes são uma condição essencial para o sucesso da empresa. Depois de captar esses recursos, a empresa deve preocupar-se em não os deixar sair para outras empresas concorrentes. Para além dos incentivos monetários, também um bom ambiente laboral favorece um comportamento mais motivado.

2. Dar voz à equipa e envolvê-la nos objectivos

O envolvimento dos colaboradores no processo de tomada de decisão garante-lhes maior responsabilidade. Mas, ao mesmo tempo, pode funcionar como um factor motivacional. O incentivo à participação é um aspecto apreciado pelos colaboradores que aumentam o seu compromisso para o sucesso da empresa.

3. Proporcionar oportunidades de crescimento dentro da empresa

A ausência de oportunidades de crescimento dentro da empresa pode minar a motivação dos colaboradores. Ter consciência de que não terá uma maior expressão no seio da companhia, poderá levar o colaborador a não aplicar toda a sua dedicação. É importante que o gestor deixe a porta aberta para a possibilidade de crescimento.

4. Dar espaço para maiores desafios e mais autonomia dos colaboradores

Por último, mas não menos importante, a possibilidade de desenvolver projectos mais desafiantes funciona também como factor de motivação. É importante que o gestor crie um ambiente que favoreça a apresentação de projectos que vão para além das competências dos colaboradores. Dar-lhes mais autonomia é também fundamental.

Fonte: Negócios

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