Governo grego exige que o programa de austeridade seja revisto em virtude do erro reconhecido pelo FMI no ano passado no cálculo dos multiplicadores orçamentais. E terá sido apoiado pelos representantes de Portugal e Irlanda.

O assunto do “multiplicador” regressou à ribalta. Não apenas por razões técnicas, mas agora, pela primeira vez, por razões políticas concretas. O governo grego levantou o assunto nas reuniões do Eurogrupo e do Ecofim desta semana e terá tido o apoio dos representantes de Portugal e da Irlanda, diz o jornal grego “Kathimerini”.

O tema foi referido na reunião do Eurogrupo de segunda feira, com o novo presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, a referir que “foi brevemente mencionado” e que os 17 membros da zona euro “seguem com grande interesse os debates académicos”.

O presidente do Eurogrupo e, mais recentemente, Klaus Regling, diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade procuraram desvalorizar o assunto. Regling adiantou, mesmo, à cadeia Skai TV que era um tema meramente “secundário” face à situação grega na altura do resgate. Regling disse que não concordava totalmente com as conclusões do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentadas, no ano passado, no âmbito do World Economic Outlook, numa nota técnica do conselheiro económico do Fundo Olivier Blanchard. A nota técnica fez correr muita tinta e o debate académico prossegue, com artigos científicos constantes. Na semana passada foi publicado mais um.

O tema foi abordado, de novo, no Ecofin (reunião dos ministros das Finanças dos 27 membros da Uniâo Europeia) no dia seguinte.

Erro do multiplicador vai ser analisado

Quem não acha que o assunto seja meramente académico é a Grécia, segundo o jornal grego “Kathimerini”, que adianta que os membros do Eurogrupo, mais do que seguir apenas o “debate académico”, aceitaram examinar o assunto dos multiplicadores orçamentais, colocado pelo governo grego. O tema deverá ser analisado em março.

O ministro das Finanças Yannis Stournaras alegou, na reunião do Eurogrupo, que o erro reconhecido pelo FMI na avaliação do efeito negativo das políticas de austeridade justifica alguns ajustamentos ao programa de austeridade grego. O assunto será abordado nas próximas reuniões com a troika no âmbito da revisão do programa de resgate grego, que deverão iniciar-se no final de fevereiro. O ministro pretende ter esclarecimentos do FMI sobre as conclusões que efetivamente o Fundo retirou do erro. Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo, esteve presente nas duas reuniões em Bruxelas, mas não comentou o assunto.

Primeira concessão no IVA

Os gregos pretendem, nomeadamente, rever medidas prejudiciais à economia, como as subidas de IVA, refere o jornal grego, que adianta que essa será a primeira concessão política que o governo grego pretende arrancar da troika em virtude do erro de avaliação cometido no efeito recessivo das medidas de austeridade acordadas nos planos de resgate desde 2010.

No início da resposta às crises de dívida, os governantes europeus e Jean-Claude Trichet, que, então, estava à frente do Banco Central Europeu, foram influenciados pela ideia de que a austeridade teria probabilidade alta de ter efeitos expansionistas na economia e que os multiplicadores orçamentais se comportavam em época de crise e de taxas de juro muito baixas (definidas pelos bancos centrais) do mesmo modo que no período anterior de “bolha”, ou seja, que os multiplicadores seriam baixos (quer no sentido de gasto público repercutindo-se na economia real, quer na situação inversa de austeridade).

A depressão continuada na Grécia, a queda desta economia na deflação, a viragem para a depressão na maioria dos restantes “periféricos”, e o próprio contágio recessivo a toda a zona euro, com políticas de austeridade em simultâneo, mostrou que as “pressuposições” de austeridade expansionista ou de efeitos recessivos negligenciáveis não tinham qualquer suporte empírico. O FMI “legalizou” a conclusão em outubro passado. Os gregos pretendem, agora, passar do reconhecimento do erro do FMI (e dos outros responsáveis da troika) à “correção” das terapias impostas.

O mês de março vai ter uma agenda carregada para os “periféricos”. À renegociação da dívida “oficial” aos fundos de resgate europeus por parte da Irlanda e de Portugal, a Grécia juntou, agora, mais um item.

Fonte: Expresso

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