FMI também vai fazer avaliação sobre o programa português. Enquanto o relatório não chega, podem ver-se os paralelismos com Atenas.

O FMI fez ontem saber que, no final do programa português, fará uma avaliação ao mesmo, semelhante à que fez na quarta-feira ao primeiro programa da Grécia. O relatório sobre Portugal, que só será publicado lá para o final do próximo ano, na melhor das hipóteses, terá diferenças óbvias com o de Atenas. Mas, entre os vários erros e problemas identificados no programa grego, há alguns que têm um paralelismo claro em Portugal. E existem ainda outros, como a falta de coesão em torno do ajustamento e do caminho do memorando, que não se sentiram à partida para o ajustamento em Portugal, mas desde o final do ano passado se têm vindo a intensificar cada vez mais.

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Multiplicadores errados
Foi o primeiro “mea culpa” do FMI, feito ainda no ano passado, e sublinhado no relatório publicado ontem ao fim do dia: o impacto das medidas de austeridade sobre a actividade económica foi subestimado. O resultado foi desastroso: mais recessão, mais desemprego, mais dívida. O erro não aconteceu só com a Grécia, o Fundo já assumiu que também nos programas de Portugal e Irlanda se assumiram multiplicadores demasiado baixos. As previsões da ‘troika’ em Portugal foram revistas depois disso, mas ainda hoje levantam dúvidas.

2
Recessão e desemprego acima do esperado
A quebra acima do esperado do PIB e do emprego não se fica dever apenas aos multiplicadores, admite o FMI. Também faltaram medidas para ajudar a impulsionar o crescimento e o investimento no sector privado. As divergências no discurso europeu também não ajudaram a recuperar a confiança dos agentes económicos, sustenta o Fundo. O mesmo é aplicável a Portugal, onde as críticas à falta de medidas de crescimento no programa têm sido muitas. Só agora, com a recente mudança no discurso europeu, em prol do crescimento, se começa a dar mais atenção a temas como o investimento.

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Demasiadas medidas do lado da receita
“O ‘mix’ do ajustamento parece ter demasiada receita para uma crise orçamental que foi provocada pela despesa”, lê-se no relatório sobre a Grécia, que acrescenta que os impostos foram aumentados várias vezes além do previsto inicialmente no programa. Também aqui há um paralelismo com o que tem acontecido em Portugal, onde, desde a chegada da ‘troika’, o défice tem sido reduzido sobretudo à custa de mais receita. Além disso, as metas do défice têm sido atingidas à conta de medidas temporárias. Este ano, a quase totalidade da consolidação prevista no Orçamento do Estado e no Rectificativo volta a fazer-se via aumento da receita.

4
dívida acima do previsto
Washington torna claro que se assumiu desde o início que a dívida ia “ficar muito elevada por muito tempo”, mas que “superou em larga escala” as previsões. O mesmo se tem verificado em Portugal, onde as previsões para a dívida pública têm sido sucessivamente revistas (ver gráfico), prevendo-se agora que o pico seja de 123,7% do PIB, atingido em 2014. A grande diferença de Portugal face à Grécia é que, à altura do resgate a Atenas, o FMI já considerava a dívida helénica como sendo insustentável, porque já estava acima dos 120% do PIB. Em Portugal não era esse o caso, tendo o cenário acabado por se deteriorar já com o programa em marcha.

5
Banca parecia sólida mas ficou vulnerável
Ao contrário da Irlanda, onde a crise foi despoletada pelo sistema financeiro do país, na Grécia a banca parecia ter uma posição sólida. Mas o agravar da recessão, a diminuição da liquidez e o deteriorar das tensões em torno da dívida soberana tornaram o sector bancário mais vulnerável. O mesmo aconteceu em Portugal, onde a banca parecia estar mais ou menos sólida mas, até à data, quatro bancos já tiveram de recorrer à ajuda estatal para se recapitalizarem e irem ao encontro das regras comunitárias.

Fonte: Económico

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