Investimentos da Galp no Brasil ensombrados pelas consequências do escândalo de corrupção na Petrobras.

Os reflexos do escândalo de corrupção na Petrobras ganham, cada vez mais, contornos internacionais. A petrolífera estatal brasileira, parceira da Galp em numerosos projectos de exploração e produção de petróleo neste mercado, está a ser alvo de várias acções judiciais colectivas nos EUA.

Estas iniciativas seguem-se à confirmação por parte da Petrobras de que foi notificada pela Securities and Exchange Comission (SEC), o regulador do mercado de capitais norte-americano, para facultar documentos relacionados com a investigação ao alegado desvio de 10 mil milhões de reais (3,1 mil milhões de euros) para pagamento de subornos a diversos partidos políticos. Um esquema que terá prejudicado os investidores. A Polícia Federal brasileira realizou, nas últimas semanas, numerosas detenções relacionadas com a chamada operação ‘Lava-Jato’.

O próprio Departamento de Justiça dos EUA tinha já aberto uma investigação criminal contra a Petrobras relativa às denúncias de corrupção na companhia.

Esta semana duas empresas de advocacia norte-americana, a Wolf Popper LLP e a Rosen Law Firm, decidiram avançar com acções colectivas, em Nova Iorque, para proteger os interesses dos investidores que possuem ADRs American Depositary Receipts (ADR) listados na bolsa de Nova Iorque. Estes processos acabaram por atrair também numerosos fundos de investimento brasileiros.

Segundo analistas financeiros, cerca de 40% de todos os negócios com papéis da Petrobras em todo o mundo passam actualmente pelo mercado norte-americano, havendo receios de que estes possam vir a ser suspensos. Os ADRs da Petrobras caíram 46% entre Setembro e o final de Novembro, passando de 19,38 dólares para 10,50 dólares.

Estas empresas de advocacia defendem que a Petrobras divulgou informações enganosas que terão penalizado as contas da petrolífera.

As acções colectivas norte-americanas pautam-se normalmente pela sua celeridade, já que muitas acabam em acordos financeiros para evitar o julgamento.

O processo da SEC pode igualmente levar a multas milionárias. Exemplo disso, foi o pagamento de 400 milhões de dólares pela petrolífera francesa Total para fechar com o regulador norte-americano um processo de pagamento de luvas.

A petrolífera brasileira, cujas contas do terceiro trimestre deste ano continuam por publicar por recusa de validação do seu auditor, tem pela frente vários desafios para solucionar este imbróglio.

Diversas fontes do mercado financeiro apontam para a necessidade de venda de activos no exterior, subida dos preços dos combustíveis no mercado brasileiro, ou o lançamento de uma nova emissão de acções, a par da redução do montante de investimento programado.

A ensombrar a Petrobras encontra-se ainda a queda do preço do petróleo nos mercados internacionais. Actualmente nos 63 dólares o barril, o crude recuou para níveis de 2009, aproximando-se da fasquia mínima dos 60 dólares apontada como crucial para garantir a viabilidade económica da produção no pré-sal brasileiro.

A confirmarem-se cortes no plano de investimento ou o adiamento no desenvolvimento dos projectos no pré-sal, estas decisões terão impacto no plano de investimentos da Galp.

A Petrobras é a operadora de todos os blocos petrolíferos em que o grupo português participa na Bacia de Santos e para onde canalizará a esmagadora maioria dos 7,5 mil milhões de euros do seu programa de investimentos para 2014-2018.

 

Fonte: Económico

Comentários

comentários